Discurso no Senado Federal

CONSIDERAÇÕES SOBRE A DEMISSÃO DO SR. PERSIO ARIDA, PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL DO BRASIL.

Autor
Carlos Wilson (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PE)
Nome completo: Carlos Wilson Rocha de Queiroz Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
BANCOS.:
  • CONSIDERAÇÕES SOBRE A DEMISSÃO DO SR. PERSIO ARIDA, PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL DO BRASIL.
Publicação
Publicação no DCN2 de 09/06/1995 - Página 10154
Assunto
Outros > BANCOS.
Indexação
  • CRITICA, SAIDA, PERSIO ARIDA, PRESIDENCIA, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN).
  • ELOGIO, TRABALHO, COMPETENCIA, PERSIO ARIDA, EX PRESIDENTE, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), PARTICIPAÇÃO, CRIAÇÃO, MANUTENÇÃO, PLANO, REAL, TENTATIVA, COMBATE, INFLAÇÃO, PAIS.
  • APOIO, DECISÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, NOMEAÇÃO, PERSIO ARIDA, ECONOMISTA, CONSULTORIA, NATUREZA ECONOMICA, GOVERNO FEDERAL.

O SR. CARLOS WILSON (PSDB-PE.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é lamentável, sob todos os pontos de vista, a saída de Pérsio Arida da direção do Banco Central. Economista brilhante e, apesar de ainda jovem, dono de grande experiência, Arida foi, como se sabe, um dos criadores do Plano Cruzado, a primeira tentativa mais consistente, nos últimos tempos, de dar cabo da inflação no Brasil.

Foi também responsável pela criação da URV, mecanismo que permitiu a implantação do Plano Real, do qual foi um dos principais arquitetos, sem a utilização do clássico e malfadado mecanismo do congelamento de preços.

No que diz respeito ao Plano Real, de longe a tentativa mais bem sucedida no combate à nossa histórica inflação, Arida não só participou de sua criação, como também foi, à frente do Banco Central, um exímio gerenciador das medidas necessárias à manutenção de seus resultados, muitas vezes à custa de impopularidade e de grande desgaste pessoal.

Não sou amigo do Presidente do Banco Central, nem recebi procuração para defendê-lo, aqui desta tribuna, mas sou testemunho da correção e da competência com que se conduziu neste período à frente daquela Instituição.

Todos vimos quando, aqui, no Congresso Nacional, sob a grave acusação de ter sido o responsável pelo vazamento de informação privilegiada, por ocasião da mudança da política cambial, convenceu a tantos quantos assistiram à exaustiva inquirição que lhe foi feita por Deputados e Senadores, especialmente pelo brilho e pela serenidade com que a tudo respondeu, a despeito da delicadeza do momento que vivia.

Um dos criadores da polêmica de então, o Deputado Delfim Netto, veio a público, na última sexta-feira, para afirmar sua crença na integridade de Pérsio Arida. O deputado paulista reconheceu que, por motivos éticos, o economista acabou tendo que defender, naquele episódio, uma posição que nem era a sua. Colocava o sucesso do Plano Real acima de tudo.

Não foi outra sua postura, uma postura digna, ao longo do tempo em que presidiu o Banco Central. E sai dignamente, oi Sr. Pérsio Arida, da Presidência daquela Instituição, defendendo, como sempre, o Plano que criou e os interesses maiores da Nação. Soube aguardar, com tranqüilidade, o momento certo de sair, de modo que sua demissão, já decidida há muito tempo, não provocasse qualquer arranhão no plano econômico em curso ou qualquer turbulência no mercado.

Muitas foram as causas atribuídas à sua saída da equipe econômica do Governo Fernando Henrique Cardoso: o trauma das acusações de vazamento de informações, suas supostas divergências com o Ministro Pedro Malan, as pressões contra a política de juros altos que defendeu e suas divergências, com o Governador Mário Covas, em torno do destino do Banco do Estado de São Paulo. Talvez mesmo o somatório de tudo isso ou, quem sabe, as razões de ordem pessoal, alegadas pelo próprio Pérsio Arida, tenham determinado sua decisão.

Entretanto, quaisquer que tenham sido seus motivos, é fundamental frisar, não se pode governar com fraqueza, especialmente quando ela se manifesta sob a forma de intransigência. E se houve algo que Arida compreendeu muito bem foi isso. Sua única atitude intransigente foi em defesa do Plano Real, da população mais pobre deste País, vitimada a cada dia pela inflação, e - repito - dos mais altos interesses nacionais.

O Banco Central fica sem um funcionário digno e capaz, dessas pessoas que têm raro espírito público e competência de sobra para o cargo que ocupam. Mas para nossa sorte, Arida continuará, a pedido do Presidente Fernando Henrique, atuando como consultor econômico do Governo.

De qualquer modo, sua contribuição já foi dada e, felizmente, mostra seus efeitos. Os números da inflação divulgados esta semana não deixam dúvida. O Plano Real, que ele soube defender com tanta determinação, vai se consolidando a cada dia. E, a despeito dos pessimistas e dos que desejam perpetuar privilégios, o País avança na direção de dias melhores para todos, como bem o sonhou - e para o que tanto trabalhou - Pérsio Arida.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 09/06/1995 - Página 10154