Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM AO JORNALISTA CARLOS CASTELLO BRANCO.

Autor
Antonio Carlos Magalhães (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: Antonio Carlos Peixoto de Magalhães
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM AO JORNALISTA CARLOS CASTELLO BRANCO.
Publicação
Publicação no DCN2 de 23/06/1995 - Página 10759
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, CARLOS CASTELLO BRANCO, JORNALISTA, ESTADO DO PIAUI (PI).

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL-BA. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente José Sarney; Sr. Vice-Presidente da República Marco Maciel; Srª Elvia Lordello Castello Branco; Srªs e Srs. Senadores; Srs. Embaixadores; Srs. Ministros; Srs. Deputados; senhoras e senhores, "não morre quem morre para viver de novo", disse São Jerônimo.

Não morre quem vive todos os dias, como é o caso de Carlos Castello Branco. Vive todos os dias na imprensa brasileira, porque todos os dias não há leitor que, lendo a "Coluna do Castello", não relembre o jornalista brilhante que ocupava aquele espaço, mesmo que ainda hoje venha o sucessor, por ele indicado, realizando um bom trabalho. Mas ninguém esquece o titular de sempre que foi e continua sendo Carlos Castello Branco.

Não morre para quem, como nós, convivemos com Castello e, todos os dias, relembramos o seu nome quando queremos citar um jornalista primoroso a quem consideramos o papa do jornalismo brasileiro contemporâneo. Ninguém disso duvida, até porque todos sabem que ele foi o mais isento dos jornalistas brasileiros e o mais influente deles, justamente por sua isenção.

A sua competência definida por todos encontrou, a meu ver, a melhor definição em Tristão de Athayde, quando disse: "O mais influente jornalista do século no País, porta-voz do bom senso". Completa esse pensamento Odylo Costa Filho "numa prosa do cotidiano feita de nervo e cristal".

Realmente, as duas definições, de Tristão de Athayde e de Odylo, completam o perfil, em poucas palavras, de Carlos Castello Branco. Ninguém melhor do que esse homem, em 54 anos de exemplar atividade jornalística, neste País, pode a ele se comparar, mesmo nos dias de hoje ou no passado.

Todos que conviveram com Castello - e foi um mundo de pessoas: literatos, pintores, poetas, jornalistas e políticos - viam em Castellinho uma figura diferente, pela sua capacidade de apreensão, de sua memória e, ainda, pela maneira de informar com correção e, sobretudo, com profecia. Era um profeta da política.

Castello tinha a comunicação direta do público com o País. Ele foi a voz do Congresso - daí porque, Sr. Presidente, nada mais justo do que esta sessão hoje. No recesso de 1969. Quando o Congresso fechou, a "Coluna do Castello" não deixou o Congresso fechado, que passou a existir através da sua Coluna. Bastava isso para que ele fosse homenageado praticamente todos os dias nesta Casa, como V. Exª faz hoje, por iniciativa do Senador Pedro Simon, nesta sessão especial, que é uma sessão à memória de quem, todos os dias, homenageou a democracia no Brasil.

Era o milagre da inteligência, da força moral de quem já estagiara no regime de exceção de 1937, no Estado Novo, na sua Minas Gerais, vindo do Piauí, acompanhado de duas figuras: um foi ser Governador e hoje é nosso colega, o Senador Francelino Pereira; e o outro, um diplomata notável, Expedito Resende, seu amigo fraterno, a quem também homenageio nesta hora, fazendo justiça a um dos maiores diplomatas de todos os tempos do Itamaraty.

Expedito Resende, também um amigo fraterno e companheiro de todas as horas, inteligente como ele, era uma convivência que Castello cultivava e que era motivo de satisfação para ambos e para todos que conviviam com os dois. Posso dizer que Minas lucrou bastante com esse apoio do Piauí à terra mineira.

Nós que vivemos os momentos mais contemporâneos da vida de Castello, do jornalista e do homem - V. Exª, Sr. Presidente, até mais do que eu, tenho que lhe fazer justiça -, vimos o homem na sua plenitude, na grandeza do seu caráter, na sua altura física pequena, mas grande na sua estatura moral, e assistimos a sua dor, o seu sofrimento, naquela triste tarde de domingo em 1976, quando perdeu o seu filho, toda a dor por que passou, o silêncio que carregou por muito tempo e que teve como companheira, aqui presente, a amiga de todas as horas, motivo também de nossa homenagem no dia de hoje, Elvia Castello Branco.

Nós que vivemos com ele, vimos um Castello por muito tempo triste. Nós que íamos a sua casa, pensávamos até que ele não se reabilitasse; mas ele foi forte e encontrou na esposa o pilar, e nos amigos a força para se reabilitar e voltar a ser maior do que era, como jornalista, numa hora em que o Brasil tanto necessitava dele.

E assim vimos um outro Castello, que, depois do sofrimento, passou a brincar com a dor e com a morte, a encarar com coragem o momento final que, muitas vezes, se aproximava. Foram vários os momentos difíceis em que a sua saúde cambaleava, mas que a força íntima, interior, a sua capacidade e, talvez, a força dos seus amigos, Deus e o Brasil que tanto dele precisava, todas essas forças juntas fizeram com que ele vivesse o bastante para ajudar o País numa fase difícil da sua democracia. E viveu. E viveu e serviu. E serviu bem à Nação brasileira. Isso é muito importante.

Estamos aqui hoje para prestar uma homenagem a essa figura notável de Carlos Castello Branco, dizendo, como disse Marcos Sá Correia, seu discípulo: "Eu comecei a ler Castello antes de ler jornal. Ele ajudava a tornar a política do Brasil mais amena. Na véspera de ele ser internado, eu o visitei e ele somente queria conversar sobre política: já tinha lido tudo, sabia de tudo o que estava acontecendo. Eu já fui seu redator-substituto e, a mim, parecia que Castello tinha uma produção automática. O seu texto era exemplar, parecia iluminado. E, por esses motivos, ele ajudou muito a atrair leitores para o jornal. Muita gente começava a entender o dia lendo Castello."

Realmente o Jornal do Brasil começou a ter força, exclusivamente naquela época, por causa de Castello: muita gente comprava o jornal para saber o que ocorria ou o que ia ocorrer no Brasil por causa da Coluna do Castello. O que Marcos Sá Correia disse era uma verdade que milhões de brasileiros podiam, naquele instante, ratificar.

"A isenção de Castello era o símbolo do que deve ser um colunista político. Sempre teve a visão do escritor sem demonstrar raiva ou paixão por seus personagens. Era um grande amigo, uma pessoa doce e incorruptível. Convivia de maneira civilizada com todos, sem deixar, porém, que a amizade perturbasse a sua visão crítica." Foi o que disse Evandro de Andrade, de O Globo, também seu amigo, num depoimento que considero perfeito em relação a Castello e a melhor definição de tantas que li.

E Castello dizia algo que correspondia a tudo isso: "O jornalista político não deve se engajar. O engajamento é natural das ditaduras."

Por isso, ele não se engajava, conversava com Sarney, com Leitão de Abreu, com Golbery, com Thales, com Marco Maciel, comigo, com Luiz Vianna, como conversava, no passado, com Adauto, Baleeiro, Bilac, mas a opinião era sua e era sempre a que mais correspondia ao que o povo desejava para o Brasil. Ele foi sempre forte, por isso, foi sempre isento e sempre o grande jornalista.

Por tudo isso podemos repetir hoje o que disse São Jerônimo: ele não morreu; quem morre e vive todos os dias, como Castello, continua vivo, na nossa memória, na memória do Brasil e, sobretudo, no Congresso Nacional.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente. (Palmas)


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 23/06/1995 - Página 10759