Discurso no Senado Federal

CRITICAS A POLITICA MONETARISTA DO GOVERNO. INCREMENTAÇÃO DA ATIVIDADE PRODUTIVA PELO BANCO DO BRASIL E BNDES.

Autor
Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • CRITICAS A POLITICA MONETARISTA DO GOVERNO. INCREMENTAÇÃO DA ATIVIDADE PRODUTIVA PELO BANCO DO BRASIL E BNDES.
Publicação
Publicação no DCN2 de 28/06/1995 - Página 11101
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • CRITICA, EXCESSO, LIBERALISMO, POLITICA MONETARIA, GOVERNO FEDERAL.
  • DEFESA, NECESSIDADE, IMPLEMENTAÇÃO, RECUPERAÇÃO, CAPACIDADE, INVESTIMENTO, ESTADO, PROJETO, INCENTIVO, CRESCIMENTO ECONOMICO, REDISTRIBUIÇÃO, RENDA, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, POPULAÇÃO, AMPLIAÇÃO, PODER AQUISITIVO, ASSALARIADO, SUJEIÇÃO, PARTICIPAÇÃO, CAPITAL ESTRANGEIRO, CONTROLE, CONGRESSO NACIONAL, REFORMULAÇÃO, SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL, VIABILIDADE, BANCO DO BRASIL, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), APOIO, ATIVIDADE, PRODUÇÃO.

O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB-PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, reitero a pergunta do texto de Lewis Carroll: "Onde fica a saída?" "Depende." "Depende do quê?" "Depende de para onde você quer ir."

A política monetarista e a visão extremamente liberal do Governo tem revelado equívocos de porte razoável que, progressivamente, retiram credibilidade de suas intervenções.

O projeto liberal não contempla, no Brasil, a hipótese de uma sociedade de massas. Atrás das medidas monetaristas se esconde, com a complacência da grande mídia, a angústia de milhões de brasileiros.

A crise não pode ser combatida apenas com instrumentos monetários e fiscais. É preciso implementar uma estratégia de crescimento que integre os brasileiros, que redistribua rendas e crie uma sociedade de consumo de massas.

Desde já, fica claro que esse projeto não exclui a participação do capital estrangeiro, sujeito ao controle da sociedade brasileira e a parâmetros definidos pelo Congresso Nacional. É fundamental recuperar a capacidade de investimento do Estado no setor social e em projetos estratégicos.

Escolhendo a via não liberal, caberá ao Estado identificar fontes para o financiamento de projetos estratégicos e, com sua determinação, indicá-los ao setor privado. Esses projetos devem se destinar à melhoria das condições de vida da população pobre, reduzindo os custos da produção e circulação dos bens-salário, e, portanto, ampliando o poder de compra dos assalariados.

No contexto de uma sociedade de consumo de massas, o Estado participa também dos ganhos de produtividade e do crescimento da economia, e isso é fundamental diante das disparidades e das exclusões sociais. O Estado deve se reforçar como agente de investimento e de planejamento e a proposta de crescimento deixa, então, de ser uma agenda de políticas sociais para condicionar o desenho do crescimento de setores produtivos privilegiados.

Entre os setores estratégicos, destacamos o apoio à agropecuária, pela capacidade de dar suporte e respostas rápidas a estímulos com uma política efetiva de garantia de preços mínimos e de crédito adequado. O setor agropecuário é fundamental para a elevação dos salários reais e a expansão do consumo, sintonizando-se com a proposta geral de retomada do crescimento. Não é mais possível a continuação de políticas agropecuárias volúveis, erráticas e inconseqüentes.

Destaque especial deve ser dedicado a um conjunto de bens básicos de consumo, constantes da cesta básica, para os quais devem ser desenvolvidas políticas específicas para toda cadeia produtiva, com vistas à obtenção de uma oferta crescente, a preços estáveis. A produção de bens-salário deve ser complementada pela elevação dos gastos sociais do setor público para melhorar a qualidade dos serviços, sua eficiência e padrão de gerenciamento, para voltá-los à apropriação das famílias que não podem adquiri-los no mercado.

Os pressupostos de um crescimento com tranqüilidade social estabelecem o clima necessário e próprio para a modernização da economia nacional. A reforma do sistema financeiro é condição importante para efetivação desses objetivos. A restauração do crédito público para investimentos e direcionamento do setor privado para o apoio às atividades produtivas reais é fundamental e não as atividades especulativas.

O Banco do Brasil e o BNDES, fortalecidos financeiramente, devem bancar programas estratégicos de apoio à atividade produtiva, sinalizando o comportamento do setor bancário privado. Esta atuação será tanto mais sentida quanto maiores forem os ganhos do combate à inflação.

Essas são as linhas gerais do Projeto de Desenvolvimento Não Liberal. Tudo isso supõe, no entanto, articulação entre aumentos de salário, produtividade e consumo de bens duráveis e de bens de capital, ou seja, a configuração de uma política industrial e tecnológica, bem como sua articulação com o capital produtivo nacional.

É fundamental recuperar a idéia de macroprojetos que tenham por objetivo melhorar os custos, desde a produção até os mercados de consumo dos bens que integram ou influenciam os custos da cesta básica. Macroprojetos estratégicos, abertos à iniciativa privada e pública, como, por exemplo, projetos de transporte ferroviário de cargas, transporte fluvial de cargas, rodovias complementares, serviços portuários, oleodutos, gasodutos, aceleração da exploração das jazidas de petróleo encontradas no litoral e sistemas de estocagem e armazenagem de produtos agrícolas localizados junto aos centros produtores, como apoio à ampliação da oferta agrícola. Reduzir custos de transporte dos centros de produção ou de consumo dos bens agrícolas e agroindustriais e dos derivados de petróleo com influência decisiva sobre o poder de compra dos assalariados urbanos. Enfim, um conjunto de projetos articulados como fatores de impulso do crescimento econômico.

Alice pergunta ao gato, no País das Maravilhas, de Lewis Carroll: "Onde fica a saída?" E o gato responde: "Depende." "Depende do quê?" - retruca Alice. "Depende de para onde você que ir."

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 28/06/1995 - Página 11101