Discurso no Senado Federal

COMEMORAÇÃO DO 1 ANO DO PLANO REAL, ANUNCIO DE DEMISSÕES DE FUNCIONARIOS DO BANCO DO BRASIL.

Autor
Epitácio Cafeteira (PPR - Partido Progressista Reformador/MA)
Nome completo: Epitácio Cafeteira Afonso Pereira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • COMEMORAÇÃO DO 1 ANO DO PLANO REAL, ANUNCIO DE DEMISSÕES DE FUNCIONARIOS DO BANCO DO BRASIL.
Aparteantes
Lauro Campos.
Publicação
Publicação no DCN2 de 04/07/1995 - Página 11558
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • QUESTIONAMENTO, INCOERENCIA, DECLARAÇÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, SOLENIDADE, ANIVERSARIO, PLANO, REAL, DEFESA, PRIORIDADE, JUSTIÇA SOCIAL, SIMULTANEIDADE, DIVULGAÇÃO, JORNAL, CORREIO BRAZILIENSE, DISTRITO FEDERAL (DF), DECISÃO, BANCO DO BRASIL, DEMISSÃO, SERVIDOR, CUMPRIMENTO, PROGRAMA, DESLIGAMENTO, VOLUNTARIO.

O SR. EPITACIO CAFETEIRA (PPR-MA. Como Líder. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, no dia 1º de julho próximo passado, compareci à solenidade do primeiro aniversário do Real, cuja festa foi noticiada pelos jornais de Brasília. Publicou-se, inclusive, uma foto do Presidente da República com os olhos rasos d`água. Realmente, eram verdadeiras; vi o Presidente com lágrimas nos olhos festejando o primeiro aniversário do Real e pedindo o apoio da Oposição. Dizia Sua Excelência, naquela hora, que daria ênfase ao social - isso está publicado.

Também está publicado, Sr. Presidente, no Correio Braziliense de sexta-feira, que o Banco do Brasil promete demitir até 15 mil funcionários. Era uma notícia de jornal; mas, no final da semana, recebi do Sindicato dos Bancários uma cópia do Programa de Desligamento Voluntário. Está confirmada a informação de que querem dispensar cerca de 15 mil funcionários.

Quero fazer uma reflexão e pedir uma ponderação ao Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, cujos olhos ficaram cheios de lágrimas de alegria e satisfação. Sua Excelência precisa saber, entretanto, que em muitas famílias os olhos estão cheios de lágrimas de preocupação, de receio, de medo e pavor do desemprego.

Digo isso, Sr. Presidente, porque, considerando-se que os atuais juros altos permitem uma boa receita para todos os bancos e, ainda assim, o maior banco deste País propõe-se a demitir de 15 mil a 17 mil funcionários, é de se indagar: o que farão os outros bancos? O que farão as firmas que estão no vermelho em seus negócios de compra e venda? Será que não irão também demitir funcionários, a exemplo do Banco do Brasil?

Pergunto-me, então, que ênfase ao social é essa que faz com que o Presidente fique com os olhos rasos d`água pelo sucesso do Real enquanto seus subordinados demitem chefes de famílias?

Nesse Programa de Desligamento Voluntário do Banco do Brasil há algo mais deprimente ainda: cria-se um serviço para atender àqueles que saírem e dentre outras coisas que pretendem fazer, há uma que parece um deboche, qual seja, propõe-se ensinar aos que saírem a fazerem seus currículos a fim de que possam pedir novos empregos na praça. Isso para mim é deboche. Isso não tem sentido diante da festa a que assisti no dia 1º de julho, quando o Real completou seu primeiro ano de vida.

O Sr. Lauro Campos - V. Exª me permite um aparte, nobre Senador Epitacio Cafeteira?

O SR. EPITACIO CAFETEIRA - Pois não, nobre Senador Lauro Campos.

O Sr. Lauro Campos - Muito obrigado, Senador. Eu não poderia silenciar-me e deixar de apoiar e enaltecer a postura de independência e o momento de lucidez a que assistimos em seu pronunciamento. Realmente, não podemos considerar apenas o Banco do Brasil mas também o Ministro Bresser Pereira, que, de marxista em 1986 passou a ser marxweberiano atualmente, afirma que vai demitir oitenta mil funcionários públicos. Infelizmente, Senador, o Presidente da Caixa Econômica Federal bate na mesma tecla, segue o mesmo ritmo e promete fechar centenas de agências da Caixa Econômica.De modo que V. Exª se manifesta num momento em que há um temor muito grande por parte da sociedade brasileira, tendo em vista o aumento galopante do número de desempregados existentes no Brasil.Há poucos dias, o Presidente Fernando Henrique Cardoso comunicou, sorridente, que o SIVAM iria criar vinte mil novos empregos. Que coisa fantástica: Vinte mil novos empregos! Mas isso foi em conversa com o Presidente Bill Clinton, e esses vinte mil novos empregos seriam criados nos Estados Unidos. Muito obrigado.

O SR. EPITACIO CAFETEIRA - Agradeço o aparte de V. Exª. Quero acrescentar algo mais, Sr. Presidente. Juscelino Kubitschek de Oliveira, quando deixou o Governo deste País, disse: "Não conhecia o potencial e a capacidade dos funcionários do Banco do Brasil. Se tivesse conhecido antes, teria me assessorado muito mais com o pessoal do Banco do Brasil".

Todos os Governos trabalharam com funcionários do Banco. E dentro desse Programa de Desligamento Voluntário, Sr. Presidente, há um ponto para o qual se deve pedir a atenção especial do Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Os que se pretende convidar para um desligamento voluntário são os funcionários com mais de quatorze anos e com menos de vinte e oito anos de casa, ou seja, o pessoal melhor preparado, a mão-de-obra melhor qualificada. Essa é a mão-de-obra que o Banco do Brasil pretende colocar para fora, nas ruas, oferecendo dinheiro, mas dinheiro que vai se acabar em pouco tempo. E o emprego que sustenta 15 a 17 mil famílias vai por água abaixo.

Não estou falando, Sr. Presidente, apenas como ex-funcionário do Banco do Brasil. Isto também está naturalmente embutido em mim, porque disso não posso me despir, vez que passei minha vida trabalhando naquela casa. O que me causa espécie é esse quadro que se desenha. É para ele que peço a atenção do Presidente, que ficou com os olhos rasos d`água de alegria, peço que Sua Excelência pense nas famílias que estão com os olhos rasos d`água de temor, de pavor, de medo do desemprego que o maior Banco deste País vai promover na hora em que se comemora a passagem de um ano do Plano Real.

Seria o caso de perguntar: vale a pena comemorar o Real? Será que o Real é tão importante, que o valor da pessoa humana desapareça, que o social desapareça? Será tão importante o Real, que, amanhã, estejamos num País de desempregados? Será que queremos fazer um País para o seu povo ou pretendemos fazer um novo povo para este País?

Sr. Presidente, esse questionamento me assalta. Não poderia deixar de registrá-lo no dia de hoje.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 04/07/1995 - Página 11558