Discurso no Senado Federal

CONSOLIDAÇÃO DA POLITICA ECONOMICA DO GOVERNO COM O PLANO REAL.

Autor
Bello Parga (PFL - Partido da Frente Liberal/MA)
Nome completo: Luís Carlos Bello Parga
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • CONSOLIDAÇÃO DA POLITICA ECONOMICA DO GOVERNO COM O PLANO REAL.
Publicação
Publicação no DCN2 de 04/07/1995 - Página 11604
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • ANALISE, EFICACIA, RESULTADO, PLANO, REAL, RESPONSABILIDADE, GOVERNO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CONSOLIDAÇÃO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, ESTABILIZAÇÃO, MOEDA, GARANTIA, PAZ, ESTABILIDADE, CRESCIMENTO ECONOMICO, PAIS.

O SR. BELLO PARGA (PFL-MA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, assomo à tribuna do Senado no dia de hoje com muita satisfação em ver que o País atravessa um momento feliz, com a consolidação da sua política econômica e a estabilização da nossa moeda. Satisfação porque pertenço a um Partido que apoiou a bandeira desfraldada pelo então candidato Fernando Henrique Cardoso das reformas estruturais da sociedade brasileira. Sinto-me feliz porque o meu Partido, o Partido da Frente Liberal, dá sustentação política ao programa de reformas do Presidente Fernando Henrique Cardoso no Congresso Nacional.

O real completou um ano. Todos vêem nele uma moeda forte, sadia, vigorosa, confiável. Contam os que viajam aos países vizinhos que, no comércio de algumas cidades limítrofes, prefere-se o real ao dólar. Negócios, contratos, compras de qualquer natureza são realizadas em real, inclusive as de imóveis e de outros bens de grande valor. O brasileiro pode ter seu dinheiro no banco sem ter a dolorosa sensação de perdê-lo a cada dia. As filas desapareceram - e eram muitas -: a fila do posto de gasolina em dia de aumento, a fila do banco para aplicação e a fila do tíquete, a fila disso e daquilo.

Os bens, sejam os de consumo, sejam bens duráveis, estão disponíveis, não se registrando queixa de estocagem com fim especulativo; não há o mínimo sinal de desabastecimento em qualquer setor, com exceção daqueles em que a fabricação dos produtos seja afetada por greves. Há uma calma, uma tranqüilidade na vida econômica, no comércio, nas relações comerciais, em qualquer nível ou escala, que nos deveria surpreender, porque este cenário ora descrito é completamente diverso daquele, no qual interagiam os atores econômicos e o cidadão privado há um ano.

Antes do real reinava o pandemônio nos preços, nos índices, nos negócios, na vida comercial e na vida familiar. A desorientação, o tumulto era total. Era os tempos de inflação, com a qual o País vinha convivendo há mais de trinta anos, ora contida a duras penas e por pequenos intervalos de tempo, ora galopante, como aconteceu em diversas ocasiões. Em junho de 1994, a inflação medida pelo IPC-FIPE foi de 50.75%. A de maio último foi de 1.97%. Nos cinco primeiros meses do ano passado, os preços subiram 484%. A inflação era um doença da economia que molestava a saúde social e psicológica de toda a Nação. Os prejuízos de toda ordem, o desgaste físico e emocional de toda a gente, causados pela instabilidade delirante da moeda, tornavam essa questão crucial e absolutamente prioritária para todos, indiferentemente de classe social ou região geográfica. Era a principal cobrança que se fazia ao Governo: o fim da inflação - o pesadelo dos pesadelos, a catástrofe cotidiana, que minava as energias e solapava as esperanças de todo o País.

Enfrentando a incompreensão, o pessimismo e a descrença de muitos, o real foi implantado, antecedido pela URV. Foi, em seguida, assimilado e incorporado à vida econômica e social do País como um extraordinário benefício, que a todos favorece e a ninguém prejudica, a não ser, evidentemente, àqueles que, aproveitando-se da dificuldade comum, auferiam lucros extraordinários, resultantes de hábeis manipulações de mercado e de mecanismos bancários ou extrabancários: as viúvas da inflação, que até hoje choram, lamentam e revoltam-se, de forma dissimulada, a perda do privilégio exorbitante que o real extinguiu.

O real foi e continuará a ser uma conquista do povo brasileiro. Há que se reconhecer que o Presidente Fernando Henrique Cardoso e os formuladores do Plano Real merecem todo o crédito por liderar a implantação do real. Mas hoje ele é de todos os brasileiros.

Mesmo vivendo num país profundamente crente, sabemos bem que milagres administrativos não existem. Se países como Israel, México, Argentina e Chile, considerados nações de alto nível de civilização, são exemplos conhecidos de lutas demoradas e penosas que levaram anos para reduzir, de forma duradoura e sensível, seus níveis de inflação, com diversas tentativas frustradas, significa dizer que esta reviravolta extraordinária que nos reconduziu a patamares de inflação de países civilizados não é fruto do acaso ou de um milagre, mas de um esforço meticuloso, tenaz e permanente, o qual tem sido eficaz não só para reduzir a inflação em curto prazo, como fez, mas, também, para fazer perdurar no tempo os efeitos da estabilização da moeda.

O Governo Fernando Henrique Cardoso, diariamente, mantém-se vigilante para fazer correções necessárias e tomar as medidas cabíveis para impedir que fatores isolados venham juntar-se a outros, conjunturais ou estruturais, e comprometam a estabilidade da economia, fruto de um trabalho de fôlego e extremamente sério, que envolveu a cooperação e a vontade da Nação inteira.

A inflação que corroía diariamente o poder de compra do trabalhador é um lamentável episódio do passado, que lentamente cai no esquecimento da população. No entanto, essa grande conquista - o fim da inflação -, comemorada com tanto entusiasmo em 1994, hoje é ardilosamente ocultada do povo por um amplo e cacofônico coral de reclamações e críticas daqueles que, certamente, viviam melhor em uma cultura inflacionária ou não se preocupam com o bem-estar do povo. Caso contrário, não demonstrariam tamanho desconforto com um estado de coisas que, a rigor, aponta para uma retomada de desenvolvimento, de aumento de emprego e renda, enfim, para uma melhoria global das condições de vida e trabalho de todos os segmentos sociais.

Cabe ao parlamentar, ao líder de classe, ao formador de opinião, a meu ver, manterem-se sempre alertas quanto à necessidade vital de todos nos alinharmos em defesa do interesse comum, que se coloca acima das nossas divergências ideológicas ou partidárias, de nossas intransigências individuais ou de grupos, que é a estabilidade da moeda, garantia, em última análise, da estabilidade, da paz social e do crescimento econômico do País.

Eram estas minhas considerações, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 04/07/1995 - Página 11604