Discurso no Senado Federal

INDIGNAÇÃO PELO ASSASSINATO DO PREFEITO ENIO RICARDO GOMES, DO MUNICIPIO DE SÃO JOSE DA TAPERA, NO ESTADO DE ALAGOAS.

Autor
Teotonio Vilela Filho (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AL)
Nome completo: Teotonio Brandão Vilela Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA. HOMENAGEM.:
  • INDIGNAÇÃO PELO ASSASSINATO DO PREFEITO ENIO RICARDO GOMES, DO MUNICIPIO DE SÃO JOSE DA TAPERA, NO ESTADO DE ALAGOAS.
Publicação
Publicação no DCN2 de 04/08/1995 - Página 12799
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA. HOMENAGEM.
Indexação
  • PROTESTO, HOMICIDIO, CRIME POLITICO, ENIO RICARDO GOMES, PREFEITO, MUNICIPIO, SÃO JOSE DA TAPERA (AL), ESTADO DE ALAGOAS (AL).
  • HOMENAGEM POSTUMA, ENIO RICARDO GOMES, PREFEITO, MUNICIPIO, SÃO JOSE DA TAPERA (AL), ESTADO DE ALAGOAS (AL).

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (PSDB-AL. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, volto das Alagoas com o silêncio eloqüente e comovedor de 15 mil pessoas do Município sertanejo de São José da Tapera, que, nessa segunda-feira, foram ao enterro do Prefeito Enio Ricardo Gomes,assassinado, na véspera, ao ser metralhado próximo à sua cidade quando se dirigia de volta à sua casa, em companhia da esposa e de dois outros agricultores, que fugiram amedrontados. Só a esposa o amparou na morte. Enio, como sempre acontecia, andava desarmado, sem segurança, sem qualquer proteção. Contava, tão-somente, com o apoio e a confiança, com o respeito e a esperança de todo o seu Município de São José da Tapera.

O prefeito assassinado de São José não era de meu partido. Fico, portanto, ainda mais à vontade para registrar seu trabalho à frente de São José da Tapera. Construiu hospital e escolas, pavimentou praticamente a cidade inteira, investiu na educação e na saúde, sobretudo na assistência social, especialmente aos mais pobres. Não arredava pé de seu município, solidário com o sofrimento de seu povo. Foi honesto e, mais que isso, foi austero.

Mas nada do que se disser, nada do que se acrescentar sobre sua curtíssima vida pública, de apenas dois anos de mandato na Prefeitura, será tão expressivo, tão eloquentemente expressivo como o silêncio questionador de 15 mil pessoas no cemitério de São José da Tapera.

Foi quase a população inteira do município. A multidão em silêncio, compungida, testemunhando com sua presença a dor pela ausência irreparável, gritando com seu silêncio toda a extensão de sua dor. Quinze mil pessoas, quase toda a população do município, exigindo com a força de sua solidariedade, com a autoridade de sua união, a punição rigorosa para pistoleiros assassinos.

Infelizmente, não foi esse o primeiro crime político do ano em Alagoas, antes, outros três vereadores tombaram nos municípios de Ouro Branco, Água Branca e Mata Grande, em crimes encomendados. Infelizmente se prenuncia, com o episódio de Tapera, a dolorosa mas sobretudo vergonhosa rotina de outros anos eleitorais e pré-eleitorais, quando se eliminam à bala os adversários que não é possível derrotar no voto. Infelizmente Enio não é a primeira vítima em São José da Tapera. Há dez anos lá enterramos outro grande líder popular, também covardemente eliminado pelos que não puderam vencê-lo limpamente no voto.

O que isso nos inspira a fé e nos reforça a esperança, é que o Governador de Alagoas, Divaldo Suruagy pode exibir ao Estado e ao Brasil as mãos limpas do sangue inocente. Recuso-me a acreditar que, por seu passado, seu presente, sua postura e sua prática, Suruagy venha de alguma forma permitir que a covardia do crime de aluguel venha manchar-lhe as mãos limpas e honradas. O Governador Divaldo Suruagy de viva voz assegurou aos alagoanos que não compactuará com o crime, nem será cúmplice da omissão. Para tanto, determinou todas as providências necessárias à urgente elucidação do crime e indispensável punição dos criminosos.

O sertão, como Alagoas inteira, clama contra a violência, e grita, sobretudo com todas as forças de sua mais legítima indignação, contra os pistoleiros e sua covardia, contra os assassinos de aluguel e sua impunidade. Temos confiança em que a morte de Enio não será em vão. Temos esperança que a Justiça lavará seu sangue, para que o silêncio dos 15 mil de Tapera seja apenas a homenagem, reconhecimento e despedida, e não frustração com as instituições. Temos fé em que Alagoas saberá ouvir, no silêncio de Tapera, um grito de dor, mas sobretudo um grito por justiça.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 04/08/1995 - Página 12799