Discurso no Senado Federal

FALECIMENTO DO EX-DEPUTADO FEDERAL, PROFESSOR E SOCIOLOGO FLORESTAN FERNANDES.

Autor
Benedita da Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Benedita Souza da Silva Sampaio
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • FALECIMENTO DO EX-DEPUTADO FEDERAL, PROFESSOR E SOCIOLOGO FLORESTAN FERNANDES.
Publicação
Publicação no DCN2 de 11/08/1995 - Página 13751
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, FLORESTAN FERNANDES, EX-DEPUTADO, PROFESSOR, SOCIOLOGO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).

A SRª BENEDITA DA SILVA (PT-RJ. Como Líder. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, neste momento, em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores, gostaria de notificar a esta Casa do falecimento de Florestan Fernandes.

Florestan Fernandes: uma lição de vida, uma lição de dignidade, uma lição de ousadia.

Florestan Fernandes, Professor e Sociólogo, tendo o magistério como sua função principal, exerceu mandato parlamentar por duas vezes (a primeira de 1987 a 1991, na qualidade de Deputado Constituinte e de 1991 a 1995 em seu segundo e último mandato como Deputado Federal), pelo Partido dos Trabalhadores de São Paulo. Era pai de 5 filhas e 1 filho, avô e bisavô. Florestan Fernandes nos deu, constantemente, uma lição de vida, através de sua força de vontade e capacidade de procurar construir um dia-a-dia sob a perspectiva de mudar o Brasil, de torná-lo um País sem excluídos, um País mais justo, um País socialista.

Já preparando o seu 57º livro, é indiscutível sua contribuição dada ao pensamento brasileiro, analisando e propondo saídas sobre questões em torno da organização social e política de uma Nação, de uma sociedade de classes, seja escrevendo A Revolução Burguesa, O Negro no Mundo dos Brancos, A Educação e a Sociedade no Brasil, A Universidade Brasileira: Reforma ou Revolução, Sociedade de Classes e Subdesenvolvimento, Brasil: em Compasso de espera, e tantas outras obras que serviram e servirão sempre de base para a iniciação, o aprofundamento e para o avanço do conhecimento daqueles que pretendem conhecer nosso povo e nosso País.

Florestan Fernandes não tinha a presunção de falar ou escrever como dono de nenhuma verdade que não fosse possível de ser comprovada por realidades concretas. As pesquisava sob o resguardo completo do respeito aos grupos e indivíduos que as vivenciassem, como publicou a Revista Veja, em 09.08.95, ao comentar uma fala do brilhante sociólogo José de Souza Martins: "O mestre tirou os intelectuais do gabinete, colocando-os para pesquisar dados que sustentassem suas teorias."

Florestan Fernandes - de engraxate a grande mestre - sem dúvida, um ousado filho de empregada doméstica, D. Maria, imigrante portuguesa, não conheceu seu pai, não pôde cumprir seus primeiros anos de estudo dentro do sistema formal e regular de educação por ter de trabalhar para se manter desde criança. Foi engraxate, garçom e barbeiro, chegando à universidade após prestar exames de madureza correspondente ao Primeiro e Segundo graus de ensino.

Na entrada à universidade, foi classificado entre os primeiros em um grupo de 29 candidatos. Aos 25 anos já publicava o seu primeiro livro. Daí, no Brasil e no exterior, não foram poucos os estudiosos ilustres que beberam suas palavras e seus conhecimentos através de livros, revistas, periódicos e tantos outros instrumentos de comunicação. Um dos bons exemplos com relação a esse aprendizado é o nosso atual Presidente da República, Professor Fernando Henrique Cardoso. E o mestre Florestan tinha consciência desse seu papel, exercendo-o com orgulho e responsabilidade, a exemplo do que falou, ao cumprimentar o Presidente em sua visita ao Congresso: "Eu não crio gatos, eu crio tigres...".

Teve seus méritos muitas vezes publicamente reconhecidos, recebendo algumas condecorações como, em 1958, a Medalha Sílvio Romero; em 1961, Cidadão Emérito da Câmara Municipal de São Paulo; em 1985, Professor Emérito da Universidade de São Paulo; em 1986, Doutor Honoris Causa da Universidade de Utrecht - Holanda; em 1990, Doutor Honoris Causa da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra - Portugal.

O Partido dos Trabalhadores, com a morte de Florestan Fernandes, perde uma de suas principais fontes de luz, ficando mais pobre o Brasil, o Parlamento, a sociedade e cada um de nós.

Finalizando, Sr. Presidente, gostaria de registrar, particularmente, a emoção que tenho nessa partida, nesse momento de Florestan Fernandes, porque tive nele, no processo da Assembléia Nacional Constituinte e no processo de toda a nossa luta, a luta dos negros brasileiros, um grande parceiro, através de suas teses, suas defesas, sua parceria. Por sua construção política, ideológica e positiva, sem dúvida nenhuma, ele merece de todos nós o respeito, o carinho e por que não, essa saudade que fica. Tenho certeza de que ele foi o grande professor que conseguiu sensibilizar não apenas os intelectuais, mas os mais humildes, os mais pobres, entre eles Benedita da Silva, que, neste momento, rende uma grande homenagem, porque certamente bebi naquela fonte de sabedoria.

Era o que eu tinha a dizer.

Obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 11/08/1995 - Página 13751