Discurso no Senado Federal

CONSIDERAÇÕES SOBRE O VAZAMENTO DE INFORMAÇÕES PRIVILEGIADAS, CITADO PELA IMPRENSA, ENVOLVENDO O SECRETARIO DE ACOMPANHAMENTO ECONOMICO, SR. JOSE MILTON DALLARI.

Autor
José Eduardo Dutra (PT - Partido dos Trabalhadores/SE)
Nome completo: José Eduardo de Barros Dutra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • CONSIDERAÇÕES SOBRE O VAZAMENTO DE INFORMAÇÕES PRIVILEGIADAS, CITADO PELA IMPRENSA, ENVOLVENDO O SECRETARIO DE ACOMPANHAMENTO ECONOMICO, SR. JOSE MILTON DALLARI.
Publicação
Publicação no DCN2 de 08/08/1995 - Página 13536
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • DEFESA, NECESSIDADE, ESCLARECIMENTOS, GOVERNO FEDERAL, SENADO, OPINIÃO PUBLICA, DENUNCIA, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), RELAÇÃO, PRIVILEGIO, DIVULGAÇÃO, INFORMAÇÃO CONFIDENCIAL, NATUREZA ECONOMICA, FAVORECIMENTO, EMPRESA PRIVADA, PROPRIEDADE, MILTON DALLARI, SECRETARIO ESPECIAL, MINISTERIO DA FAZENDA (MF).
  • DEFESA, NECESSIDADE, SENADO, ADOÇÃO, PROVIDENCIA, ESCLARECIMENTOS, TRAFICO DE INFLUENCIA, DEFINIÇÃO, CLIENTE, EMPRESA PRIVADA, PROPRIEDADE, MILTON DALLARI, SECRETARIO ESPECIAL, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), ANTERIORIDADE, INICIO, ATIVIDADE, GOVERNO FEDERAL.

O SR. JOSÉ EDUARDO DUTRA (PT-SE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a Revista VEJA desta semana apresenta algumas informações relacionadas ao Sr. José Milton Dallari que exigem uma manifestação urgente por parte do Governo Federal e também por parte desta Casa.

Não é a primeira vez - neste ano já aconteceu - que surgem através da imprensa indícios de vazamento de informações privilegiadas relacionadas a autoridades do Governo Federal.

Agora, em matéria da revista VEJA desta semana e também da Folha de S.Paulo de hoje, surgem informações que, na hipótese de serem confirmadas, exigiriam o afastamento imediato do Sr. José Milton Dallari, sem prejuízo das medidas jurídicas paralelas que poderiam continuar sendo tomadas.

Segundo a Revista VEJA, "a Receita Federal tem indícios fortes - palavras da própria VEJA - de que Dallari tira vantagens econômicas, em seus negócios particulares, em função do cargo que ocupa."

A Revista menciona que a investigação que vem sendo promovida no âmbito da Receita Federal já seria do conhecimento do Secretário da Receita Federal Everardo Maciel, e que o Dr. Milton Dallari é um dos proprietários do escritório de consultoria econômica chamado Decisão, em São Paulo, há dez anos.

      O escritório Decisão tem cerca de vinte clientes, que pagam entre 1500 e 2000 dólares mensais por serviços de análise macroeconômica, tendências de mercado e contabilidade. Entre esses clientes estão alguns pesos pesados da indústria e do comércio, como a Antarctica, a Nestlé e a Associação Brasileira de Supermercados.

      O Decisão, segundo a linha de investigação da Receita, serviria como uma ponte para que informações privilegiadas transitem entre Brasília e alguns empresários.

Consultados dois Ministros do Supremo Tribunal Federal, sem saber de quem se tratava, eles emitiram pareceres informais sobre o assunto.

      Na opinião dos dois, um relacionamento como o do secretário com seu escritório aponta para um caso de conflito de interesses. "Tudo leva a crer que existe aí tráfico de influência. Pois o cliente do escritório será privilegiado ao receber opiniões econômicas de alguém que está dentro do governo", diz um desses ministros. "É uma situação inaceitável do ponto de vista ético, moral e jurídico", disse outro juiz do Supremo, ainda de acordo com a revista VEJA.

A revista VEJA ouviu o Sr. Dallari, que deu inicialmente informações de que a empresa Decisão estaria sendo gerenciada "pelo amigo Luiz Benatti, um professor de contabilidade aposentado".

Declarou o Sr. Milton Dallari à revista VEJA:

      É o Benatti quem cuida de tudo. Eu não tenho mais contato nenhum com o escritório", disse Dallari numa primeira conversa com a VEJA, na quarta-feira. Na quinta-feira, Benatti explicou à VEJA que atende a clientela quando o assunto é contabilidade, tema em que é especializado. "Recorro ao Dallari quando o trabalho é na área de preços, já que não sou especialista nisso", afirmou ele. Benatti contou ainda que exerce uma outra função. Quando empresários, clientes ou não do escritório, desejam uma audiência com o secretário, ele faz o contato. Só depois de confrontado com essa versão do contabilista Benatti foi que Dallari acabou admitindo, numa segunda conversa por telefone com a revista VEJA, na quinta-feira, que seu desligamento da consultoria Decisão não é total. "Eventualmente troco algumas idéias com o Benatti", confirmou.

Outras informações importantes, na respectiva matéria:

      A investigação sobre Dallari resultou num relatório preparado pela Receita Federal, de caráter confidencial e entregue a um número muito pequeno de pessoas. Tiveram acesso ao documento algumas autoridades de Brasília e pessoas que acompanham o caso em São Paulo.

      E o que é mais grave:

      O secretário da Receita sabe perfeitamente da investigação, conhece as suspeitas do grupo de inteligência da Receita Federal e já teve em sua mesa um dossiê contra Dallari.

Outra informação que consideramos de extrema gravidade e que deveria ser objeto de informações, por parte desta Casa, em relação a este episódio é a seguinte:

      Recentemente o escritório da inteligência da Receita na cidade de São Paulo foi arrombado. Os agentes que trabalham no assunto suspeitam que os arrombadores estavam atrás do relatório.

      A investigação sobre Dallari começou a andar em meados do ano passado, quando donos de supermercados ameaçaram aumentar seus preços e comprometer o Plano Real. O ex-secretário da Receita Osiris Lopes Filho ordenou uma devassa na contabilidade dos empresários rebeldes. Num computador da empresa de Levy Nogueira, à época Presidente da Associação Brasileira de Supermercados - ABRAS, os fiscais encontraram um contrato de prestação de serviços da consultoria Decisão com a entidade.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Sr. José Milton Dallari foi levado ao Ministério da Fazenda pelo então Ministro Fernando Henrique Cardoso, para desempenhar as funções de Coordenador de Controle de Preços ainda durante a primeira fase do seu plano econômico. Desde o início sabia-se da situação delicada que estaria sujeito qualquer um que fosse designado para desempenhar tais atividades que mantém contato direto com os empresários dos principais setores da economia e acesso a informações privilegiadas como: a estrutura de custos detalhadas de produtos, volume de vendas, estoques, canais de distribuição, entre outras.

Um Governo responsável teria a obrigação de assegurar mecanismos de proteção a essas informações a começar pela escolha de pessoas acima de qualquer suspeita para a coordenação dessa área.

As explicações veiculadas até agora pelos órgãos de imprensa são claramente insuficientes, principalmente porque o dever de explicação cabe ao Ministro da Fazenda, pois é de S. Exª a responsabilidade pela escolha do Sr. Milton Dallari, ou por saber de suas atividades privadas e não garantir procedimentos que assegurem a eliminação de tais incompatibilidades, ou por não ter tido o cuidado de procurar tomar conhecimento do caráter sigiloso das informações em questão.

Neste sentido, é necessária a convocação do Sr. Ministro da Fazenda, Pedro Malan, para comparecer ao Plenário do Senado Federal, para que se esclareça ao Congresso e à opinião pública todas as questões éticas, políticas e econômicas envolvidas no caso.

As atividades do Sr. Milton Dallari no Ministério da Fazenda têm sido questionadas em diversos momentos. Não são raros os comentários a respeito de justificativas duvidosas dadas pelo Sr. Milton Dallari para os aumentos de preços de determinados setores. Mas ao Senado não cabe analisar o conteúdo de comentários positivos ou negativos quanto ao desempenho das funções de Estado, mas sim os fatos concretos e os resultados das políticas públicas.

A matéria da revista VEJA informa-nos, também, sobre a CPI conduzida pela Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro destinada a investigar fatos relacionados com a atuação do Sr. Milton Dallari, que gerou, já em março do ano passado, pedido de afastamento encaminhado ao Ministro Fernando Henrique Cardoso, pelas suas ligações com a Associação dos Produtores e Exportadores de Carne. É fundamental que o Senado Federal solicite cópia do relatório final dessa CPI para verificarmos a procedência daquele pedido de afastamento.

O que torna mais evidente a possibilidade de tráfico de influência é a estrutura da empresa de consultoria do Sr. Milton Dallari. Segundo informações da revista Veja, tendo em vista a dimensão de seus clientes, excetuando-se um contador, não existe nenhum outro profissional técnico na empresa, o que nos leva a acreditar que o Sr. Dallari tem importância significativa nos trabalhos que ali são realizados.

O Senado Federal deve buscar meios para saber quais são os clientes da empresa antes de o Sr. Dallari iniciar suas atividades no Governo Federal e quais firmaram contratos durante esse período, sem que seja necessária a criação de uma CPI neste primeiro momento.

A Folha de S. Paulo de hoje faz outra acusação, declarando que o Sr. Milton Dallari seria o único dono de empresa de sociedade civil - o que não é permitido - justamente para obter facilidades no processo de declaração do Imposto de Renda.

É inadmissível, Sr. Presidente, Srs. Senadores, que fatos de tal gravidade até agora não tenham merecido uma explicação oficial do Governo Federal para esta Casa e para a opinião pública.

Diz a Folha de S. Paulo de hoje:

      "A assessoria do Ministro Pedro Malan (Fazenda) informou que o Governo não se pronunciaria ontem, em caráter oficial, sobre as investigações da Receita em relação a Dallari".

      O Presidente Fernando Henrique Cardoso não quis comentar o assunto ontem".

Para concluir, Sr. Presidente, Srs. Senadores, mais uma vez esperamos que esse assunto seja devidamente esclarecido pelo Governo, e que o Senado Federal tome as providências cabíveis, no sentido de ouvir todas as pessoas envolvidas nesse imbróglio, seja o Sr. Pedro Malan, seja o Sr. Everardo Maciel, seja, principalmente, o Sr. Milton Dallari.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 08/08/1995 - Página 13536