Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM POSTUMA AO JORNALISTA CEARENSE MURILO MOTA.

Autor
Lúcio Alcântara (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/CE)
Nome completo: Lúcio Gonçalo de Alcântara
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM POSTUMA AO JORNALISTA CEARENSE MURILO MOTA.
Publicação
Publicação no DCN2 de 30/06/1995 - Página 11343
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, MURILO MOTA, JORNALISTA, ESTADO DO CEARA (CE).

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, morreu em Fortaleza uma das figuras marcantes de um dos períodos mais ricos da história jornalística do Ceará, aquela que decorreu entre os anos que precederam a Segunda Grande Guerra e a década de 60. Era a época em que a imprensa cearense, pela força dos grandes nomes da intelectualidade da terra, transitava de uma fase heróica e firmava as bases de uma imprensa combativa, fundada em novos princípios, de ampla penetração e cada vez mais influente no processo de modernização pelo qual passava o País.

Murilo Mota, aquele cuja memória agora reverenciamos, participou desse período notável da imprensa da minha terra como um dos seus jornalistas mais constantes, intérprete sensível das melhores causas em favor do Estado e de seu progresso.

No início dos anos 30, aos 16 anos, seguindo os passos do pai, jornalista, escritor e folclorista, Leonardo Mota, Murilo Mota iniciava sua longa convivência com a imprensa profissional como redator do jornal A Rua, de Fortaleza. Da Faculdade de Direito do Ceará sairia, em 1937, com o grau universitário que o levaria ao exercício de funções expressivas na vida administrativa do Estado. Com ele, colavam grau personalidades fundamentais na vida política e intelectual do Ceará. Entre eles, Flávio Marcílio, Deputado Federal e Presidente da Câmara dos Deputados por mais de uma vez, Wilson Gonçalves, Senador pelo Ceará por dois mandatos, Walter Sá Cavalcanti, Deputado Federal, Fran e Cláudio Martins.

A Grande Guerra foi encontrá-lo no Correio do Ceará,  então o jornal vespertino de maior circulação no Estado. Como integrante dos Diários Associados, O Correio se tornaria logo em seguida o jornal mais importante e influente da imprensa cearense. Murilo Mota responsabilizou-se inicialmente pelo comentário internacional do jornal, importante num tempo em que a atenção do mundo se voltava para o teatro da Guerra. João Calmon, nosso querido e sempre Senador, então dirigente dos Associados no Ceará e, posteriormente, Presidente do condomínio Associado e Senador da República, relembra esses tempos na afetuosa alcunha que dedicava a Murilo Mota, "Madame Tabouis", comentarista internacional de extraordinário prestígio na imprensa francesa da época.

Logo em seguida, Murilo Mota se incumbiria do editorial do Correio do Ceará. O pensamento do jornal ganhava ali sua melhor expressão, traduzida em quase três décadas de matérias diárias. Não conheço, na imprensa do meu Estado, exemplo de tão longa e profícua presença em espaço nobre de uma publicação diária.

Dividindo espaço com as páginas dos jornais, Murilo Mota ocupou postos relevantes na vida administrativa do Estado. Foi Consultor Jurídico e Presidente do Instituto de Previdência do Estado do Ceará. Foi advogado e integrante do antigo Conselho Regional do Trabalho da 7ª Região, hoje, Tribunal Regional do Trabalho.

Não posso encerrar meus comentários sobre a vida profissional daquele a quem hoje presto justa homenagem sem menção a um fato. Há pequenos gestos que mostram um homem por inteiro. Procurador Fiscal do Estado na década de 40 e até o início dos anos 70, talvez o cargo mais importante que exerceu em sua vida de servidor público, Murilo Mota recusou-se, uma vez aposentado, a colocar contra o Estado, que defendera por uma vida, os seus conhecimentos de mestre em Direito Fiscal. Extraordinária lição de ética nos dias que correm, quando o mais comum é se ver altos e graduados ex-servidores públicos, no dia seguinte, colocaram-se a serviço de instituições privadas que, muitas vezes, mantêm relação conflituosa ou de concorrência com o Estado. Limitava, drasticamente, assim, suas alternativas profissionais de forma consciente. Exemplo de comportamento ético que dignifica uma geração de velhos servidores.

Nos anos que se seguiram e até a década de 80, Murilo Mota colaborou espontaneamente com quase todos os jornais do Ceará. O jornal O Povo, fundado por Demócrito Rocha, e, hoje, dirigido pelo jornalista Demócrito Duma, seu neto, abrigou um Murilo Mota já aposentado das lutas diárias da imprensa, dedicado ao prazer da crônica semanal, com a qual expressava seus melhores sentimentos de amor à sua cidade e sua gente. Muito do que se fez então pela cultura cearense, pela divulgação de seus nomes ilustres, de seus valores, muito do que se fez pelas instituições fundamentais do Ceará passaram por suas contribuições aos cadernos dominicais dos jornais cearenses. A Santa Casa Cearense de Misericórdia de Fortaleza, instituição centenária plantada em frente a um dos mais belos recantos da Fortaleza de antigamente, o Passeio Público, teve em Murilo Mota um mordomo atento à administração de suas necessidades e no jornalista Murilo Mota um de seus cronistas mais constantes e fiéis, sempre dedicado a sensibilizar a população e os poderes públicos em favor de seus doentes e de suas finanças, ambos em constante estado de penúria.

No fim de sua vida, escreveu o livro Na Casa da Minha Mãe, no qual, numa Fortaleza das primeiras décadas do século, retrata seu pai, o notável folclorista e escritor Leonardo Mota, o "Leota", visto através da figura marcante de sua mãe, Luisinha Mota, e da casa da família, no antigo calçamento de Mecejana.

Sua esposa, Violeta Mota, e seus filhos concordaram em me fornecer as informações que serviram de base para este pronunciamento, estimulados pela possibilidade de que sua divulgação, desta tribuna do Senado, sirva de exemplo para as novas gerações de jornalistas e de servidores públicos, dos quais Murilo Mota foi um dos mais notáveis.

Em nome do povo do meu Estado, do Senado Federal e no meu próprio rendo minhas homenagens a um cearense que soube, como poucos, dignificar sua terra e sua gente.

Muito obrigado, Sr. Presidente. (Muito bem!)


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 30/06/1995 - Página 11343