Pronunciamento de Ney Suassuna em 21/08/1995
Discurso no Senado Federal
NECESSIDADE DE REFORMULAÇÃO DA POLITICA PARA O TURISMO NO BRASIL.
- Autor
- Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
- Nome completo: Ney Robinson Suassuna
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
TURISMO.:
- NECESSIDADE DE REFORMULAÇÃO DA POLITICA PARA O TURISMO NO BRASIL.
- Publicação
- Publicação no DCN2 de 22/08/1995 - Página 14174
- Assunto
- Outros > TURISMO.
- Indexação
-
- ANALISE, IMPORTANCIA, ATIVIDADE ECONOMICA, TURISMO, MUNDO, NECESSIDADE, REFORMULAÇÃO, POLITICA, GOVERNO, SETOR.
- COMENTARIO, CRESCIMENTO, EFICACIA, ABERTURA, REGIÃO NORDESTE, TURISMO.
O SR. NEY SUASSUNA (PMDB-PB.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, perdoem-me o lugar comum. Ou melhor, o óbvio. Mas o óbvio, como dizia Nélson Rodrigues, precisa ser repetido - muitas vezes repetido - para se prestar atenção a ele.
Estou falando, Sr. Presidente, da indústria de viagens e turismo, setor da economia mais promissor do mundo. A Organização Mundial de Turismo registrou, em 1993, mais de quinhentos milhões de movimentos de viagens internacionais e a receita de trezentos bilhões de dólares.
Essa cifra, Sr. Presidente, coloca o turismo em primeiro lugar na pauta de exportações mundiais. Representa cerca de oito por cento do total das exportações de mercadorias e trinta por cento das exportações de serviços.
Em outras palavras: o turismo superou os tradicionais campeões da pauta de exportação mundial. O petróleo, a indústria automobilística e os equipamentos eletrônicos cederam o trono ao ir e vir de nacionais e estrangeiros.
O Conselho Mundial de Viagens e Turismo projetou para 1994 expectativas de crescimento do turismo internacional em 6,1 por cento, percentagem vinte e três por cento superior à da expansão da economia internacional.
E mais. Mostrou que, entre 1990 e 1993, os empregos na área turística registraram aumento cinquenta por cento mais acelerado que os de outros segmentos da economia. E, ainda segundo projeção do Conselho Mundial de Viagens e Turismo, até o ano 2005, cento e quatorze milhões de novos empregos serão gerados pelo setor.
Fazer turismo, hoje, deixou de ser consumo supérfluo, privilégio de poucos. Longe vai o tempo em que Stendhal criou a palavra turista. À época, o neologismo designava o viajante de posses modestas, mas de luxuoso gosto e requintada percepção.
Nos nossos dias, o conceito mudou. Fazer turismo tornou-se uma necessidade do homem moderno. Mais do que isso: é considerado direito humano básico, direito do qual ninguém deseja abdicar.
Um fato comprova a nova realidade. Nos países do mundo desenvolvido, as famílias e os indivíduos gastam tanto em viagens quanto em alimento, vestuário e saúde.
Mesmo nos momentos de crise, quando todas as atividades econômicas experimentam períodos de estagnação ou retrocesso, a indústria do turismo continua a crescer. Foi assim nos anos setenta, no auge da crise do petróleo. Apesar do violento aumento do preço dos combustíveis e conseqüentemente das passagens aéreas, o turismo internacional registrou média de crescimento de quatro por cento ao ano.
Em anos mais recentes, o quadro continua projetando essa realidade. Lembro, a propósito, dois conflitos que afetaram os países mais ricos do mundo. O primeiro, a Guerra do Golfo, responsável pelo clima de terrorismo que afetou sensivelmente o transporte aéreo. Corriam maior risco, então, americanos e europeus, os turistas mais ricos do mundo.
O segundo exemplo que me vem à mente é a crise da antiga Iugoslávia. Apesar da tensão instalada no coração da Europa, o turismo no Velho Continente continua dos mais promissores negócios. Vejam-se, a propósito, pacotes cada vez mais atraentes que aumentam o fluxo de turistas aos países tradicionalmente visitados ou a outros que só recentemente descobriram esse promissor negócio.
Ao mesmo tempo que cresce o fluxo turístico, cresce a rede de informações posta à disposição do consumidor. Os turistas, por seu lado, estão cada vez mais exigentes e menos fiéis ao destino turístico.
Consciente desse novo perfil, o Brasil precisa reformular sua filosofia. Se deseja, não digo aumentar o número de turistas, mas recuperar a parcela perdida, deverá oferecer condições de segurança e higiene capazes de estimular o fluxo de visitantes ao nosso país.
Mais que isso, Sr. Presidente. Precisa diversificar as ofertas de atrações a fim de satisfazer os mais variados apetites. Precisa melhorar a qualidade das instalações e da prestação de serviços. Precisa oferecer um meio ambiente não degradado, destacando a importância dos recursos naturais e culturais no desenvolvimento do turismo. Precisa buscar produtos turísticos diferenciados, voltados para as aspirações dos consumidores no terreno da cultura e do ócio.
Nesse ponto, Sr. Presidente, o Nordeste tem mostrado talento e garra. Com o sucessivo empobrecimento da classe média brasileira e o conseqüente esgotamento do fluxo interno, a indústria do turismo nordestina chegou ao fundo do poço em 1991. Nesse ano, o número de brasileiros que viajou para a região chegou a dois milhões e cento e cinqüenta mil.
O número de estrangeiros também era insignificante. Apenas cem mil visitaram o Nordeste naquele ano, número inferior ao atingido no início da década de oitenta.
Hoje as cifras são outras. A preferência interna mudou pouco: só dois milhões e meio de turistas, mas a externa cresceu dez vezes, chegando a um milhão.
A ação de abertura do turismo nordestino para o exterior deve muito à Comissão de Turismo Integrado no Nordeste. Ela se deu conta de que precisava buscar o turista lá fora. Começou pela propaganda na Argentina, que envolveu até o programa da Xuxa, muito popular naquele país vizinho.
Mas não ficou por aí. Deixando de lado os americanos e asiáticos - excessivamente exigentes - a Comissão partiu em busca do turista europeu, particularmente o alemão, italiano e francês.
Para atingir esse público, não buscou o turista, mas o operador. Criou o Brazil National Turism Market e convidou operadores dos Estados Unidos, Europa e Ásia para conhecerem os pontos turísticos da região nordestina.
O resultado dessa investida, aliada a outras menos ousadas, não se fez esperar. A ocupaçào dos leitos disponíveis saltou de quarenta e três por cento em 1991 para sessenta e sete por cento neste ano. No mesmo período, o incremento do turismo atingiu a nada desprezível cifra dos cinqüenta e seis por cento.
Os lucros não ficaram atrás. Como o aumento se verificou mais intenso no fluxo de estrangeiros, os ganhos empresariais quase dobraram. Explico melhor: o turista externo tem um gasto médio diário estimado em setenta dólares, enquanto o brasileiro fica em torno dos trinta dólares. Aí estão incluídas as despesas diretas com alimentação, hospedagem, transporte, lazer e souvenirs.
Mas não estão incluídas as despesas indiretas. Quando alguém se hospeda num quarto de hotel, esse quarto precisa de móveis, tapetes, chuveiro, eletrodomésticos, roupas de cama e banho e tantas outras coisas.
Sr. Presidente, nobres Senadores, os números falam alto. Eles são a melhor prova de que o Nordeste encontrou sua vocação. Ignorar essa realidade é condenar a região ao atraso, à pobreza, ao subdesenvolvimento.
Estou certo de que não é esse o Brasil que queremos para nossos amigos, nossos irmãos, nossos filhos.
Era o que tinha a dizer, senhor Presidente. Muito obrigado.