Discurso no Senado Federal

CONVERSA QUE TEVE COM O PRESIDENTE DA REPUBLICA SOBRE O CASO DO BANCO ECONOMICO. DISCORDANCIA COM O DESFECHO DA SOLUÇÃO PARA O BANCO ECONOMICO.

Autor
Jader Barbalho (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PA)
Nome completo: Jader Fontenelle Barbalho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
BANCOS.:
  • CONVERSA QUE TEVE COM O PRESIDENTE DA REPUBLICA SOBRE O CASO DO BANCO ECONOMICO. DISCORDANCIA COM O DESFECHO DA SOLUÇÃO PARA O BANCO ECONOMICO.
Publicação
Publicação no DCN2 de 17/08/1995 - Página 14009
Assunto
Outros > BANCOS.
Indexação
  • COMENTARIO, PARTICIPAÇÃO, REUNIÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MANIFESTAÇÃO, DISCORDANCIA, SOLUÇÃO, INTERVENÇÃO, BANCO PARTICULAR, ESTADO DA BAHIA (BA).
  • INFORMAÇÃO, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AUSENCIA, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), INVESTIMENTO, RECURSOS, BANCO PARTICULAR, ESTADO DA BAHIA (BA), NECESSIDADE, APRESENTAÇÃO, DENUNCIA, SUSPEIÇÃO, IRREGULARIDADE, ATUAÇÃO, DIRIGENTE, BANCOS, RESPONSABILIDADE, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, SENADOR.
  • DEFESA, DECISÃO, GOVERNO FEDERAL, NEGOCIAÇÃO, INTERVENÇÃO, IMPEDIMENTO, FECHAMENTO, BANCO PARTICULAR, ESTADO DA BAHIA (BA), PREJUIZO, SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL.
  • DEFESA, EFETIVAÇÃO, INDEPENDENCIA, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN).

O SR. JADER BARBALHO (PMDB-PA. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, uso da palavra nesta oportunidade, após toda esta discussão, para atender a um pedido do Presidente da República. E quero deixar bem claro aqui no plenário os termos da conversa tida hoje com o Presidente da República a respeito dessa questão do Banco Econômico, conversa esta provocada pelo próprio Presidente, que nos convidou para ir ao Palácio do Planalto.

Faço isso, Sr. Presidente, até porque o que digo no Palácio do Planalto posso dizer aqui. Há pessoas que dizem coisas aqui que talvez não as repitam no Palácio do Planalto.

Em primeiro lugar, quero repetir o que comentei lá: respeito a luta dos baianos, particularmente a luta do Senador Antonio Carlos Magalhães, em relação a seu Estado e aquilo que S. Exª julga conveniente defender em favor da Bahia. Manifestei ao Presidente da República minha discordância em relação ao desfecho da questão do Banco Econômico e digo isso aqui, neste momento, para que o Senador Antonio Carlos, ou qualquer pessoa envolvida neste episódio, não imagine que o companheiro o Senador Jader Barbalho dá um enfoque diferente à mesma matéria caso ela seja debatida neste plenário ou no Palácio do Planalto. Não venho tratar do assunto com panos quentes, como muitos estão fazendo. Só porque se trata do Senador Antonio Carlos Magalhães, começam a colocar panos quentes a respeito de determinadas questões. Tenho o maior apreço pela luta do Senador baiano, mas disse ao Presidente da República que discordava do desfecho dessa questão. Se o Banco Central tinha razões para intervir, como fez em relação a bancos estaduais e a bancos particulares, teria de fazer a mesma coisa em relação ao Banco Econômico da Bahia. A montanha pariu um rato. Foi o que aconteceu no final de tudo isso, deixando todos mal nesse episódio. Disse isso ao Presidente da República.

Quero, Sr. Presidente, transmitir aqui o sentimento que recolhi do Presidente Fernando Henrique Cardoso, que não foi o expressado há pouco pelo Senador Roberto Freire. Não foi o sentimento de estar acoelhado, de estar acuado. O que o Presidente nos disse hoje de manhã foi que pensou muito no desdobramento desse episódio em relação a todo o sistema financeiro nacional, o que poderia provocar no sistema em cadeia. Por isso mesmo permitiu negociar, por isso mesmo aceitou as ponderações feitas pelas lideranças da Bahia em relação a esse episódio.

O Presidente da República deixou claro que não investirá mais nenhum centavo do Governo Federal nessa operação. Isso precisava ser dito aqui e não o foi. Vi muita gente pisando em ovos. Sua Excelência disse que não investirá mais um centavo e que esperava que o Senador Antonio Carlos Magalhães materializasse as denúncias em relação à suspeição de diretores do Banco Central. Foi isso que o Presidente nos solicitou, a mim e aos outros. Estou aqui falando porque o Presidente me pediu, mas esperei para ouvir. Parece-me que não havia sido deixado claro o pedido do Presidente, o qual disse que não investirá, repito, mais nesse processo. O Governo já investiu no momento em que esperava a chance de o Banco Econômico encontrar uma solução negociada para sair dessa situação.

O Presidente da República disse que o Banco Central não colocará mais recursos no Banco Econômico, o qual passará a ser de responsabilidade do Governo da Bahia e de empresários que pensam que podem salvá-lo. Sua Excelência disse ainda que estará torcendo para que seja encontrada a solução para esse problema. Sua Excelência ainda nos pediu reiterássemos aqui que o Governo espera sejam apresentadas as denúncias em relação à probidade ou à improbidade dos Diretores do Banco Central.

Era esse o registro que gostaria de fazer, Sr. Presidente. Hoje, recolhi do Presidente da República o sentimento de que Sua Excelência permitiu essa discussão, essa negociação, com medo, primeiramente, de que o fechamento do Banco Econômico, sem buscar-se uma solução, pudesse atingir todo o sistema financeiro, causando prejuízos a todo o País.

E mais: o Presidente queria dar uma demonstração de boa vontade, de entendimento e de diálogo com relação a esse problema. Quero, portanto, deixar isso bem claro, Sr. Presidente. Não quero que amanhã o companheiro Antonio Carlos Magalhães pense que fui ao Palácio do Planalto e manifestei minha posição, dizendo que em outros episódios o Governo não agiu dessa forma, o Banco Central também não tem agido assim.

Não pode a autoridade monetária deste País ficar sob suspeição. Na hora em que o Banco Central fica em suspeição neste País, como se pode acreditar no sistema financeiro. Como?

Tem muita razão a imprensa quando coloca dúvida sobre se o balanço do Banco Econômico estaria maquiado, que o Banco Central teria aceito isso, e que diretores do Econômico teriam recebido dividendos à custa de um balanço fraudulento.

Então, Sr. Presidente, se o Banco Central está sob suspeição, em quem acreditar mais neste País? Mais do que nunca, há necessidade que o Banco Central seja efetivamente independente. Se o Banco Central fosse efetivamente independente, o Presidente da República não estaria envolvido neste episódio de natureza política, mas teria sido, sim, colocado nos limites do episódio de natureza econômica e financeira.

Era esse o registro que desejava fazer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 17/08/1995 - Página 14009