Discurso no Senado Federal

CRITICAS AS MEDIDAS ADOTADAS PELOS DIRIGENTES DO BANCO ECONOMICO.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
BANCOS.:
  • CRITICAS AS MEDIDAS ADOTADAS PELOS DIRIGENTES DO BANCO ECONOMICO.
Publicação
Publicação no DCN2 de 17/08/1995 - Página 14011
Assunto
Outros > BANCOS.
Indexação
  • QUESTIONAMENTO, ALTERAÇÃO, POSIÇÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ACOLHIMENTO, PROPOSTA, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, SENADOR, TRANSFORMAÇÃO, INTERVENÇÃO, REGIME DE ADMINISTRAÇÃO ESPECIAL TEMPORARIA, BANCO PARTICULAR, ESTADO DA BAHIA (BA), RESULTADO, INCOMPETENCIA, DIRIGENTE, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN).
  • DEFESA, NECESSIDADE, ESCLARECIMENTOS, EXISTENCIA, DENUNCIA, SUSPEIÇÃO, IRREGULARIDADE, ATUAÇÃO, DIRETOR, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN).

O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, penso que a colocação feita aqui é muito importante. Concordo com o que disse o Senador Roberto Freire. Longe de nós imaginar que o Senador Antonio Carlos Magalhães ou os seus colegas de representação da Bahia não estejam aqui representando seu povo. A análise feita com relação aos interesses de um banco do Nordeste e da Bahia é clara. Parto da tese de que o Senador Antonio Carlos Magalhães e seus colegas da Bahia têm razão quando consideram correta a decisão de ontem. Mas se isso aconteceu, por que a decisão do dia 11?

Sr. Presidente, a questão do banco baiano, a questão dos bancos brasileiros é conhecida por todos. O Banco Central vinha acompanhando-a dia a dia. A Nação inteira vinha acompanhando a preocupação do Senador Antonio Carlos Magalhães no sentido de encontrar uma solução para a Bahia. O que não dá para entender é que o Sr. Antonio Carlos Magalhães tenha feito a exposição ao Senhor Presidente e Sua Excelência tenha aceito a argumentação da Bahia, chamando o Ministro da Fazenda e o Presidente do Banco Central e dito "quero uma solução para a Bahia", ao que respondeu o Ministro da Fazenda: "não há outra solução que não seja a intervenção". E, uma semana depois, mostra que há outra intervenção.

Será que os argumentos apresentados pelo Senador Antonio Carlos Magalhães, nesta Casa, hoje, foram os apresentados ontem ou desde o início? O que não dá para entender é a alteração de posição do Presidente da República em uma matéria dessa importância.

Não se trata de mandar fazer ou alterar uma estrada. Trata-se de um projeto que visa à vida de um banco e à vida bancária nacional. Ou está certo o Senhor Fernando Henrique Cardoso - e entendo que Sua Excelência o está - com a decisão que tomou ontem, ou está certo quando determinou a intervenção no dia 11. Não é possível entender. Não houve nenhuma alteração política; não mudou o Presidente, nem o Ministro da Fazenda; não mudou o Presidente do Banco Central do Brasil, tampouco o Governador da Bahia; não mudou o Senador Antonio Carlos Magalhães; no entanto, Sua Excelência tomou uma atitude contraditória como essa em cinco dias.

Não me recordo na História da República de um antecedente igual a esse. Se alguém o conhece que o diga. Não o conheço. O Senhor Fernando Henrique Cardoso que demita o Ministro da Fazenda, que demita o Presidente do Banco Central do Brasil advertindo-lhes do ridículo que o fizeram cometer, do absurdo que o levaram a praticar. Fizeram-no intervir no banco da Bahia, ia quebrar aquele Estado, ia ser uma catástrofe. Ao invés de confiar no Sr. Antonio Carlos Magalhães, que já o avisara, Sua Excelência confiou neles e decretou a intervenção.

Sr. Presidente, trata-se da intervenção em um banco. Todos sabemos o que isso significa. Volto a dizer que toda a imprensa noticiou o esforço que o Senador Antonio Carlos Magalhães vinha fazendo desde o início. Não me parece que o Senador Antonio Carlos Magalhães fosse argumento novo. O esforço foi feito desde o início e não foi ouvido. O Banco Central não ouviu.

Houve, entretanto, um fato novo. Perdoe-me o Senador Antonio Carlos Magalhães, mas a imprensa noticiou de que haveria um dossiê envolvendo a Direção do Banco Central. Li isso em todos os jornais. Para mim o assunto da Bahia está resolvido. Entretanto, tem que ser esclarecido perante a Nação se existe ou não o dossiê, se existe ou não, seja lá o que for, qualquer coisa em relação à Direção do Banco Central. Isso tem que ser esclarecido.

Ou se dá um atestado de lisura ou se abre uma CPI. O que não pode continuar a existir é a alternância de informações, ou seja, ora existe um dossiê, ora não existe, pois afinal estamos falando do Presidente do Banco Central e não de qualquer secretário ou diretor, que em um determinado momento está para sair e em outro não e que agora saiu em definitivo. Portanto, se existe ou não o dossiê, vamos esclarecer.

Esse é o meu pensamento e por esse motivo gostei da nota do Presidente Fernando Henrique Cardoso sobre esse aspecto. Sua Excelência quer saber. Se o tem, que se diga, que se esclareça. Este País, Sr. Presidente, já é apontado pela imprensa como um dos mais importantes - só perdemos para a Índia -, a nível mundial, em termos de corrupção. Somos considerados um país corrupto a nível internacional. Os órgãos que fazem o levantamento dos valores de corrupção chegam à conclusão de que somos os vice-campeões. Num país em que se tem esse prestígio, temos que tomar uma série de ações e decisões com relação a essa matéria. E uma delas é exatamente essa: se existe algo, que se diga, se não há, que não se diga.

Vejo duas questões. Com toda sinceridade, os argumentos do Senador Antonio Carlos Magalhães e da representação da Bahia a mim me convencem. A meu ver, o Senhor Fernando Henrique Cardoso não tomaria a decisão que tomou ontem se não fosse baseado na lógica. Entendo-o e o respeito. Foram incompetentes os seus auxiliares que o fizeram agir da maneira ridícula, itervindo no Banco para depois voltar atrás, cinco dias depois, sem nenhum argumento contrário. Quanto a isso, não conheço antecedente. Se algum dos meus colegas conhecer algum antecedente na História Republicana que se pronuncie.

A última palavra no regime presidencialista cabe ao Presidente. E hoje eu posso perguntar: a última palavra no Brasil cabe ao Presidente Fernando Henrique? Ou eu, que sou amigo do Sr. Antonio Carlos Magalhães falo com S. Exª. E a última palavra é a do Sr. Antonio Carlos, em se tratando da Bahia. Ou a última palavra é a do Sr. Marco Maciel, em se tratando de Pernambuco? Ou a última palavra é a do Sr. Mário Covas, em se tratando de São Paulo? Ou a última palavra é a do Sr. Tasso Jereissati, em se tratando do Ceará?

Esta pergunta ficou no ar. De quem é a última palavra? Até ontem, a última palavra era a do Presidente da República. O Sr. Antônio Carlos Magalhães mostrou que tem prestígio. Alguém me dizia isso e me provava, porque está provado que o Sr. Antônio Carlos é o Senador que já teve mais prestígio na história deste Senado, deixando longe a figura de Pinheiro Machado, que, na Velha República, diziam que era o grande dono, o grande responsável, o grande chefe do Senado. Admiro, respeito e tenho carinho pelo Sr. Antonio Carlos Magalhães, porque o considero um homem altamente competente. Agora, em termos de Presidência da República, isso ficou no ar. Não sou alguém de ter a última, nem a penúltima, nem a antepenúltima palavra. Mas posso dizer que meu Governador Antônio Britto, em termos de Rio Grande do Sul, pode dizer. Não é dele a última palavra? Isso ficou no ar.

O Senhor Presidente da República, lamentavelmente, foi levado a isso por uma assessoria equivocada e irresponsável. Os argumentos do Sr. Antonio Carlos Magalhães são válidos, eles o eram ontem como também no dia 11. E se o Senhor Presidente da República acertou ontem - e acho que acertou - Sua Excelência cometeu um ato de irresponsabilidade, levado pela sua assessoria, de praticar o ato de intervenção para voltar atrás, como voltou ontem.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 17/08/1995 - Página 14011