Discurso no Senado Federal

SITUAÇÃO ALARMANTE DA POPULAÇÃO BRASILEIRA, EM VIRTUDE DA POLITICA ECONOMICA DO GOVERNO.

Autor
Mauro Miranda (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Mauro Miranda Soares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • SITUAÇÃO ALARMANTE DA POPULAÇÃO BRASILEIRA, EM VIRTUDE DA POLITICA ECONOMICA DO GOVERNO.
Publicação
Publicação no DCN2 de 22/08/1995 - Página 14173
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • ANALISE, GRAVIDADE, SITUAÇÃO SOCIAL, POPULAÇÃO, PAIS, RESULTADO, AUMENTO, INDICE, DESEMPREGO, MOTIVO, MANUTENÇÃO, GOVERNO, EXCESSO, TAXAS, JUROS, PARALISAÇÃO, ATIVIDADE ECONOMICA, REDUÇÃO, CAPACIDADE, EMPRESARIO, OBTENÇÃO, CREDITOS.
  • SOLICITAÇÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ADOÇÃO, PROVIDENCIA, URGENCIA, COMBATE, DESEMPREGO, PAIS, OBJETIVO, GARANTIA, DESENVOLVIMENTO SOCIAL.

O SR. MAURO MIRANDA (PMDB-GO. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, presenciamos, nesta tarde, quantos Senadores se manifestaram, especialmente pelas Regiões mais pobres ou, vamos dizer assim, excluídas: o Nordeste, o Centro-Oeste e o Norte.

Não dá mais para disfarçar. Está crescendo neste País, especialmente na nossa região, um clima de tensão e de nervosismo com a evolução dos níveis de desemprego. É até possível que os gabinetes confortáveis de Brasília não percebam o que está acontecendo. Mas nós, parlamentares, que estamos em contato permanente com os mais humildes, não podemos deixar de denunciar que o drama existe, é grave, e precisa ser contornado rapidamente. O Governo tem instrumentos e, quando quer, pode, porque é a vontade política que decide tudo neste País. Exemplos que comprovam essa verdade não faltam, dos mais antigos aos mais recentes. O quadro é mais explosivo na agricultura e na construção civil, setores com grande capacidade para absorver mão-de-obra. Fizemos todas as reivindicações possíveis, fizemos o caminhonaço e nada aconteceu.

Há algum tempo, a criação de frentes de trabalho patrocinadas pelo Governo eram a saída para resolver a questão do desemprego. A abertura de estradas vicinais era a atividade que mais absorvia os desempregados, especialmente no Nordeste. Com o orçamento parado, nem isso acontece mais no País. Enquanto isso, há uma crise geral que paralisa todas as atividades econômicas, estancadas que foram pela prática dos juros elevados e pela perda de capacidade de endividamento dos empresários. Os agricultores estão com a corda no pescoço e não podem sequer plantar. A construção civil não obtem financiamentos, não tem programas, a habitação popular não passa de promessa, e a classe média está fora dos financiamentos, porque o salário estável é incompatível com a dinâmica dos juros.

O resultado disso tudo todos nós conhecemos. Os políticos que estão em contato permanente com o povo é que sabem o tamanho do drama do desemprego, ao contrário dos técnicos que fazem as estatísticas. As cidades estão inchando, a violência aumentando, a insegurança assustando a classe média. Das prefeituras, vem um grito de socorro que os representantes no Congresso não têm como atender. O desemprego faz multiplicar as doenças e o setor de atendimento nessa questão está em frangalhos. A impotência diante da crise é generalizada. A desorganização social vai crescendo sem que surja um sinal de alento entre os responsáveis pela política econômica. A queda da atividade econômica para estancar o consumo e proteger a moeda era um objetivo a médio prazo. Há um reconhecimento geral de que chegamos ao fundo do poço. Então, cabe a pergunta: Onde vamos chegar com essa política econômica?

Os jornais lançam diariamente manchetes tenebrosas sobre a queda do nível de emprego. Elas apontam queda de 8,5% na produção, no último semestre, com reflexos no nível de emprego. São os dados mais recentes do IBGE. Só na primeira semana de agosto foram demitidos 10.900 trabalhadores na indústria paulista. É o setor mais organizado do País. Imagine-se o que acontece em setores mais sensíveis, como a construção civil e a agricultura.

Recuando um pouco mais no tempo, vamos encontrar números alarmantes na construção civil. Em maio, o número de desligamentos foi de 66 mil trabalhadores. De lá para cá, o quadro de crise aumentou mais ainda, mas não há números disponíveis. As estatísticas são oficiais, diferentes das estatísticas do corpo-a-corpo, que registram a aflição popular. É essa estatística informal que nós, representantes do povo, sentimos de perto.

Faço, desta tribuna, um apelo vigoroso ao Presidente Fernando Henrique Cardoso no sentido de que Sua Excelência faça tudo para devolver a confiança aos agricultores, antes que o nosso campo se transforme em um deserto. Faça exercer sua autoridade, para que sejam retomados os programas de habitação. Descomplique a vida do micros e pequenos empresários, para que possam usar a sua grande capacidade multiplicadora de empregos, antes que seja tarde, Senhor Presidente. Emprego traz equilíbrio social e arrecadação. O Presidente tem deveres para com a Nação como um todo. Cabe a Sua Excelência corrigir a ótica caolha daqueles que insistem em ver a sociedade como um grande rebanho de cobaias. Corrigir a economia e estabilizar a inflação, sim; mas ao custo de matar o social, não.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado. (Muito bem!)


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 22/08/1995 - Página 14173