Discurso no Senado Federal

CONSTRANGIDO COM RESULTADOS DE PESQUISA INTERNACIONAL, QUE REPORTA O BRASIL COMO UM DOS PIORES PAISES EM DISTRIBUIÇÃO DE RENDA. GRAVIDADE DA SITUAÇÃO DA AGRICULTURA NO PAIS.

Autor
Leomar Quintanilha (PPR - Partido Progressista Reformador/TO)
Nome completo: Leomar de Melo Quintanilha
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
AGRICULTURA.:
  • CONSTRANGIDO COM RESULTADOS DE PESQUISA INTERNACIONAL, QUE REPORTA O BRASIL COMO UM DOS PIORES PAISES EM DISTRIBUIÇÃO DE RENDA. GRAVIDADE DA SITUAÇÃO DA AGRICULTURA NO PAIS.
Aparteantes
Bernardo Cabral.
Publicação
Publicação no DCN2 de 26/08/1995 - Página 14644
Assunto
Outros > AGRICULTURA.
Indexação
  • COMENTARIO, RESULTADO, PESQUISA, REALIZAÇÃO, BANCO MUNDIAL, DEMONSTRAÇÃO, SUPERIORIDADE, NIVEL, CONCENTRAÇÃO DE RENDA, PRECARIEDADE, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, BRASIL, RELAÇÃO, MUNDO, MOTIVO, EXCESSO, TRIBUTOS, SETOR, AGRICULTURA, DIFICULDADE, ACESSO, POPULAÇÃO, ALIMENTOS, PRODUTO AGRICOLA, NECESSIDADE, ALTERAÇÃO, LEGISLAÇÃO, EMENDA CONSTITUCIONAL, PROPOSIÇÃO, REFORMA TRIBUTARIA.

O SR. LEOMAR QUINTANILHA (PPR-TO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é profundamente constrangedora a permanente constatação que fazemos de quão injusta e perversa é a elite brasileira. Refiro-me à elite política, empresarial, intelectual, que, com as suas ações ou omissões, têm produzido esse quadro de desigualdade, de injustiça e de profundo sofrimento à grande massa da população brasileira.

É com tristeza que tomamos conhecimento de uma pesquisa recentemente realizada pelo Banco Mundial que destaca o nosso País, este imenso e querido Brasil, como campeão, com o primeiro lugar no ranking das desigualdades sociais. Essa pesquisa, que abrange 71 países, aponta o Brasil como o pior do mundo em distribuição de renda. Segundo dados do relatório, 51,3% de toda a renda do País está concentrada nas mãos de apenas 10% da população; os 20% mais pobres só ficam com 2,1% da renda nacional. Essa pesquisa, realizada em 71 países desenvolvidos e subdesenvolvidos, onde havia dados oficiais sobre a renda da população, refere-se ao biênio 1988/89. No relatório do ano passado, o Brasil vinha em segundo lugar entre os países mais desiguais, perdendo apenas para Botsuana. Na pesquisa de 1994, que se refere ao biênio 1986/87, 63% da renda do País estava nas mãos dos 20% mais ricos. Agora, a desigualdade aumentou, e os 20% mais ricos ficaram com 67,5% da renda nacional.

Para se ter uma idéia da alta concentração da renda no Brasil, basta comparar os resultados com os de países desenvolvidos. Na Suécia, os 10% mais ricos ficam com 20,8% da renda; na Noruega, 21,2%; na Bélgica, 21,5%; na Finlândia, 21,7%; na Espanha, 21,8% e, na Holanda, 21,9%. Nos Estados Unidos, os 10% mais ricos têm 25% da renda nacional; no Canadá, 24,1%; na Itália, 25,3%; na França, 26,1%; na Inglaterra, 27,8%. Os países em que há menor desigualdade, entre os mais ricos e os mais pobres, são os que saíram recentemente de regimes socialistas.

A Hungria é o país mais igual: os 10% mais ricos têm 20,8% da renda, e os 20% mais pobres ficam com 10,9% de toda a riqueza do país - melhor desempenho entre os 71 países listados. Na Polônia, os 20% mais pobres detêm 9,2% da renda nacional.

A América Latina e a África são os continentes onde a desigualdade social é mais óbvia. Em apenas oito dos 71 países pesquisados, os 10% mais ricos conseguem ter mais de 45% da renda nacional. Quatro desses países ficam na América Latina: Brasil, Honduras, Guatemala e Chile. Os outros quatro ficam na África: Quênia, África do Sul, Zimbábue e Tanzânia.

Esse quadro de desigualdades, Sr. Presidente, chama-nos a uma reflexão e a um compromisso permanente de buscar o caminho para eliminá-lo, neste momento em que esta Casa e o Congresso Nacional têm o seu sentimento, o seu pensamento e a sua inteligência voltados para as graves questões nacionais, para as profundas reformas que se propõem na Carta Magna.

Agora, avizinha-se a reforma tributária, e, no nosso entendimento, essa abusiva e desigual carga tributária hoje imposta à população brasileira é uma das grandes e principais causas dessa desigualdade. Veja o que passa um dos mais importantes segmentos da economia nacional, a agricultura. Num país como o Brasil, que tem uma das maiores áreas agricultáveis do mundo, grande parte da sua população passa fome. Uma das principais causas desse contra-senso é exatamente a elevada carga de impostos sobre alimentos.

Enquanto na maioria dos países do mundo os alimentos têm isenção de impostos ou alíquotas muito reduzidas, no Brasil a carga tributária chega até 32%. Isso pesa no bolso de quem precisa comer e pesa nas decisões de quem precisa investir para produzir alimentos. Esses elevados impostos impedem os produtores rurais e as indústrias de realizarem plenamente o potencial agrícola do País, inibem a criação de empregos no campo e na cidade e contribuem para manter o povo brasileiro liderando as estatísticas da fome.

As conseqüências da falta de alimentos no Brasil são dramáticas. Ela é a maior causa da subnutrição crônica das crianças, que formam gerações inteiras incapazes de aprender e de produzir, com custos sociais cada vez mais altos para toda a sociedade.

Entendemos que, nesta Casa, poderemos dar uma contribuição decisiva, precisamos tomar uma posição com vistas a reverter esse quadro de perversidade, esse quadro de profundas injustiças. Pesquisas mostram que só a redução dos preços dos alimentos básicos já teriam expressivo efeito redistributivo da renda no País, sem contar que milhões de pessoas comeriam mais e melhor.

Tenho aqui informações da disparidade da cobrança de impostos sobre os alimentos que constituem a cesta básica. Enquanto a Colômbia, a Inglaterra, o México, o Peru e a França têm alíquotas zero; enquanto a Espanha e a Holanda cobram 6%; a Alemanha, 7%; e Portugal, 8%; aqui, no Brasil, o alimento é taxado em 32%.

Sr. Presidente, é preciso que tomemos agora uma posição firme, decidida, com vistas a inverter esse quadro de sofrimento que se abate sobre um país com as condições, com potencial e com as perspectivas que tem o Brasil. É preciso que tomemos consciência de que é responsabilidade nossa, de cada um dos brasileiros e, particularmente, nossa, de cada um dos congressistas, tomarmos essa posição. A hora é agora.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

O Sr. Bernardo Cabral - Permite-me V. Exª um aparte, antes de concluir o seu pronunciamento?

O SR. LEOMAR QUINTANILHA - Com muito prazer.

O Sr. Bernardo Cabral - Senador Leomar Quintanilha, quero cumprimentar V. Exª pela densidade do seu pronunciamento. É de se deplorar apenas que não esteja na Casa um número suficiente de Senadores para ouvi-lo, solidarizar-se com a sua manifestação, uma vez que, em verdade, a responsabilidade é toda nossa. Num país como o nosso, com as dimensões continentais como as que V. Exª registrava, é uma pena que não haja um mutirão em torno de uma programação como a que V. Exª acaba de registrar. Aceite, portanto, o meu aplauso pelo seu pronunciamento.

O SR. LEOMAR QUINTANILHA - Agradeço e incorporo ao meu pronunciamento as conscientes e oportunas colocações que V. Exª faz, principalmente porque tenho acompanhado as manifestações e o sentimento de V. Exª, de repúdio permanente a esse grave estado de injustiças por que passa o Brasil.

Tenho certeza, nobre Senador, de que esta Casa haverá de marcar na história do Brasil a sua posição decisiva, a sua posição firme em defesa dos mais injustiçados, dos mais sofridos, dos mais pobres, encaminhando este País de forma definitiva para a sua modernização, para a sua condição de país próspero, rico e com um povo feliz.

Muito obrigado. Era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 26/08/1995 - Página 14644