Discurso no Senado Federal

ANALISE DA SITUAÇÃO ATUAL DO PMDB.

Autor
Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • ANALISE DA SITUAÇÃO ATUAL DO PMDB.
Publicação
Publicação no DCN2 de 30/08/1995 - Página 14786
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • ANALISE, SITUAÇÃO, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB).
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, PAES DE ANDRADE, PRESIDENTE, CAMARA DOS DEPUTADOS.
  • COMENTARIO, VONTADE, ORADOR, DESMENTIDO, DEPOIMENTO, AUTORIA, RAQUEL DE QUEIROZ, ESCRITOR, RELAÇÃO, DISCRIMINAÇÃO, BRASILEIROS, PROCEDENCIA, REGIÃO SUL, COMPARAÇÃO, REGIÃO NORDESTE, OPORTUNIDADE, ELEIÇÃO, PAES DE ANDRADE, DEPUTADO FEDERAL, PRESIDENTE, CAMARA DOS DEPUTADOS.

O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB-PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ocupo hoje a tribuna do Senado para conversar com o meu PMDB.

Para iniciar e sustentar o discurso que pretendo fazer, terei a contribuição do poeta maior da nacionalidade, Drummond de Andrade. Se houvesse o costume de se dar nomes a pronunciamentos, eu chamaria o meu pronunciamento de hoje de "O PMDB, o Partido e o Cáctus". Para alguns, um poema é um conjunto de palavras expressivas.

De Drummond de Andrade:

      NOSSO TEMPO

      I

      Este é tempo de partido,

      tempo de homens partidos.

      Em vão percorremos volumes,

      viajamos e nos colorimos.

      A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.

      Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.

      As leis não bastam. Os lírios não nascem

      da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se

      na pedra.

Para alguns, um poema é um conjunto de palavras expressivas com força poética, mas o poeta colocou nas suas palavras o retrato cruel da nossa realidade permanente:

      Visito os fatos, não te encontro.

      Onde te ocultas, precária síntese,

Uma poesia pode justificar teses a serem apresentadas na Sorbona, pode justificar viagens, encantamento e notoriedade, mas o poeta buscou, profundamente, a descrição crua da realidade.

      Calo-me, espero, decifro.

      As coisas talvez melhorem.

      São tão fortes as coisas!

      Mas eu não sou as coisas e me revolto.

      Tenho palavras em mim buscando canal,

      são roucas e duras,

      irritadas, enérgicas,

      comprimidas há tanto tempo,

      perderam o sentido, apenas querem explodir.

O poeta procura um canal: este é tempo de partido; tenho palavras em mim, são roucas e duras, comprimidas há tanto tempo, apenas querem explodir.

Velho PMDB de guerra, amassado, contido, amarrado, fulanizado, segregado, calado. No entanto, com suas bases ligadas profundamente ao dia-a-dia do povo. Vivido, sofrido, experiente, o velho PMDB de guerra, comprimido há tanto tempo, precisa de espaço para explodir. Espaço e reencontro, o reencontro do homem com sua aldeia para poder ser universal.

O PMDB do Brasil real, o Brasil do povo, o Brasil que não sente vergonha de ser brasileiro, o Brasil que mostra as suas feridas e cicatrizes, o Brasil que pensa a modernidade sob a perspectiva de sua gente, que não tem trabalho, que não tem lazer, a quem não é permitida a esperança. O Brasil do povo que tem um Partido para representá-lo, comprimido há tanto tempo, apenas querendo explodir. Um PMDB moreno, filho de negros, índios e brancos que colonizaram a terra antiga, um PMDB firme e sereno, resistente como um cacto nordestino, que ofereça espaço para a crítica e para a construção. Um PMDB sem vetos, tolerante com as idéias e as tendências, procurando a unidade no programa discutido e respeitado por todos os seus quadros. Um PMDB com este jeito brasileiro, do velho e respeitado Deputado nordestino Paes de Andrade. Sobre Paes, alguns depoimentos, o primeiro de Ulysses Guimarães.

      Foi S. Exª líder nesta Casa e sentou-se na cadeira onde está o Líder Ibsen Pinheiro. No nosso convívio, tivemos entendimentos e desentendimentos, mas desentendimentos democráticos quanto a táticas e estratégias, sendo eu Presidente do partido na condução dos negócios partidários, que nunca abalaram a amizade, a estima e o respeito que sempre tivemos um pelo outro. No período mais duro, em que lutávamos contra o regime autoritário, várias vezes pedi a pena de V. Exª. Duvido - peço permissão àqueles que me escutam nesse instante - que alguém nesta Casa escreva melhor do que V.Exª, tenha maior domínio sobre a língua portuguesa do que V.Exª.

Palavras de Ulysses Guimarães. E agora, do Deputado Antonio Mariz:

      Nos momentos mais dramáticos da vida institucional do País, V. Exª foi sempre um lutador pela liberdade e um combatente pela restauração da democracia. Na Presidência da Câmara dos Deputados está a marca da atuação, destemor, firmeza e retidão de V. Exª.

Depois de Antonio Mariz, o depoimento de Raquel de Queiroz, da Academia Brasileira de Letras - com o qual eu não concordo e que vamos desmentir no dia 10 de setembro, quando elegermos a nova Executiva do Partido do Movimento Democrático Brasileiro.

Diz Raquel:

      É isso que dói neles, nos sulistas: A gente pode ser feio, atarracado, fala arrastando aquelas detestáveis vogais abertas (a gente diz "colégio", por exemplo); pode mesmo ser desajeitado como um índio de gravata. Mas a gente tem cabeça, tem talento, tem garra. Não sei se lembram do deputado sulista que declarou: "Podem desaparecer vinte milhões de nordestinos e o Brasil não ficará mais pobre". E à gente só restou responder: "Se desaparecessem esses vinte milhões de nordestinos, o Brasil podia até não ficar mais pobre: mas iria ficar muito mais burro!"

      Vejamos o caso do Deputado Paes de Andrade, Presidente da Câmara Federal. Essa presidência ele a conquistou por eleição, não foi? E por boa maioria contra o seu concorrente gaúcho. Isso quer dizer que tem muito mais gente gostando dele do que não gostando. E saiu direto de Mombaça para comandar em Brasília. É o que dói neles.

      A minha opinião é que a gente não deve passar recibo dessas coisas. Fazer como José Lins do Rego, paraibano ruidoso e malcomportado, que ao sair na imprensa qualquer comentário a seu respeito, dava aquela gargalhada: "Ai, não gostou? Pois te dana!", é isso aí.

      "Em nível de povo, a gente se entende e se ama. Os grandolas que se danem - e nos engulam, já que não tem outro jeito. Nordestino é brasileiro igual a eles", completa Raquel de Queiroz.

      E eu continuo com o Drummond de Andrade: "Este é um tempo de partido"; "As coisas talvez melhorem"; "Mas eu não sou as coisas e me revolto. Tenho palavras em mim buscando canal"; "Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos. As leis não bastam. Os lírios não nascem da lei".

O PMDB com Paes talvez não seja o consenso e a conciliação, mas é o espaço da construção, da humildade e da tolerância.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 30/08/1995 - Página 14786