Discurso no Senado Federal

AÇÃO CRIMINOSA DE MADEIREIRAS NO ACRE.

Autor
Marina Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE. SEGURANÇA PUBLICA.:
  • AÇÃO CRIMINOSA DE MADEIREIRAS NO ACRE.
Publicação
Publicação no DCN2 de 31/08/1995 - Página 14871
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE. SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • DENUNCIA, IRREGULARIDADE, EXPLORAÇÃO, MADEIRA, ESPECIFICAÇÃO, MUNICIPIO, SENA MADUREIRA (AC), ESTADO DO ACRE (AC).
  • INFORMAÇÃO, POSIÇÃO, ORADOR, SOLICITAÇÃO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), DESTINAÇÃO, POLICIA FEDERAL, SEGURANÇA, SACERDOTE, ESTADO DO ACRE (AC), RESPONSAVEL, DENUNCIA, IRREGULARIDADE, ATIVIDADE, EMPRESA, MADEIRA, VITIMA, PLANEJAMENTO, CRIME.

A SRª MARINA SILVA (PT-AC. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srª Senadora e Srs. Senadores, estive, neste final de semana, em meu estado, no Acre, que vem sofrendo com denúncias sobre a autoridade maior daquele Estado. Essas denúncias vão desde o envolvimento de avião com contrabandos de materiais eletroeletrônicos a esse que o Senador Romeu Tuma, de forma corajosa, acaba de fazer da relação ambígua - e que precisa ser investigada - com uma empresa que não goza de prestígio, com certeza, em países sérios.

Mas meu discurso de hoje reporta-se a episódios que vêm ocorrendo no Acre, quais sejam, a ação irregular e criminosa dos madeireiros, mais particularmente no Município de Sena Madureira, que, inclusive, já foram processados. No caso da Madeireira Ferreira, esta teve suas toras de mogno confiscadas pela Justiça, e serão leiloadas, mas eles já arrumaram outro testa-de-ferro que está explorando mogno na Região. Se antes eram 11 mil m³ de mogno retirados ilegalmente, agora são mais 24 mil m³, também ilegais.

À frente dessa denúncia, temos a figura de um homem corajoso, com mais de 70 anos, que pesa 46 kg, o Pe. Paulino, que conhece como ninguém os rios do Município de Sena Madureira. O Pe. Paulino enviou carta ao Presidente da República relatando os problemas de exploração irregular de madeira no Estado do Acre, recebendo um telegrama do Presidente Fernando Henrique Cardoso, trazendo a sua solidariedade à luta do Padre.

Com esse telegrama na mão ele subiu o rio Iaco, juntou os seringueiros e resolveu fazer um empate para evitar a saída da madeira, conseguiu, pelo menos por enquanto, colocar uma pedra no sapato dos madeireiros.

No entanto, pasmem V. Exªs, pasme a Justiça brasileira - porque senão daqui a pouco vamos chorar mais um cadáver ilustre no Acre, e desta vez com repercussão em Roma, porque o Pe. Paulino está sendo considerado quase um santo lá na Amazônia -: os madeireiros se reuniram e decidiram matar o Pe. Paulino. Um madeireiro que participou da reunião e, segundo ele, discordou dessa proposta, resolveu delatar o grupo, procurou as pessoas do Comitê Chico Mendes e fez o relato estarrecedor de que eles vão matar o Pe. Paulino.

Imediatamente, pedimos segurança à Justiça, à Polícia Militar, e foram colocados alguns policiais junto ao Pe. Paulino. Mas como este Padre já deve estar numa esfera de santidade, disse que não se sentia bem com aqueles homens fardados a seu lado e, em carta ao Comandante da PM, pediu a dispensa da segurança policial. Essa foi a posição do Pe. Paulino, porém não deve ser a posição do Governo, do Estado brasileiro, que não pode permitir que aquela região vire terra de ninguém.

Meu pronunciamento é no sentido de que estarei tomando providências junto ao Ministro da Justiça para que, de forma discreta, coerente com a posição do Padre Paulino, lhe seja dada segurança pessoal pela Polícia Federal, com agentes à paisana, não criando uma situação de inibição para o Padre.

Creio, Sr. Presidente, que não podemos nos eximir da responsabilidade de sua segurança, porque do contrário haverá um outro Chico Mendes. Não é bom para o Brasil, não é bom para a Justiça brasileira e não é bom para os princípios éticos da humanidade que pessoas, por ganância, por falta de compromisso, façam uma reunião e, premeditadamente, como fizeram com Chico Mendes, decidam que vão eliminar uma vida humana, alguém de grande prestígio, que vem prestando grandes serviços ao Estado do Acre, que tem, nas pessoas dos Padres Paulino e Heitor, dois aliados nas causas da justiça, da saúde, da educação e da defesa do meio ambiente.

Era essa a comunicação que gostaria de fazer, pedindo a solidariedade de todos os senhores, para que façamos uma cruzada de apoio à posição do IBAMA acerca de uma ação desse órgão em parceria com o Exército, para coibir a presença de madeireiros na Amazônia. Isso em função de que o Estado do Acre, envolvido através da sua autoridade maior, em todos esses episódios, não tem crédito para oferecer segurança e para promover a justiça no que se refere a essas irregularidades.

Entendo que, nesse caso, o Exército deveria ter uma ação naquela região, porque os madeireiros fizeram do Acre e de parte da Amazônia terra de ninguém. (Muito bem!)


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 31/08/1995 - Página 14871