Fala da Presidência no Senado Federal

FALA ASSOCIATIVA EM NOME DA MESA DIRETORA, AS HOMENAGENS POSTUMAS QUE ESTÃO SENDO PRESTADAS PELA CASA A MEMORIA DO EX-SENADOR E GOVERNADOR DA PARAIBA, ANTONIO MARIZ.

Autor
José Sarney (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: José Sarney
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • FALA ASSOCIATIVA EM NOME DA MESA DIRETORA, AS HOMENAGENS POSTUMAS QUE ESTÃO SENDO PRESTADAS PELA CASA A MEMORIA DO EX-SENADOR E GOVERNADOR DA PARAIBA, ANTONIO MARIZ.
Publicação
Publicação no DCN2 de 19/09/1995 - Página 16061
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ANTONIO MARIZ, EX SENADOR, GOVERNADOR, ESTADO DA PARAIBA (PB).

O SR. PRESIDENTE (José Sarney) - Não há mais oradores inscritos. Antes de encerrar a sessão, quero, em nome da Mesa Diretora do Senado Federal e em meu próprio nome, associar-me às homenagens que estão sendo prestadas pela Casa à memória do Senador Antonio Mariz.

Conheci Antonio Mariz ainda bem jovem, ao tempo do Governo João Agripino, quando ele colaborava com este Governador da Paraíba e eu governava o Maranhão.

Desde essa época, bem moço, já mostrava os traços que iria seguir ao longo da vida. Uma serenidade que não colidia com a firmeza de suas convicções, com o seu caráter, com os seus princípios, com aquilo que ele achava a razão da sua vida política.

Acompanhei-o depois, como Deputado Federal. Durante o meu Governo. Era um dos Diretores do Banco Nacional de Habitação. Acompanhei-o no Senado Federal; na campanha para governador; como Governador da Paraíba, e nessa fase assisti ao seu martírio, o caminho inexorável para onde se dirigia, que era o de abandonar seus companheiros, seus ideais e tudo o que ele tinha a dar em benefício da Paraíba.

Trago o meu sentimento de pesar. Desejo transmiti-lo ao povo da Paraíba, atingido na sua totalidade por essa grande perda, e à bancada da Paraíba, em que ele tinha tantos admiradores e tantos amigos.

Constantemente, nas nossas bancadas, sempre temos, pelas disputas políticas, áreas de conflitos. Ao contrário disso, na Paraíba, Antonio Mariz tinha, por parte da sua bancada, quase que uma devoção, um respeito e uma admiração pela sua vida e pelo seu talento de homem público.

Expresso os sentimentos à família de Antonio Mariz, à sua mulher, às suas filhas, à sua mãe, em nome da Mesa e do Senado Federal.

A Paraíba, para mim, é muito cara, uma vez que também tenho o meu lado paraibano. Os meus avós saíram a pé para o Maranhão, na seca de 1921, do Ingá do Bacamarte e de Alagoa Grande buscando os vales úmidos da minha terra, onde eles fixaram família e tiveram a ventura de nunca esquecer a Paraíba dos seus grandes dias e das suas devoções.

Portanto, hoje é um dia de grande pesar nesta Casa, porque relembramos a figura de um grande morto, de um grande homem público, de um homem que prestou grandes serviços a esta Casa, talvez muito mais do que pelas suas palavras, mas pelo seu exemplo, pelo exemplo de suas convicções que deu nos momentos mais difíceis em que teve que se afirmar, já lutando pela vida, já lutando contra aquele sentimento trágico que Unamuno dizia ser o sentimento trágico da vida, a busca da imortalidade que, sem dúvida, ia bater na morte.

Malherbe, num poema em que fala a Dupérier sobre a morte de sua filha - "La douleur Eternelle" -, teve oportunidade de dizer que, para a morte, ninguém era guardado, ninguém podia fugir a ela. Dizia: "Et la garde qui veille les barrières du Louvre ne défend pas le Roi".

Portanto, era o Governador de um Estado, mas, sem dúvida, era a expressão de uma luta política, de uma linha de coerência política. Deixa ele o exemplo de amor à sua gente e à sua terra. Basta verificar os seus escritos políticos. São sobre o Nordeste, devoção permanente de sua vida. Ele escreve sobre os problemas do Nordeste, os problemas da Paraíba e, também, sobre os problemas sociais. Sua preocupação com os direitos humanos está colocada num opúsculo que deixa como marca da sua ação parlamentar.

Outra preocupação de Antonio Mariz era com os trabalhadores rurais. Aí vemos a definição extraordinária da sua vida nesse tripé: o tripé do homem que se preocupa com os direitos individuais, com os direitos humanos, com as coisas mais sagradas da pessoa humana. O homem que se preocupa com sua terra, suas origens e o homem que se preocupa também com a situação social da sua gente, que ele representava ao mesmo tempo em que lutava pela aposentadoria dos trabalhadores rurais.

A morte dos grandes homens não deve ser lamentada; porém, os grandes homens devem, sim, ser homenageados pelas suas vidas. Antonio Mariz, sem dúvida, perante seu Estado, perante nós que o conhecemos, liberto de todas as restrições do seu tempo, das lutas políticas, começa a ser definido, em face da história do seu Estado, da história política da sua terra, como homem que definitivamente será guardado para todos os tempos com aqueles contornos que nenhuma palavra, nenhum elogio, nada poderá modificar nem agregar. As suas ações serão a imagem eterna de sua vida.

Nesta sessão, pela palavra de todos os oradores que aqui falaram, todos nós já podemos ter uma síntese do que fica de Antonio Mariz: o seu exemplo, a sua dignidade, a sua perseverança, a sua fidelidade à sua terra e ao povo brasileiro.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 19/09/1995 - Página 16061