O SR. CARLOS WILSON (PSDB-PE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, falo também em nome da Liderança do PSDB.

Ficamos sem Antonio Mariz. Mais do que o político capaz e de espírito profundamente democrático, mais do que exemplo de probidade e dignidade, mais do que administrador competente, perdemos um grande amigo. Não mais poderemos contar com o companheiro de todas as horas, que, com simplicidade, a sua marca registrada, não faltava nunca aos que a ele recorriam.

Tive o privilégio de conviver com ele por alguns anos, como deputado federal, na Câmara dos Deputados. Desse tempo, guardo na memória as inúmeras qualidades de Antonio Mariz, com quem cada um de nós aprendeu um pouco.

Sua constante preocupação com os problemas do Nordeste e da sua querida Paraíba, em particular, a seriedade e a honestidade com que tratava a coisa pública, aliadas à sua grande capacidade intelectual, conduziram-no a uma brilhante carreira pública.

Esses méritos, vale registrar, eram reconhecidos não apenas pelos amigos e correligionários, mas também por seus adversários políticos, que sempre o respeitaram. Prova disso foi a homenagem que, em peso, todos prestaram a ele no domingo.

A sua dedicação aos assuntos regionais acabaram fazendo com que ganhasse destaque na vida pública brasileira. Na Assembléia Nacional Constituinte de 1988 recebeu as maiores homenagens do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar por sua atuação destacada, notadamente em defesa do direito de greve e à reforma agrária, tendo sido, ainda, autor da emenda para a taxação das grandes fortunas.

O Sr. Lúcio Alcântara - Permite-me V. Exª um aparte, Senador Carlos Wilson.

O SR. CARLOS WILSON - Com muito prazer, Senador Lúcio Alcântara.

O Sr. Lúcio Alcântara - V. Exª, em nome da nossa bancada, a do PSDB, presta uma justa homenagem à memória do ex-Senador e Governador Antonio Mariz. Mas tendo sido, como fui, seu colega na Assembléia Nacional Constituinte, não poderia deixar de dar aqui meu testemunho pessoal do seu valor, da sua correção, do seu desempenho como homem público, verdadeiramente vocacionado para este mister. Era um homem discreto, de poucas palavras, reservado, ponderado, mas que tinha idéias e opiniões que eram respeitadas e muitas vezes acatadas, pela maneira serena como as defendia, embora com grande empenho e por estar justamente convencido daquilo que dizia. Tinha sua palavra respeitada justamente porque não abusava dela e, como disse muito bem o Senador Josaphat Marinho, a sua candidatura ao Governo do Estado, em condições precárias de saúde, em condições difíceis, é um sinal talvez extremo, máximo dessa vocação que tinha para a vida pública. Foi certamente uma imposição do povo da Paraíba, a que ele não queria e não devia se furtar. Daí ter enfrentado a campanha e posteriormente o Governo, em meio a esse calvário que foi toda a doença que o acometia, com todo seu desdobramento Mas ele colheu ainda nessa campanha eleitoral um resultado que, certamente, deve-lhe ter sido muito gratificante: a pequenina Sousa, cidade que o viu nascer, da qual foi prefeito, e que fica na fronteira com o nosso Estado do Ceará, era uma cidade dividida praticamente entre dois homens públicos da maior importância e ambos com assento no Congresso Nacional, ambos já ocupantes de cadeira neste plenário - o Senador Marcondes Gadelha e o Senador Antonio Mariz. Pois bem, nesse seu último embate eleitoral foi apoiado por Marcondes Gadelha, hoje Deputado Federal licenciado para ser seu Secretário de Agricultura. Isso certamente deve ter lhe valido como uma demonstração de apoio, de compreensão às suas idéias e deve ter constituído motivo de grande conforto pessoal para ele. Por isso, Senador Carlos Wilson, quero me solidarizar com as palavras que V. Exª profere em nome da Liderança da nossa Bancada, na certeza de que o que estamos fazendo aqui é apenas um preito de justiça à memória desse grande homem público que em muito enalteceu o Estado do Paraíba.

O SR. CARLOS WILSON - Agradeço, Senador Lúcio Alcântara, o seu aparte. Ninguém melhor do que V. Exª para retratar com muita fidelidade a personalidade de Antonio Mariz, porque com ele conviveu como Deputado Federal, como Constituinte, e sabe que a marca principal de Antonio Mariz era a sinceridade e a tolerância. V. Exª rememora o fato de Antonio Mariz ter disputado a vida toda, em Sousa, na Paraíba, a política municipal com o ex-Senador Marcondes Gadelha. Quando Antonio Mariz assume o Governo da Paraíba, quem ele convida para assumir a Secretaria da Agricultura? Exatamente aquele que tinha sido, durante longos anos, seu adversário político e que havia contribuído para que Antonio Mariz, agora, se elegesse Governador da Paraíba. Isso é uma demonstração do perfil, da característica do Senador Antonio Mariz.

Tudo isso, ao lado de sua irrepreensível conduta ética e moral, acabaram levando Antonio Mariz, já agora Senador, a ser escolhido, em 1993, para a difícil tarefa de relatar o processo de impeachment do então Presidente Fernando Collor de Mello. A lisura com que se desincumbiu dessa tarefa é de conhecimento público e dispensa quaisquer comentários.

Durante 32 anos foi político e exerceu os mais variados cargos públicos, numa carreira que começou como prefeito de sua Sousa e terminou no Governo da Paraíba. A morte o levou da vida pública da qual saiu, como entrou, de mãos limpas, constituindo-se num exemplo que enobrece seus familiares - Mabel e suas duas filhas, seu irmão José Mariz, que honrou meu Governo em Pernambuco como Secretário de Minas e Energia - e todos os homens públicos de bem deste País.

Certamente, lá onde Deus os guarda a todos, Antonio Mariz já se encontrou com Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Djalma Marinho e Joaquim Coutinho, amigos dos mais chegados e companheiros de lutas e ideais. Estou certo de que lá já conspiram e entabulam a fundação de um partido imbatível, que, num outro Congresso, lhes permita eliminar todas as injustiças que aqui não conseguiram reparar.

Muito obrigado.