Pronunciamento de Ronaldo Cunha Lima em 18/09/1995
Discurso no Senado Federal
HOMENAGEM POSTUMA AO EX-SENADOR E GOVERNADOR DA PARAIBA, ANTONIO MARIZ.
- Autor
- Ronaldo Cunha Lima (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
- Nome completo: Ronaldo José da Cunha Lima
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.:
- HOMENAGEM POSTUMA AO EX-SENADOR E GOVERNADOR DA PARAIBA, ANTONIO MARIZ.
- Aparteantes
- Antonio Carlos Magalhães, Bello Parga, Benedita da Silva, Bernardo Cabral, Carlos Patrocínio, Epitácio Cafeteira, Gerson Camata, Iris Rezende, José Agripino, Ramez Tebet, Romeu Tuma, Valmir Campelo.
- Publicação
- Publicação no DCN2 de 20/09/1995 - Página 16164
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM POSTUMA, ANTONIO MARIZ, EX SENADOR, GOVERNADOR, ESTADO DA PARAIBA (PB).
O SR. RONALDO CUNHA LIMA (PMDB-PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ontem, em clima de profunda consternação, a Paraíba sepultou o corpo do Governador Antonio Mariz. O povo chorava a sua morte, sentindo na imensa dor, que uma parte de seus sonhos também morria com ele. Vi cenas dramáticas de emoção. Eu vi as lágrimas nos olhos do povo, eu vi o povo lhe dizendo adeus, e no adeus a tristeza de todos os acenos. Era o povo na rua para homenagear o líder, o homem de vida pública ilibada, repleta de coerência, plena de espírito público e marcada, acima de tudo, pela fidelidade à palavra e ao compromisso.
Eu, seu amigo e companheiro, sofri seus últimos instantes, testemunhei a sua agonia, mas testemunhei também a sua fortaleza de espírito, a grande força de sua alma, reagindo e lutando até o último momento. É que, Sr. Presidente, como disse, ontem foi seu sepultamento. Mariz foi um homem de tanta coragem, que, depois de enfrentar todos os desafios da vida, terminou por enfrentar os desafios da morte. Com altivez, de forma sobranceira, resistiu como um bravo ao mal que o acometia já há algum tempo, mas, em nenhum momento, ao longo de sua enfermidade, ninguém ouviu dele uma palavra que não fosse o testemunho interior de sua resistência, da sua forma corajosa de enfrentar os embates contra a morte do mesmo modo como enfrentava os combates pela vida. Ele se portou de forma tão indômita, com tal dignidade ante as aflições últimas e as agonias derradeiras, que o seu comportamento nos encheu de mais orgulho, como que suavizando a dor de sua perda.
Antonio Mariz tem uma história vinculada à própria história da Paraíba. Governá-la foi o maior sonho de sua vida. E ele perde a vida quando realiza este sonho. Triste fatalidade.
Antonio Mariz iniciou sua vida pública como prefeito de sua Cidade natal, a sua querida cidade de Souza. Ali inaugurava uma administração modelar e revolucionária para a época. Foi, pelo menos a nível de Nordeste, o primeiro prefeito a pagar salário mínimo aos servidores municipais, a adotar a obrigatoriedade da carteira trabalhista, a nomear somente mediante concurso público, a prestar contas semanalmente.
Prefeito, expôs a beleza de seu caráter e a visão de homem público. Daí, partiu para outros vôos, vôos bem mais altos, embora aqui e ali recolhesse as asas para se recolher ao abrigo de seu próprio ninho, que era a sua querida terra natal. Secretário de Estado competente. Deputado Federal coerente. Diretor do BNH operoso. Senador da República corajoso e prudente, altivo e patriota. Governador de Estado a nos encher de esperanças.
Antes, por duas vezes, tentara, sem sucesso, governar a Paraíba. O regime militar e as leis casuísticas da época impediram-no, àquele tempo, de assumir o comando dos destinos do nosso Estado. Agora que se elege, pelo voto popular, em pleito dos mais bonitos, eis que o destino o impede de realizar o que tanto sonhou e o que tanto quis.
Mariz que tem uma história bonita. História de fidelidade, de coerência, de grandes gestos, gestos de humildade e gestos de ousadia, gestos de timidez e gestos de coragem. Eu o conheci há muitos anos e ao longo dos anos vi crescente a minha admiração por suas virtudes. No início da nossa caminhada política fomos do mesmo partido, o PTB. O bipartidarismo - imposto pelo regime militar - nos separou em razão tão só de conveniências locais e problemas de política paroquial. Mas, em 1982, quando eu e ele fomos lembrados como candidatos a governador, nos unimos para nunca mais divergir. Candidatei-me a prefeito e ele a governador. A ele ofereci a modéstia do meu apoio e dele recebi a grandeza de seus exemplos. Nossos caminhos permaneceram únicos. Era uma só a nossa estrada, porque o seu era o meu ideal, minha a sua bandeira e assemelhadas as nossas propostas. Em 1990 tive o seu apoio para me eleger governador, fundamental e decisivo. Nessa campanha ele se elegia Senador. Caminhamos juntos os caminhos da Paraíba e chegamos juntos, afinal vitoriosos pela Paraíba. Já agora, em 1994, as posições se inverteram. Ele candidato a governador e eu candidato a senador, juntamente com Humberto Lucena, esse extraordinário Humberto Lucena que o Brasil precisa fazer justiça, como a Paraíba lhe faz. Que campanha bonita! Campanha feita na base da unidade, da fraternidade, da lealdade. Vencemos porque cada um ajudava ao outro e os três se fizeram um só. Mais uma vez tive oportunidade de conhecer, em Mariz, a grandeza de seu espírito, a beleza de sua alma e a encantadora marca de seu companheirismo.
É doloroso, aqui, falar sobre a morte de um companheiro-amigo, de um amigo-irmão. Falo por mim, falo por Humberto Lucena, falo por Ney Suassuna, que ficaram na Paraíba ali me representando, enquanto eu os represento aqui. Falo pelo Governador José Maranhão, cujo apoio haverá de receber de todos para facilitar-lhe a tarefa difícil de substituir Mariz. Falo em nome do Ministro Cícero Lucena, outro amigo-irmão. Falo, enfim, pela Paraíba solidária na dor e na compreensão da necessidade de se unir, acima da todas as divergências, para a defesa de seus interesses maiores. A Paraíba que tem de se unir para não deixar morrer os sonhos e as esperanças conduzidos por Antonio Mariz.
A morte nos leva a interrogações e as interrogações nos conduzem a reflexões. Dizia, ontem, em sessão especial convocada pelo Presidente da Assembléia Legislativa da Paraíba, atuante Deputado e querido amigo Carlos Dunga, naquela histórica sessão onde se ouviram as vozes da Paraíba toda, conclamei as forças políticas do meu Estado a assumirem compromisso com o ideário de Antonio Mariz, a grande e a maior forma de homenageá-lo. O Governador José Maranhão deve ser o depositário dessa confiança comum, como co-responsável pelo programa de governo de Antonio Mariz e como seu sucessor, em hora tão difícil e tão dramática. A história de Antonio Mariz é muito bonita e não pode ser esquecida.
O Sr. Bernardo Cabral - Permite-me V. Exª um aparte?
O SR. RONALDO CUNHA LIMA - Ouço V. Exª com prazer.
O Sr. Bernardo Cabral - Eminente Senador Ronaldo Cunha Lima, dizia, ainda há pouco, ao meu colega Jefferson Péres, que não usaria da tribuna para falar porque entendo que essa homenagem deve pertencer à Bancada da Paraíba ou, por extensão, à Nordestina. Mas não posso deixar de dar o meu depoimento, Constituinte que convivi com o nosso pranteado e saudoso Antonio Mariz. E não poderia deixar exatamente porque é V. Exª que ocupa a tribuna. Ninguém melhor do que V. Exª para traçar o perfil de um homem sério, um homem que nada tinha a perdoar, porque ninguém o atingia com qualquer tipo de ofensa. Retilíneo, vertical, desempenhou seu mandato de constituinte com uma dignidade que só engrandece a Paraíba. Posso testemunhar, Senador Ronaldo Cunha Lima, quando Relator, que as suas preocupações saltavam da Paraíba para o Brasil inteiro. Por isso V. Exª tem razão. Não é a Paraíba que perde um grande vulto, é a Nação que se cobre de luto. Nesta hora, não sei como ficará a Paraíba. O seu substituto, que foi Constituinte conosco, José Maranhão, deve estar sofrendo por saber que Antonio Carlos Mariz terá um sucessor, dificilmente um substituto. Quero que V. Exª junte às suas palavras, de forma profunda, o meu pranteado abraço e que um dia possamos ter, neste convívio, um outro Mariz com a qualidade do nosso Antonio Mariz.
O SR. RONALDO CUNHA LIMA - Muito obrigado.
O Sr. Iris Rezende - V. Exª me permite um aparte, nobre Senador Ronaldo Cunha Lima?
O SR. RONALDO CUNHA LIMA - Pois não, nobre Senador Iris Rezende.
O Sr. Iris Rezende - Nesta hora, quero cumprimentar-lhe por esse histórico pronunciamento que faz, quando aqui se reverencia uma pessoa inesquecível: o homem público Antonio Mariz. Na verdade, V. Exª transmite muito bem o pensamento do seu povo, do seu Estado e, por que não dizer, do País, que conheceu Antonio Mariz. Nós sabemos muito bem que a pessoa que milita na vida pública nem sempre agrada e freqüentemente provoca arranhões pelas suas ações, pelas suas posições, pelo seu comportamento, enfim. E Antonio Mariz representava uma exceção à regra; não sabemos se pela sua humildade, se pela sua simplicidade, pela abertura de seu coração no trato com as pessoas. Ele deixa este mundo e vai para o além sem deixar cicatrizes. Pelo contrário, ele deixa o exemplo. Isso nos conforta, porque nós que observamos o comportamento das pessoas, sabemos que a maioria delas nascem, vivem e morrem e não deixam a passagem devidamente marcada no meio social. Antonio Mariz nasceu, viveu, morreu, deixando a sua vida como exemplo, a sua passagem profundamente marcada, principalmente entre aqueles que militam na vida pública. Homem que só deixou o exemplo positivo; homem que marcou pelo espírito público; homem que marcou pelas suas ações; homem que impressionou e enobreceu aqueles com os quais vivia e os cargos que exerceu. Faço minhas as palavras de V. Exª na mais profunda homenagem ao Senador, Governador Antonio Mariz. Contudo trago a homenagem, nesta hora, em nome do meu Estado, principalmente em nome dos milhares e milhares de paraibanos-goianos que, embora vivendo e fazendo de Goiás seu Estado, não esqueceram a Paraíba e reverenciam também no dia de hoje a passagem para o além do nosso inesquecível Antonio Mariz. As homenagens de Goiás a Antonio Mariz, ao povo paraibano, ao Estado da Paraíba e a V. Exª que, acredito, faz nesta hora um dos mais belos pronunciamentos da sua vida de homem público. Muito obrigado.
O SR. RONALDO CUNHA LIMA - Muito obrigado.
O Sr. Epitacio Cafeteira - Senador Ronaldo Cunha Lima, V. Exª me concede um aparte?
O SR. RONALDO CUNHA LIMA - Com todo prazer, Senador Epitacio Cafeteira.
O Sr. Epitacio Cafeteira - Nobre Senador Ronaldo Cunha Lima, não sei se o Regimento permite, mas entendo que, no caso da homenagem a Antonio Mariz, o ideal seria que todos nós nos uníssemos ao pronunciamento de V. Exª, ou seja, que, ao invés de cada um fazer um pronunciamento, todos nós apresentássemos à Paraíba, no pronunciamento de V. Exª, o nosso profundo respeito e a nossa profunda admiração por aquele homem público que, em toda a sua trajetória, sempre foi discreto e correto, sempre colocando na sua vida pública o interesse das pessoas acima de seus próprios interesses. Esse seria o ideal para um homem público que deixa essa impressão entre nós que fazemos política. Qualquer um de nós se sentiria honrado se, depois de morto, tivesse deixado algo parecido com o que Antonio Mariz deixou na vida pública. Sabe V. Exª que sou maranhense da Paraíba; nasci conterrâneo de V. Exª e hoje represento, com muita honra, o Estado do Maranhão. Quero que as minhas palavras sejam exatamente a dos paraibanos do Maranhão e a dos maranhenses que não nasceram na Paraíba, mas que viram sempre em Antonio Mariz esse homem probo, sério e correto, que - acredito eu - não deixou ninguém que não tivesse, na tarde de hoje, com saudade, pois não temos mais Antonio Mariz em nosso convívio. Mas, Senador Ronaldo Cunha Lima, penso que até na hora de morrer o destino foi bom com Antonio Mariz. Seu sonho era governar a Paraíba, e conseguiu eleger-se; conseguiu fazer com que o povo reconhecesse o seu ideal de governar a sua terra. Diante da conjuntura atual, onde os recursos são muito difíceis para se governar um Estado, acredito que Antonio Mariz morreu sem ter tido o sofrimento de não ter recursos para realizar perante o povo paraibano o seu sonho, o seu desejo e a sua promessa. O nobre Governador não chegou a completar um ano de mandato, mas, com toda certeza, não levou esse problema em sua consciência. O Brasil hoje luta por uma recuperação econômica para o País, mas não podemos negar que isso se deva em detrimento dos Estados e municípios; e Antonio Mariz deixou esta vida sem levar consigo a tristeza de não fazer a felicidade plena do povo paraibano. Quero que V. Exª incorpore este meu pronunciamento, para que fique registrado o quanto fui e continuo sendo um admirador desse grande homem público, que me honrou com a sua amizade, que me honrou por ter sido seu colega na Câmara e no Senado, que foi o Governador Antonio Mariz.
O SR. RONALDO CUNHA LIMA - Muito obrigado, Senador Epitacio Cafeteira.
A Srª Benedita da Silva - Permite-me V. Exª um aparte?
O SR. RONALDO CUNHA LIMA - Ouço a nobre Senadora Benedita da Silva.
A Srª Benedita da Silva - Quero registrar o meu pesar, Senador Ronaldo Cunha Lima. Estou acabando de chegar da Conferência de Pequim e foi uma surpresa saber que perdemos um excelente político, Deputado, Senador, mas sobretudo uma pessoa muito sensível. Eu o achava até um pouco calado. Dificilmente se arrancava dele um discurso inflamado porque seu comportamento era de uma serenidade à toda prova. Penso que, ao conquistar o governo da Paraíba, o Senador Antonio Mariz não só satisfez - e não sabia ele que seria num curto tempo - um desejo político, como também aceitou o desafio de não substituir, mas poder dar continuidade a um trabalho iniciado por V. Exª. Quando soube dessa notícia, Senador Ronaldo Cunha Lima, pensei em V. Exª, pelo seu carinho, pela sua dedicação, pelo seu comportamento durante a campanha e pelo seu desejo imenso de fazê-lo também Governador, todos voltados para o Estado que eu particularmente também amo. Acredito que posso até, neste momento, talvez pela primeira vez, ousar representar um sentimento do Estado do Rio de Janeiro, um Estado que abriga tantos paraibanos, e quero crer estejam sentindo, neste momento, o mesmo que V. Exª. Concordo com o pensamento do Senador Epitacio Cafeteira que, independentemente do Regimento, o pronunciamento de V. Exª seja apenas um, porque estará representando o sentimento de todos nós, do Partido dos Trabalhadores e dos demais Partidos. Chegando aqui, ao ouvir o pronunciamento de V. Exª vim imediatamente para este plenário. Neste momento V. Exª presta uma homenagem que não é apenas sua, mas desta Casa e de todos nós, brasileiros, que compreendemos essa perda inestimável do Sr. Antonio Mariz, meu companheiro na Câmara dos Deputados, ao qual reputo uma alta respeitabilidade e consideração. S. Exª não pôde, no seu sonho de governar - e quem é o político que não tem o sonho de governar a sua cidade ou o seu Estado? - mas pôde sentir, de certa forma, o reconhecimento público quando o elegeram Governador do Estado da Paraíba. Nesse momento, prestando minha homenagem, quero deixar registrado o reconhecimento do Estado do Rio de Janeiro a Antonio Mariz, não só pela atuação administrativa de S. Exª mas também como representante do povo brasileiro. Agradeço V. Exª pela oportunidade do aparte e lamento que esta seja uma sessão de homenagem pela perda de um grande companheiro.
O Sr. Valmir Campelo - Permite V. Exª um aparte?
O SR. RONALDO CUNHA LIMA - Agradeço à nobre Senadora e concedo o aparte ao nobre Senador.
O Sr. Valmir Campelo - Gostaria de juntar a minha voz à de V. Exª e a de todos os companheiros, no Senado Federal, nesta sessão especial que presta esta Casa à memória do nosso inesquecível amigo e companheiro Antonio Mariz. Tive a felicidade de conviver com Mariz, por quatro anos, na Câmara dos Deputados, no quarto andar do Anexo IV, onde o seu gabinete era vizinho ao meu. Aqui, no Senado Federal, tive o privilégio de situar-se o gabinete de S. Exª em frente ao meu, na Ala Teotonio Vilela e, durante esse período de oito anos, conversamos bastante e realmente aprendi muito com aquele Senador, homem de cultura, de personalidade, de caráter, de comportamento exemplar, e sobretudo, pude privar de sua amizade e lealdade. Junto a minha voz à dos habitantes do Distrito Federal, como Líder do meu Partido, o PTB, para levar à família de Antonio Mariz o nosso mais profundo pesar. V. Exª disse, e é verdade, não só a Paraíba perdeu um grande homem, um grande político, mas o Brasil. Ontem foi um domingo dos mais tristes para todos nós. O meu sincero pesar.
O Sr. Ramez Tebet - Nobre Senador Ronaldo Cunha Lima, V. Exª concede-me um aparte?
O SR. RONALDO CUNHA LIMA - Muito obrigado, Senador Valmir Campelo.
Ouço V. Exª, Senador Ramez Tebet.
O Sr. Ramez Tebet - Senador Ronaldo Cunha Lima, não tive a sorte de conviver com seu coestaduano, este grande brasileiro Antonio Mariz. Conheci-o, todavia, através de seu conceito, conceito unânime de homem bom, de homem justo, de homem dotado de um grande espírito humanitário e de um verdadeiro democrata. A sua voz, a voz de Ronaldo Cunha Lima, com toda certeza, seria suficiente para interpretar o sentimento da dor profunda que invade a alma e o coração de todos os Senadores da República. Todavia, como estamos presenciando, todos querem deixar registrado nos Anais desta Casa, em um preito de justiça, a marca indelével deste homem que soube durante a sua vida construir, que soube fazer, que soube realizar, que soube viver com dignidade. Em meu nome, em nome do Estado de Mato Grosso do Sul, associo-me a essas homenagens que o Senado da República hoje, por intermédio de V. Exª, presta a Antonio Mariz.
O SR. RONALDO CUNHA LIMA - Muito obrigado, Senador. Os pronunciamentos dos eminentes Senadores que me apartearam, Bernardo Cabral, Iris Rezende, Epitacio Cafeteira, Benedita da Silva, Valmir Campelo, Ramez Tebet, eu os incorporo, cheio de emoção, a este pronunciamento emocionado, e os recolho como quem conforta almas sofridas e corações doídos. Em verdade, são comuns nos panegíricos os elogios feitos como lugar-comum. Mas, aqui, o sentimento que se transmite pelos Srs. Senadores, é de profunda sensibilidade e extrema honestidade, até porque Antonio Mariz foi tão incomum nas suas virtudes que não podemos elogiá-lo senão com a intensidade da emoção e nunca com frases de lugar-comum.
O Sr. Nabor Júnior - V. Exª permite um aparte, Senador Ronaldo Cunha Lima?
O SR. RONALDO CUNHA LIMA - Com prazer, Senador Nabor Júnior.
O Sr. Nabor Júnior - Senador Ronaldo Cunha Lima, não poderia deixar de aparteá-lo, para manifestar, por intermédio de V. Exª, ao povo da Paraíba, meu mais profundo pesar pelo prematuro falecimento do Governador Antonio Mariz. Convivi com Antonio Mariz por duas Legislaturas na Câmara dos Deputados, onde tive a oportunidade de privar de sua amizade, de seu convívio e de apreciar seus dotes morais e intelectuais; homem de profundo conhecimento jurídico, Deputado atuante e respeitado naquela Casa. Depois, encontrei-me com Antonio Mariz quando era Governador do Acre e S. Exª Diretor do extinto Banco Nacional de Habitação, durante o Governo do Presidente José Sarney. Posteriormente, convivemos na Executiva Nacional do PMDB, S. Exª como primeiro Vice-Presidente e eu como segundo tesoureiro. Mais recentemente, durante sua passagem aqui pelo Senado da República, tivemos oportunidade de estreitar nossa convivência e amizade. Quero, neste instante, em nome do povo acreano, em nome dos paraibanos que vivem no Acre também, já que a colônia paraibana é numerosa no meu Estado, manifestar minha saudade e meu pesar pelo falecimento desse grande Líder da Paraíba, que foi o Governador Antonio Mariz.
O SR. RONALDO CUNHA LIMA - Muito obrigado, Senador Nabor Júnior.
O Sr. Gerson Camata - V. Exª me permite um aparte?
O SR. RONALDO CUNHA LIMA - Ouço V. Exª com prazer.
O Sr. Gerson Camata - Senador Ronaldo Cunha Lima, nós, políticos, temos sempre convivido com essas horas de dor, perda de amigos, companheiros a quem vamos nos afeiçoando durante o trajeto de nossa vida política. Como o político tem uma família ampliada - porque convive no seu Estado com tanta gente e, os que possuem mandato Federal, em nível Federal também -, essas perdas acontecem, mas nunca nos acostumamos a elas, principalmente quando se trata de uma figura exponencial como a de Antonio Mariz. O primeiro contato que tive com S. Exª - lembro-me - foi por intermédio do Senador Elcio Alvares, que apresentou-me a Antonio Mariz aqui em Brasília e depois me disse: "Preste atenção nesse menino, que é uma das grandes lideranças que temos aqui na Câmara Federal, uma das idéias mais lúcidas, de melhores posicionamentos nesta hora que o País atravessa". E, daí por diante, fui quase que um discípulo de Antonio Mariz; ele foi um guru, um conselheiro, e nele encontrei sempre aquele espírito altaneiro, coerente; nunca a surpresa, mas sempre aquela linha reta de um homem de caráter que aprendemos a admirar. De modo que, quando nos defrontamos com a ausência de um homem de valor como ele, e devido a amizade que devotávamos a ele, sentimos não só a perda cívica, o empobrecimento político do Brasil, mas sentimos que um pouco do nosso coração perde-se nessa hora. Dessa forma, em nome dos capixabas, V. Exª transmita ao povo paraibano e à família de Antonio Mariz esses sentimentos, que são pessoais, mas são também um sentimento de perda em nível nacional, numa hora talvez que não pudesse, que não devesse isso acontecer.
O SR. RONALDO CUNHA LIMA - Muito obrigado.
O Sr. Romeu Tuma - V. Exª permite-me um aparte?
O SR. RONALDO CUNHA LIMA - Pois não, Senador Romeu Tuma.
O Sr. Romeu Tuma - Desculpe-me por interromper a oração cheia de sentimento de V. Exª; não pretendia aparteá-lo, mas o coração pulsa na hora da alegria e na hora da tristeza. Não conheci, como Ramez Tebet o disse no seu aparte, a figura de Antonio Mariz, mas, quando internado no hospital, já em estado terminal, ouvi V. Exª e o Senador Ney Suassuna referirem-se ao Governador Antonio Mariz com muito pesar pelo seu estado de saúde, reclamando a Deus que não o levasse porque o Brasil ainda precisava dele. Sabemos que os olhos são o espelho d'alma e, às vezes, mostram a tristeza através das lágrimas. Brasília conviveu com a seca durante quatro longos meses. Quem sabe se ontem as lágrimas de Jesus caíram sobre as terras de Brasília e redondezas provavelmente também sentindo o que V. Exª sente com a morte de Antonio Mariz. Leve, em nome dos paulistas, se me permitir o Senador Eduardo Suplicy - o Senador Pedro Piva, tenho certeza, mesmo estando ausente se incorpora à voz dos paulistas - o pesar do Estado de São Paulo pela grande perda do brasileiro Antonio Mariz.
O SR. RONALDO CUNHA LIMA - Muito obrigado.
O Sr. Bello Parga - V. Exª Permite-me um aparte?
O SR. RONALDO CUNHA LIMA - Ouço V. Exª, Senador Bello Parga.
O Sr. Bello Parga - Senador Ronaldo Cunha Lima, quero associar-me ao pronunciamento repassado de mágoa e já de saudades que V. Exª faz neste momento lamentando o falecimento do Governador da Paraíba. Faço-o, não apenas em meu nome pessoal - fui companheiro de Antonio Mariz também no Senado -, mas faço-o trazendo a solidariedade da Liderança do meu Partido, o PFL, a esse evento triste que enluta o Estado da Paraíba, a sua representação federal e, principalmente, a Bancada paraibana no Senado, da qual V. Exª se fez intérprete neste momento. Pouco tive a felicidade de conviver com Antonio Mariz. Mas em aqui chegando, ao final de 1992, devido aos sucessos políticos do afastamento do Presidente Collor, logo tomei conhecimento da atuação de Antonio Mariz como Relator da Comissão processante do impeachment do Presidente da República, Comissão da qual era Presidente o nosso companheiro Elcio Alvares. E o parecer do Relator, exarado por Antonio Mariz, foi uma peça que ficou para a história jurídica e política do País, parecer de grande consistência, de grande saber, o qual pôs em relevo todos os aspectos cruciais daquela conjuntura. Os pronunciamentos que posteriormente fez no plenário desta Casa atestaram sobejamente a sua condição de mestre das letras jurídicas. Momentaneamente afastado do nosso convívio, por razões de saúde, assumindo, assim, o seu colega Ney Suassuna, e que agora o faz definitivamente, no seu regresso, por delegação do meu Partido, saudei a sua volta. Agora trago a solidariedade triste, lamentando que um homem como ele venha a faltar ao seu Estado, que necessitava muito das suas luzes, da sua coragem, do seu discernimento e do seu descortino como Governador e como político. Peço que transmita aos seus Pares da representação federal, aos familiares do extinto e ao povo da Paraíba, que o luto não é só de um Estado, não é só do Nordeste, é de todo o Brasil e a ele se associa este representante do Maranhão que também fala em nome do seu Partido.
O SR. RONALDO CUNHA LIMA - Muito obrigado, Senador Bello Parga.
Os pronunciamentos que acabo de ouvir dos eminentes Senadores aparteantes se de um lado confortam a minha alma, de outro, tenho certeza, amenizam a profunda dor, o sentimento doído do povo paraibano.
Levarei, Srªs e Srs. Senadores, ao atual Governador José Maranhão, pleno de responsabilidades por substituir um homem da estirpe de Antonio Mariz, todo o apoio aqui recebido. Levaremos a ele esse apoio, como o de todos os Partidos, toda a Paraíba, pelo que pude colher ontem na Assembléia, tem o compromisso de ajudá-lo nessa hora difícil. Levarei ao Governador José Maranhão esse testemunho de solidariedade à Paraíba transmitido pelos Srs. Senadores. Mas levarei também à Mabel, a sofrida esposa, dedicada esposa do meu amigo Antonio Mariz, que o acompanhou com bravura, com resistência, com resignação, prestando-lhe apoio, carinho, amor, afeto em todos os instantes, esse testemunho para que possa se orgulhar do marido que teve. Direi à Luciana e Adriana que podem se orgulhar de seu pai porque ele, ao longo de toda sua vida, semeou exemplos nos caminhos em que andou, deixou marcas positivas nas estradas que palmilhou, honrou os cargos que desempenhou.
Antonio Mariz, com o testemunho público do Brasil inteiro, recebe o reconhecimento de uma vida de sacerdócio, de uma vida pautada, acima de tudo, como disse no início de minhas palavras, na coerência, na fidelidade e na honestidade.
Levarei à Dª Noemi, sua sofrida mãe, que o assistiu até os últimos instantes, com a mesma altivez do filho e com a mesma fortaleza que o animava, o testemunho de reconhecimento ás virtudes de seu filho.
Levarei a José Mariz, seu irmão, atingido por essa dor imensa que marca profundamente a todos nós, esses depoimentos dos Srs. Senadores, dos que conviveram com Antonio Mariz e dos que não puderam ter o privilégio de com ele conviver.
O Sr. Carlos Patrocínio - V. Exª me permite um aparte, nobre Senador Ronaldo Cunha Lima?
O SR. RONALDO CUNHA LIMA - Pois não, nobre Senador Carlos Patrocínio.
O Sr. Carlos Patrocínio - Estava em meu gabinete, quando ouvi que esta sessão seria transformada em sessão de homenagem póstuma a Antonio Mariz, que foi um grande amigo de todos que aqui conviveram com ele. Antonio Mariz desaparece precocemente quando mais a Paraíba e o Brasil precisavam dele. Na realidade, tanto a Paraíba quanto o Brasil estão necessitando de homens da estirpe de Antonio Mariz. Gostaria de dizer a V. Exª e aos demais companheiros que me tornei um grande amigo do Senador Mariz em um viagem que fizemos pela Interparlamentar, quando passamos pelo Japão, China e Coréia do Norte. Naquela ocasião, pude conviver com aquele homem de alma enorme, com aquele homem de grande conhecimento e intransigente no cumprimento de seus deveres. Eminente representante da Paraíba, Senador Ronaldo Cunha Lima, tive a oportunidade de conversar com um dos médicos que assistia o Senador Mariz em São Paulo por ocasião da sua cirurgia que culminou com a ressecção de parte extensa do seu intestino delgado. Não entendia muito bem por que Antonio Mariz ainda pretendia ser candidato a Governador da Paraíba. Não sei se lhe estariam sonegando informações. Depois percebi que Antonio Mariz seria o nome ideal e imbatível para governar a Paraíba. Provavelmente, o PMDB teve de lançar mão de sua candidatura e, talvez, até o tenha sacrificado. Por isso, digo que Antonio Mariz deu a sua vida, a
sua saúde, já que deveria fazer mais repouso, em prol da Paraíba e do Brasil. Portanto, transmita a D. Mabel, às suas filhas e a toda a família enlutada o pesar deste que se transformou num de seus grandes amigos. Lembro-me de que Antonio Mariz era o meu colega de fumar escondido. Hoje o fumo está sendo banido dos recintos fechados, e, às vezes, eu e Antonio Mariz, que foi um inveterado fumante como eu, fugíamos da sessão para um local onde pudéssemos fumar. Não sei se foi o cigarro que precipitou ou antecipou o aparecimento da sua enfermidade, mas, com certeza, deve ter colaborado para isso. Lembro-me de que comprei nos Estados Unidos dois produtos de última geração contra o fumo, entreguei um a Antonio Mariz e utilizei o outro. Mesmo assim, até hoje não consegui parar definitivamente de fumar; estou diminuindo o consumo do cigarro. Todas as vezes em que tenho vontade de abandonar o fumo, penso muito no sacrifício que Antonio Mariz fez para deixar o vício de fumar e não o conseguiu. Ele sempre foi muito rebelde aos ensinamentos às informações que lhe eram dadas a respeito de deixar de fumar. Portanto, Senador Ronaldo Cunha Lima, leve a toda a família enlutada esta mensagem de pesar e de condolências da Bancada do Estado de Tocantins e também do seu Governador, que foi grande amigo de Antonio Mariz na Câmara dos Deputados.
O SR. RONALDO CUNHA LIMA - Muito obrigado, Senador Carlos Patrocínio.
O Sr. José Agripino - Permite-me V. Exª um aparte?
O SR. RONALDO CUNHA LIMA - Ouço V. Exª, Senador José Agripino.
O Sr. José Agripino - Gostaria, inicialmente, Senador Ronaldo Cunha Lima, de cumprimentá-lo pela iniciativa de propor que esta sessão se transformasse numa sessão de homenagem póstuma a um colega que poderia estar sentado aqui entre nós, porque o mandato de Antonio Mariz ainda se estenderia por mais quase quatro anos. Aqui fala muito mais o político e muito menos o parente. Antonio Mariz era meu primo. Convivi com ele pessoalmente e não politicamente, porque sempre pertencemos a Partidos distintos, mas posso aqui prestar um testemunho sem nenhuma paixão. Não fala aqui o parente; fala, sim, o político, o homem público de um Estado vizinho da Paraíba, que é o Rio Grande do Norte. Homem probo acima de tudo, Antonio Mariz tinha enormes qualificações pessoais do ponto de vista ético e administrativo. Foi Prefeito de Souza, onde nasceu politicamente, Deputado Federal e Governador. Derrotado por duas vezes, uma pela via indireta e outra pela via direta, para o governo do Estado, chegou, finalmente, ao seu sonho já com a saúde combalida. Eu fico a imaginar, Senador Ronaldo Cunha Lima, a sua tristeza pessoal, porque fomos colegas Governadores, V. Exª da Paraíba e eu do Rio Grande do Norte, e sei do amor que V. Exª tem pela sua terra e como gostaria de vê-la progredir pelas mãos de Antonio Mariz, que tinha tudo para fazê-lo, pois não lhe faltavam, repito, qualificações pessoais. Probo, era um bom administrador, um homem amigo dos seus amigos, mas fundamentalmente amigo dos mais pobres, e a Paraíba é um Estado pobre. Fico a imaginar a sua tristeza, que deve ser igual à tristeza do povo paraibano, ao perder um dos seus filhos mais ilustres. Não poderia deixar de proferir essas rápidas palavras de agradecimento a V. Exª, aí sim, como parente, por tomar a iniciativa desta sessão e também para apresentar no plenário do Senado as minhas condolências a Noemi, parenta do meu avô, que era mãe do Senador Antonio Mariz, à Mabel, a esposa, à Adriana e Luciana, minhas primas, e a Marizinho, casado com minha prima, filha de João Agripino, que também foi Governador, hoje, como eu, também tristes e enlutados. Com essas palavras quero agradecer a V. Exª e registrar também o meu sentimento pessoal de pesar e de tristeza pelo desaparecimento de um dos mais ilustres paraibanos, homem que vai fazer falta à vida pública da Paraíba e do Brasil.
O SR. RONALDO CUNHA LIMA - Muito obrigado.
Ouço o Senador Antonio Carlos Magalhães.
O Sr. Antonio Carlos Magalhães - Pedi um aparte para solidarizar-me com V. Exª. Serei muito breve porque V. Exª já está a terminar - e com muito brilho, como sempre o faz - sua oração tão sentida. Por nós falará o eminente Senador Prof. Josaphat Marinho, que irá dizer do sentimento do nosso Partido, porque foi seu colega. Queria apenas me associar às homenagens do povo da Paraíba a Antonio Mariz. Com o aparte do Senador José Agripino, posso dizer que conheço essa dinastia dos Mariz e Maia, há muitas décadas, nas suas grandes virtudes e nos seus pequenos defeitos. Assim conheci o Senador Antonio Mariz também e vejo que V. Exª lhe está fazendo justiça. Eu quero fazer uma grande justiça a V. Exª em relação a essa grande figura da política, sua coragem, sua bravura. Falo do fato de V. Exª tê-lo indicado para seu sucessor. Evidentemente em virtude do prestígio de que V. Exª desfrutava, indicar o nome de alguém capaz e com essas virtudes também pesa muito. Portanto, quando estamos a chorar a perda de um homem público desse valor, nós temos a salientar também que V. Exª houve por bem, por amor à sua terra, indicá-lo para Governador. Quero associar-me ao pesar do Senado e do País pelo falecimento de Antonio Mariz.
O SR. RONALDO CUNHA LIMA - Muito obrigado Senador Antonio Carlos Magalhães, obrigado Senador José Agripino, obrigado Srs. Senadores pelas homenagens ao Senador, ao Governador e ao amigo Antonio Mariz e, agradeço também a deferência a este modesto orador que, em verdade, sente e sofre a ausência do amigo e do companheiro.
Os que me conhecem mais intimamente sabem que por formação, ou deformação, sou emotivo. Gosto de cultivar as amizades e guardar fidelidade a esse sentimento. Sofri muito desde o instante em que Antonio Mariz começou a revelar os sinais de debilidade física. Lembro-me, e permito-me até esta confissão, que procurei, em alguns instantes, na campanha superar a mim próprio para suprir a ausência, em determinados instantes, do companheiro que não podia cumprir integralmente a agenda estabelecida. Cheguei a dizer-lhe que ele guardasse as suas forças para usá-las em favor do Estado, que necessitava do seu espírito público, da sua correção e da sua capacidade de governar e administrar.
Ele sempre se revelou otimista e confiante. Nunca esperou morrer tão cedo. Ainda poucos dias antes de seu falecimento dava instruções, adotava medidas, falava aos funcionários e apontava caminhos como quem desconhecesse a vizinhança da morte. Era a grandeza de sua força interior. Para ele, talvez, maior do que a dor física que sentia, era a dor de não fazer o que queria. Morreu como um bravo, como bravamente viveu.
Ontem, eu vi a Paraíba chorando a sua morte. Na saída do féretro da granja, onde residia, até o Palácio da Redenção, já passava da meia-noite, eu vi uma cidade oferecendo um contraste: luzes se acendendo nas ruas e sonhos se apagando nas almas. Lenços, adeuses, acenos, feições doloridas e doídas, o semblante transformado da cidade, que parecia não ter aceito o crepúsculo de uma vida que nasceu para criar auroras. É que ali anoitecia; anoiteciam os sonhos e as esperanças.
Conforta-nos, entretanto, a certeza de que os sonhadores morrem mas não morrem os sonhos. E, nós que guardamos fidelidade ao nome e à história de Antonio Mariz, haveremos de conduzir esses sonhos para fazê-los nascer de novo. A Paraíba perdeu um grande líder e eu perdi um amigo grande.
Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente. Muito obrigado.