Fala da Presidência durante a 155ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

A MESA SE ASSOCIA AS HOMENAGENS PRESTADAS A MEMORIA DO ACADEMICO AUSTREGESILO DE ATHAYDE, FIGURA MARCANTE DA VIDA CULTURAL BRASILEIRA.

Autor
José Sarney (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: José Sarney
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • A MESA SE ASSOCIA AS HOMENAGENS PRESTADAS A MEMORIA DO ACADEMICO AUSTREGESILO DE ATHAYDE, FIGURA MARCANTE DA VIDA CULTURAL BRASILEIRA.
Publicação
Publicação no DCN2 de 26/09/1995 - Página 16491
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, AUSTREGESILO DE ATHAYDE, ACADEMICO, PERSONAGEM ILUSTRE, CULTURA, BRASIL, EX PRESIDENTE, ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (ABL).

O SR. PRESIDENTE (José Sarney) - Antes de encerrar a sessão, quero agradecer, em nome do Senado Federal, a presença dos Srs. Embaixadores da Argentina, da República Eslovaca, das Comunidades Européias, da Turquia, ao membro da Academia Brasileira de Letras, Arnaldo Niskier, da Academia de Letras de Brasília, Mauro Castro, seu Presidente, Guiomar Chianca e Mara de la Rocha, Geraldo Freire, Adilson Vasconcelos, Fagundes de Oliveira e Maria de Lourdes Reis, ao Dr. Paulo Cabral, Presidente do Condomínio dos Diários Associados, ao Dr. Henrique do Cerro Azul, Subsecretário-Geral da República, à família do homenageado - Antônio Vicente de Athayde, Roberto Athayde e Laura Sandroni - pela presença honrosa com que ajudaram o Senado Federal, nesta manhã, a tornar mais solene esta sessão.

Devo dizer também duas ou três palavras; não posso fugir a fazê-lo.

Para mim é muito difícil falar sobre Athayde sem a marca da profunda amizade que nos ligou durante toda a vida, amizade esta que, posso dizer, constitui uma das marcas mais profundas e de maior orgulho da graça de ter vivido.

Como aqui foi dito, os grandes homens não morrem; ao contrário do que afirmou Rainer Maria Riltte, quando soube da morte de Rodin, que todos os grandes homens já morreram. Athayde foi uma figura emblemática deste País, neste século, um século talvez pobre de grandes figuras emblemáticas da Nação. Mas ele conseguiu ser uma síntese nacional e, em determinado momento, a única unanimidade que tinha este País, na sua figura de grande intelectual, na sua figura simbólica daquilo que representava os mais altos valores do Brasil.

É difícil para mim pensar que Athayde esteja morto, porque ele era a própria expressão da vida. Sempre julgo que ele esteja ausente, mas nunca morto. Ele jamais deixará de estar presente na alma de todos aqueles que o conheceram. Para o futuro, os que não o conheceram não poderão ter desfrutado da ventura de ter convivido e ter visto um homem de tão grandes e tão altas virtudes. Ele era o pensador, o humanista e, ao lado de tudo isso, uma figura humana extraordinária que o tempo teve a felicidade de esculpir em seu rosto. A todos inspirava quase que a imagem de um deus presente junto de todos nós a distribuir aqueles melhores sentimentos que fazem parte do homem como criatura de Deus.

Athayde era o jornalista. Muitas vezes, na Academia, tem-se discutido se o jornalismo é ou não um gênero literário. Muitos dos nossos confrades jornalistas, ao entrarem na Academia, tiveram essa função contestada.

Athayde era jornalista e, se se perguntar hoje, se a literatura tem no jornalismo um do seu gênero, podemos dizer que em Athayde não há melhor literatura do que de todo o conjunto da sua obra de jornalista.

O jornalismo brasileiro talvez tenha três grandes referências deste século na sua modernização: o jornalismo de modernidade, o jornalismo de análise e aquele jornalismo que fugiu ao jornalismo do século XIX: panfletário, didático, do cotidiano, que passa como uma testemunha do dia-a-dia, quase que como um diário.

Talvez tenha nascido com Tobias Monteiro, quando escreveu suas grandes reportagens sobre a vida do Império e dos grandes acontecimentos que marcaram a História do Brasil. Até hoje, muitos dos livros que se escreveram sobre a nossa história, os episódios que ali estão sem reportar a fonte, nasceram do trabalho jornalístico de Tobias Monteiro.

Quiçá ao resto do século tenhamos também duas grandes referências pelo volume, pela grandeza e pela densidade de sua obra: Carlos Castello Branco, que se restringiu ao terreno político como a especialização de ser um historiador da face política do País, em profundidade, como o fez diariamente; e, outro, é Austregésilo de Athayde. Este, sendo um universo, não sendo nenhuma estrela, nenhum sol, mas um conjunto de galáxias quase que abrangendo todo o campo do conhecimento, através de tudo que escreveu, numa obra monumental de mais de cinqüenta anos de jornalismo, dia e noite a serviço da cultura e da história do nosso País.

Nós, da Academia Brasileira de Letras - há aí uma certa parte pessoal e uma certa vaidade - poderemos dizer que foi Athayde que, sem dúvida, deu à Academia o grande prestígio que ela passou a ter na vida nacional, porque ele era realmente a própria Academia, no que ela representa de sacrário dos maiores valores culturais da Nação. Ele tão bem encarnava essa função.

No Brasil inteiro, Athayde era, talvez, o único homem a quem todos respeitavam, de quem todos nada tinham a dizer. E a longa vida que Deus lhe deu serviu para moldar, retirar dele todas as paixões, todas as coisas que podiam ser menores durante a vida, para que tivesse então aquela sublimação a que chegou até o fim de seus tempos.

O destino me fez presidir esta sessão, eu que tantas vezes falei sobre Athayde, aqui, nos seus 90 anos. Depois também, quando da sua morte, o Senado teve a oportunidade, através de longos discursos proferidos por muitos oradores desta Casa, de marcar a figura de Athayde. Hoje, também, temos a oportunidade de, num ato simbólico, deixar registrado nos Anais, esses Anais que guardam para sempre a História do Brasil, que esta Casa também resolveu dar a Athayde, de uma maneira definitiva, aquele depoimento dos homens do seu tempo.

O que posso mais, ao encerrar esta sessão, senão ter uma palavra, não sei se de saudade ou de convivência eterna com que ele marcou as nossas vidas.

O Senado, nesta manhã, não faz nada mais do que cumprir o seu dever. Acho que Roberto Athayde tinha razão. Se Athayde aqui estivesse presente, ele iria dizer: "foi muito justa esta homenagem e deveria ser bem maior".

Muito obrigado. (Palmas)


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 26/09/1995 - Página 16491