O SR. NEY SUASSUNA - (PMDB-PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há um ano a Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e parte do Ceará exultavam com um projeto do então Presidente Itamar Franco de fazer a transposição das águas do São Francisco. E nós, da Paraíba, ainda mais estávamos felizes porque enquanto os outros queriam água para irrigação, nós precisávamos de água para consumo humano e animal.

E foi com alegria que verificamos a celeridade com que o Governo se lançava nesse projeto. Chegou-se mesmo a pensar em não fazer concorrência para a sua execução, entregando-a aos batalhões de engenharia do Exército nacional. Era uma euforia só. Nós íamos ao sertão, àquela região de Cajazeiras, Souza, Patos e todos diziam: até que enfim vai ser cumprida a promessa ainda feita no Império, quando o Imperador prometia que empenharia até as jóias da Coroa para minorar o efeito da seca no Nordeste.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a terra do Nordeste é uma terra boa, principalmente a do sertão do meu Estado. Temos uma insolação excelente, e basta ter água para que tenhamos uma produção excepcionalmente pródiga.

Há poucos dias e agora mesmo, o Senador Joel de Hollanda falava que Petrolina, por dispor de água para irrigação, inaugurava um aeroporto, para que aviões cargueiros levassem as frutas produzidas em Pernambuco para a Europa e Estados Unidos. Há algum tempo era um lugar ermo, um lugar sem nenhuma produção; fez a irrigação e agora estão produzindo uvas de primeira qualidade, melões, enfim, é um oásis, e sonhamos vários meses os oásis que seriam criados com a transposição das águas do São Francisco.

Alegria de pobre dura pouco, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores. Com a mesma celeridade que o Governo se lançou num projeto que iria trazer a redenção para esses quatro Estados - como bem enfatizei, principalmente para Paraíba, porque precisamos da água para o consumo animal e humano -, o assunto foi morrendo, e hoje quase não se fala nessa transposição das águas do São Francisco.

Há poucos dias, percorri o sertão e não ouvi outro pedido senão o de que se levasse adiante esse projeto. Um projeto que custa muito pouco para a República, se considerarmos as megaobras que foram iniciadas e muitas delas estão até paralisadas, custa US$600 milhões; não é uma cifra alta, principalmente se considerarmos o benefício que esse projeto trará ao Nordeste, primeiro fixando o homem na Região, evitando a migração que traz problemas seriíssimos. Lá ficam só as mulheres, os homens saem para trabalhar e formar esses anéis de miséria que hoje estão em volta das cidades como Rio de Janeiro, São Paulo etc. Em segundo, cria para os que ficam um problema social muito sério; são famílias e famílias que perdem os seus chefes, que vêm para o sul e já, ou por acidente, ou por outras razões, ou até porque recomeçam a vida, não voltam, criando-se um problema social sério.

O Sr. Carlos Wilson - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. NEY SUASSUNA - Com muito prazer, nobre Senador.

O Sr. Carlos Wilson - Senador Ney Suassuna, antes de tudo, quero parabenizá-lo pelo discurso que faz na tarde de hoje. Nós, do Nordeste, sabemos da importância da questão da água, e esse projeto de transposição do rio São Francisco já se discute há muito tempo em nossa região. Lembro-me bem de que, quando deixei o cargo de Secretário Nacional de Irrigação - exercido por apenas dez meses no Governo Itamar Franco -, fiz uma carta ao Presidente, onde dizia da minha honra em ter pertencido ao seu Governo; e que Sua Excelência poderia ter sido o Presidente da República que mais realizou na área hídrica, se concluísse - faltava menos de um ano para o término do seu Governo - os projetos a ela referentes: projetos de irrigação, de barragens, de açudes, enfim, projetos da maior importância para nossa região. Lembro-me bem de que nessa carta eu destacava alguns projetos da Paraíba, do Rio Grande do Norte, de Pernambuco, de todos os Estados do Nordeste, e dizia que alguns projetos dependiam apenas de contrapartida do Governo brasileiro: projetos em que este havia assinado compromissos com o Banco Mundial, em relação aos quais não honrava nem a contrapartida. Lembrava a Sua Excelência que, para concluir 34 projetos de irrigação, o Governo precisaria despender apenas US$274 milhões. Tenho viajado por todo o Brasil e constatado, de forma bastante constrangida, a situação das obras paralisadas. Quando hoje se discute novamente a transposição do rio São Francisco, fico a perguntar, caro Senador Ney Suassuna, se não seria muito mais importante que se concluíssem as obras hídricas do Nordeste do que se pensar num grande projeto como esse, de transposição do rio São Francisco. Quero deixar bem claro que não sou contra a transposição do rio São Francisco. Até entendo que para a Paraíba, para o Rio Grande do Norte, é fundamental que se faça essa obra. Porém, muito mais importante, meu caro Senador Ney Suassuna, é que o Governo possa concluir as chamadas obras inacabadas, porque representam o grande desperdício que se criou neste País, principalmente nos últimos anos. Mais uma vez, parabenizo V. Exª pelo interesse, pela maneira nordestina com que trata dos temas da nossa região.

O SR. NEY SUASSUNA - Muito obrigado, Senador Carlos Wilson. Entendo, como V. Exª, que realmente precisam ter continuidade esses projetos de irrigação; porém, no caso específico da transposição das águas do São Francisco, esta é de suma importância para o Rio Grande do Norte, para o Ceará, para a Paraíba e para uma significativa região de Pernambuco; menos para Pernambuco e mais para os outros três Estados; no entanto, para a Paraíba, é primordial, porque nós precisamos de água, inclusive, para o consumo animal.

O Sr. Ronaldo Cunha Lima - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. NEY SUASSUNA - Tem V. Exª o aparte, Senador Ronaldo Cunha Lima.

O Sr. Ronaldo Cunha Lima - Senador Ney Suassuna, em momento muito oportuno, V. Exª relembra, da tribuna, um problema suscitado há muitos anos, prometido há algum tempo, anunciado já quase que recentemente, mas que, de repente, cai no esquecimento, a exemplo de muitas promessas para com o Nordeste, tão marginalizado em certas decisões e em certos momentos da nossa história. A transposição das águas do São Francisco, cujo orçamento V. Exª citou, não representa grande coisa para o País, para a Nação. É uma obra de decisão política. E tão-só no instante em que houver essa decisão política, estaria sendo iniciada - sem prejuízo, evidentemente, da conclusão, que é fundamental, das obras a que se refere o Senador Carlos Wilson, que preside uma Comissão das mais importantes desta Casa e tem prestado, com o seu espírito público, uma grande colaboração a este País. As obras inconclusas, evidentemente, precisam ter aporte de recursos para a sua conclusão, nos termos certamente defendidos pelo eminente Senador Carlos Wilson, mas isso, claro, não impede o início de obras fundamentais para a nossa região, como é a transposição das águas do São Francisco. Por isso, no instante em que V. Exª relembra o assunto, renova esse compromisso, para fazer eco na sensibilidade dos nossos governantes, especialmente do Presidente da República, transmito a minha solidariedade, os cumprimentos e as felicitações pela oportunidade do seu discurso.

O SR. NEY SUASSUNA - Obrigado, Senador Ronaldo Cunha Lima; com satisfação recolho as palavras de V. Exª a esta nossa oração.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, encerro esta atuação de hoje à tarde no plenário fazendo dois pedidos. Um, no sentido de que todos os Senadores do Nordeste se reúnam - somos 27 - e, unidos, lutemos pelas obras prioritárias para a nossa região. Temos sido sempre marginalizados e, dessa forma, nunca vamos alcançar o desenvolvimento das demais regiões.

A segunda colocação é um pedido ao Presidente da República, Senhor Fernando Henrique Cardoso, e ao Ministro Gustavo Krause, para que retomem esse projeto e devolvam a esperança que durou tão pouco entre nós, dos Estados da Paraíba, do Ceará, de Pernambuco e do Rio Grande do Norte, quando acreditávamos que uma obra definitiva iria, definitivamente, encerrar as agruras do fenômeno cíclico que tanto nos aflige, a seca.

Muito obrigado, Sr. Presidente.