Discurso no Senado Federal

TRANSCURSO DO DIA DO MEDICO.

Autor
Lúcio Alcântara (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/CE)
Nome completo: Lúcio Gonçalo de Alcântara
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE. HOMENAGEM.:
  • TRANSCURSO DO DIA DO MEDICO.
Publicação
Publicação no DSF de 19/10/1995 - Página 1242
Assunto
Outros > SAUDE. HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA, MEDICO, IMPORTANCIA, OPORTUNIDADE, ANALISE, PRECARIEDADE, MEDICINA, EXECUÇÃO, PAIS, MOTIVO, INSUFICIENCIA, RECURSOS, DESTINAÇÃO, ESTRUTURAÇÃO, HOSPITAL, FALTA, MEDICAMENTOS, AUMENTO, RISCOS, INFECÇÃO HOSPITALAR.

            O SR LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, dezoito de outubro é uma data muito especial. É o Dia do Médico.

            Médico que sou, durante muito tempo questionei a existência dessa homenagem. Por que se criar um dia especial para esse profissional empenhado em salvar vidas?

            Hoje, tenho a resposta. O Dia do Médico é mais do que festa, telefonemas, cartões e flores. É a oportunidade de falar de medicina, de médicos, de hospitais. De saúde, enfim.

            Nada mais oportuno. As eleições do ano passado provam esse fato. Na ocasião, de 55% a 75% dos eleitores elegeram a saúde como prioridade para os novos governos.

            A escolha, claro, não nasce do capricho. Sua origem está na frustração decorrente da progressiva deterioração do sistema de saúde pública. Hoje, senhor Presidente, a maioria da população brasileira não consegue cuidados de saúde adequados.

            As cenas são dramáticas. Filas enormes diante dos hospitais, prontos-socorros lotados, doentes esquecidos em macas, acidentados jogados nos cantos sem vez no atendimento, falta de médicos, carência de remédios básicos.

            Sem falar no precário estado em que se encontram os hospitais e casas de saúde de nosso país. Lembro _ só para ilustrar _ o desabamento do teto do Hospital de Base de Brasília. Um cano de água estourou por falta de manutenção e inundou as dependências destinadas a atendimento médico.

            A emergência, senhor Presidente, é um capítulo à parte. O termo emergência significa situação perigosa, capaz de inspirar cuidados especiais e atenção prioritária.

            Não é o que acontece. Instalações precárias, profissionais inexperientes, falta de equipamentos tornam a emergência um exercício de horror. Erros médicos são freqüentes, infecções hospitalares proliferam, mortes não se contam.

            Sr. Presidente, alguém já disse que ser médico no Brasil é muito diferente do que ser médico nos Estados Unidos ou na Suíça. Lá, os profissionais não precisam lutar contra o meio. Podem olhar para o paciente, submetê-lo a exames sérios e medicá-lo adequadamente.

            Aqui a situação é outra. A precariedade de nossas instituições hospitalares _ com deficiência de materiais, risco constante de infecção e insuficiência de pessoal _ é velha conhecida de todos.

            Nesse quadro sinistro, o médico, o verdadeiro profissional, trabalha como o super-homem da saúde. O paciente, muitas vezes, sai vivo da emergência por milagre de Deus e do médico.

            Isso, senhor Presidente, apesar da formação deficiente dos profissionais, da má remuneração mensal, da jornada de até 18 horas, do atendimento de 20, 30 ou até mais pacientes num turno de quatro horas, enfim, das péssimas condições de trabalho.

            Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, a saúde demanda recursos consideráveis de sorte a possibilitar o pleno exercício profissional da medicina. O que temos presenciado é um esforço inaudito para superar, com criatividade, a escassez de recursos materiais.

            Evidentemente que esses impasses não podem persistir. O preço é altíssimo. Todos bem sabemos que o valor da vida humana é o mais alto na escala axiológica. Com ele não se admite transigência.

             Desejamos, desta tribuna, alertar os gestores da administração pública, conclamar a iniciativa privada, advertir a própria sociedade para a gravidade que representa o quadro de um país sem condições de assistir aqueles que momentaneamente deixem de usufruir as condições naturais de bem-estar físico e psicológico.

            Lembremos sobretudo das crianças, das crianças humildes, dos menores desassistidos, sem teto, sem pão e, portanto, sem o signo de vitalidade que é inauguradora do tempo futuro. Sem saúde, não poderemos ter o país vitorioso, grandioso e justo com que sonhamos.

            E, nesta data, é sobretudo auspicioso enaltecer, por dever de consciência, o trabalho daqueles que, anonimamente, nos mais recuados rincões deste país imenso, dedicam-se a combater uma gama imensa de doenças, muitos com risco da própria vida.

            Bem sabemos que as patologias humanas não só dependem de causas naturais ou das intempéries, mas se vinculam visceralmente às enfermidades sociais, ao egoísmo que parece dominar o coração dos mais poderosos e ao esquecimento que faz com que muitos deixem de traduzir as realidades humanas pela triste e passageira realidade das coisas.

            O Dia do Médico, senhor Presidente, eminentes Pares, é e será sempre uma data valiosa para assinalar-se o papel e a vocação daqueles que se converteram em verdadeiros discípulos do imortal Hipócrates.

            É deles o exemplo de dedicação e amor ao próximo, de inexcedível zelo pela vida do semelhante, debruçando-se em torno dos enfermos e dali só arredando quando o esforço humano já transcende os limites da ciência para ser dominado e finalmente regido pelas Parcas inflexíveis que conduzem a senha inelutável de nossa mortalidade física.

            Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/10/1995 - Página 1242