Discurso no Senado Federal

FALECIMENTO DO EX-PREFEITO DE RECIFE, DR. AUGUSTO LUCENA. TRANSCURSO DOS SESSENTA ANOS DA EMPRESA PERNAMBUCANA DE PESQUISA AGROPECUARIA- IPA.

Autor
Joel de Hollanda (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: Joel de Hollanda Cordeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • FALECIMENTO DO EX-PREFEITO DE RECIFE, DR. AUGUSTO LUCENA. TRANSCURSO DOS SESSENTA ANOS DA EMPRESA PERNAMBUCANA DE PESQUISA AGROPECUARIA- IPA.
Aparteantes
Romero Jucá.
Publicação
Publicação no DSF de 24/10/1995 - Página 1505
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, AUGUSTO LUCENA, EX PREFEITO, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE).
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, EMPRESA PUBLICA, PESQUISA AGROPECUARIA, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE).

            O SR. JOEL DE HOLLANDA - (PFL-PE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, dois assuntos me trazem à tribuna nesta tarde. O primeiro, para lamentar o desaparecimento, ontem, do ex-Prefeito de Recife, Augusto Lucena. Esse proeminente homem nasceu na Paraíba, Município de Guarabira, formou-se em Direito, pela tradicional Faculdade de Direito de Recife, e lá construiu uma exemplar vida pública.

            Augusto Lucena foi Vereador durante duas Legislaturas; Prefeito por dois períodos administrativos; Deputado Estadual por três Legislaturas; e, Deputado Federal por uma Legislatura. Mas, sobretudo, foi na condição de Prefeito da Capital do meu Estado de Pernambuco, que destacou-se como um administrador preocupado com as áreas mais pobres daquela cidade, pelas quais trabalhou incansavelmente.

            Não existe um bairro de Recife que não contenha uma obra realizada pelo então Prefeito Augusto Lucena.

            Era como ele mesmo gostava de dizer: um prefeito dos morros e dos alagados, um prefeito que se identificava com o cidadão comum da cidade, com a população mais humilde e que por ela trabalhava incansavelmente.

            Augusto Lucena marcou a vida política do meu Estado pela sua participação, pela sua cultura, pela sua inteligência e sobretudo pelo seu amor à política, que fazia com maestria, com seriedade e com total dedicação.

            Augusto Lucena era casado com Dona Yêda Arcoverde Lucena, uma senhora também extremamente operosa e que, ao seu lado, lhe ajudou em todos os cargos públicos que exerceu. Dona Yêda esteve sempre ao seu lado em todos os momentos e foi, sem dúvida, um ponto forte na trajetória desse dedicado político pernambucano.

            Augusto Lucena deixa uma filha, Silvana Burity, neste momento abalada com o desaparecimento de seu querido pai.

            Por isso, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é que na forma do art. 218, estou encaminhando à Mesa requerimento em que solicito voto de pesar pelo desaparecimento do Dr. Augusto Lucena. Estou certo de que essa lacuna será enormemente sentida na vida política do Recife e do meu Estado, mas ficará para as futuras gerações o seu exemplo de político operoso, de político dedicado, de político que administrou a coisa pública, olhando para as populações mais humildes e mais sofridas.

            Por isso, neste momento, faço questão de registrar, desta tribuna, a perda que Recife e Pernambuco sofrem com o desaparecimento desse grande político que foi Augusto Lucena.

            O Sr. Romero Jucá - Permite V. Exª um aparte?

            O SR. JOEL DE HOLLANDA - Ouço o nobre Senador com muito prazer.

            O Sr. Romero Jucá - Gostaria também de associar-me às colocações que V. Exª faz aqui no plenário a respeito da figura pública, política e administrativa de Augusto Lucena. Tive a honra de servir na administração do então Prefeito Augusto Lucena. Comecei minha vida pública dirigindo o Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães, autarquia da Prefeitura de Recife, na administração do mesmo. Sem dúvida nenhuma a perda de Augusto Lucena para Pernambuco e para a história política do Nordeste, é muito grande. Foi prefeito de Recife mais de duas vezes, tendo uma trajetória de obras e realizações naquela cidade, inclusive de uma forma peculiar; fazer política com tiradas folclóricas, ações de cunho extremamente popular, mas, por isso mesmo, com uma conotação muito forte de trabalho social no Recife.

            Quero associar-me à iniciativa de V. Exª e, aqui no plenário, deixar minhas condolências à família e a toda a política de Pernambuco pela grande perda do nosso querido Augusto Lucena.

            O SR. JOEL DE HOLLANDA - Agradeço ao nobre Senador Romero Jucá a gentileza de seu aparte, que incorporo com muita alegria ao meu registro feito nesta tarde, na tribuna do Senado.

            Na verdade, todos nós lamentamos profundamente o desaparecimento do Dr. Augusto Lucena, que era um abnegado da causa pública, um homem que se dedicou com toda a sua inteligência e capacidade de trabalho à causa das pessoas mais humildes, dos recifenses, sobretudo. Como ele sempre assinalava, era o prefeito da cidade pobre, do lado pobre da cidade. Mesmo assim, não deixou de rasgar avenidas no Recife, de construir ginásios, de investir na educação, na saúde, no sistema de transportes da capital pernambucana. Por isso, sempre mereceu a aprovação, o respeito e a admiração dos pernambucanos.

            Portanto, Sr. Presidente, estou encaminhando este requerimento à Mesa, para que o Senado pronuncie-se neste voto de pesar ao ex-prefeito Augusto Lucena.

            O segundo assunto que me traz à tribuna é um motivo de alegria: registrar os sessenta anos de uma das empresas pernambucanas de maior relevância, de maior importância, de maior conceito entre todas as empresas públicas. Refiro-me à Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária - IPA -, que completa agora sessenta anos, portanto, mais de meio século de bons serviços prestados à pesquisa em nosso Estado.

            A Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária nasceu Instituto de Pesquisas Agronômicas de Pernambuco, em 1935, com a sigla IPA, conservada até hoje, fruto da capacidade que tinha o então Governador Carlos de Lima Cavalcanti de antever um futuro promissor e glorioso para a agropecuária brasileira, calcado em novas tecnologias e em novas pesquisas.

            Desde então, a empresa passou por duas significativas transformações: a primeira, em 1960, quando virou autarquia, e a outra, em 1975, ao ser convertida em empresa pública, com a denominação que tem hoje.

            Essas alterações retratam a preocupação de governantes, de dirigentes e de servidores em ter o IPA como uma entidade sintonizada com a personalidade jurídica que melhor lhe permitisse cumprir a sua missão institucional e que lhe assegurasse permanente atualidade, mantendo-se na vanguarda da geração e do desenvolvimento do conhecimento científico no campo agropecuário.

            O sentido permanente de aggiornamento e de antevisão do futuro nasceu com a sua própria criação. Foi o primeiro instituto de pesquisa agronômica do Nordeste e o segundo do Brasil, antecedido apenas pelo Instituto Agronômico de Campinas, São Paulo, fundado na época do Império.

            Como é sabido que o que faz o nome e o bom conceito de um instituto de pesquisa é a qualidade dos seus pesquisadores, a política de contar com pessoal de reconhecido saber sempre foi uma constante do IPA. Sempre foi grande o número de pessoas, no seu quadro de pesquisadores, com o grau de mestrado e doutorado, por exemplo.

            O intercâmbio com outras instituições de pesquisa é outra característica da vida institucional do IPA. Assim, em âmbito nacional, compartilha experiências e conhecimentos com outras instituições como a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), Banco do Nordeste (BNB), Universidade Federal Rural de Pernambuco, Universidade Federal de Pernambuco, Universidade de São Paulo, Universidade de Viçosa, Instituto Agronômico de Campinas, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA -, e, no contexto internacional, mantém cooperação com a Fundação Ford, as universidades do Texas, da Geórgia e de Purdue, nos Estados Unidos, com a FAO e com o CIAT, dentre outros.

            A despeito de lançar os seus tentáculos para o Brasil e além fronteiras, o IPA tem sua atuação preponderantemente voltada para Pernambuco e para o Nordeste.

            Sessenta anos de atuação lhe permitiram acumular muitos conhecimentos e informações quanto às propriedades físicas e químicas e quanto à fertilidade do solo da região. Na área da botânica, seu acervo é tão grande e significativo que hoje é a instituição que detém o maior e o mais antigo herbário do Nordeste e um dos maiores do Brasil, com cerca de cinquenta e seis mil exsicatas, amostras dessecadas de plantas, com identificação do exemplar, do coletor e do local da colheita.

            Na área de fitossanidade reside uma expressiva contribuição dessa empresa ao desenvolvimento da agropecuária e à defesa do meio ambiente, com a identificação dos agentes causadores da cigarrinha da cana-de-açúcar e do moleque da bananeira e com a descoberta dos métodos de controlá-los biologicamente, por meio de fungos. Também do IPA são os trabalhos que resultaram na oferta de inoculantes, que, utilizados em leguminosas, fixam o nitrogênio ao solo, com redução de custos e sensível melhoria do seu grau de fertilidade.

            Atualmente, a empresa está trabalhando para obter mudas de banana e de batatinha isentas de doenças virais, fúngicas e bacterianas.

            Em decorrência das pesquisas realizadas com hortaliças, foi possível introduzir a cultura do tomate no Vale do São Francisco, em escala comercial, o que ensejou a instalação de grandes indústrias processadoras na região. Cerca de oitenta por cento das sementes dessa herbácea aí utilizadas e mais de cinqüenta por cento das sementes plantadas no Brasil levam a marca IPA.

            A cebola é outra hortaliça que recebeu tratamento preferencial nas programações de pesquisa, tendo a empresa desenvolvido tecnologia pioneira para regiões tropicais, ao conseguir produzir sementes no semi-árido, sob o processo denominado vernalização artificial. Em conseqüência desse empenho, já foram gerados diversos cultivares que ganharam a preferência de plantadores e consumidores.

            A pecuária bovina foi outro alvo de um intenso trabalho de pesquisa do IPA, do qual derivou a criação da bacia leiteira de Pernambuco e sua expansão para o Estado de Alagoas. Foi por seu esforço que se deu a introdução do gado holandês no Estado; a prática de inseminação artificial; o aleitamento artificial de bezerros; o emprego da uréia, da tórula, do sorgo e da palma forrageira na alimentação dos animais; o controle da tuberculose bovina; a introdução do capim buffel; o estabelecimento de técnicas de engorda confinada com uso de subprodutos da cana-de-açúcar; a definição de sistemas de criação de bovinos de leite e de corte na região canavieira do Estado, bem como a criação do bimestiço girolando.

            Em decorrência ainda das pesquisas executadas em seus campos experimentais, foi possível criar o camarão de água doce em escala comercial, assim como desenvolver projetos de criação do camarão marinho, em cooperação com uma empresa chinesa.

            No tocante às frutas, o IPA já pôde colocar à disposição dos produtores um conjunto expressivo de resultados, entre os quais se mencionam: técnicas para produção de abacaxi, no período da entressafra, entre os meses de abril e julho; tecnologia para o corte da bananeira e uso de mudas capazes de produzir cachos mais pesados; métodos de sobre-enxertia do abacateiro; cultivares de goiaba para fins industriais; variedades de graviola mais produtivas; controle biológico da broca da bananeira e multiplicação vegetativa da acerola.

            Pesquisas são ainda encontradas com amiláceos - mandioca, cará e batata-doce -, com vistas ao desenvolvimento de espécies mais produtivas e resistentes a doenças e, no caso da mandioca, à introdução de novas técnicas de plantio, manejo e beneficiamento. Com o feijoeiro, foram executados trabalhos de melhoramento, de que resultaram cultivares mais produtivos e resistentes a pragas, largamente plantados na região de Irecê, na Bahia.

            A ação do IPA fez-se sentir ainda com a utilização do sorgo - na produção de grãos e forragem - e da seringueira. Em ambos os casos, pesquisas determinaram o melhoramento genético desses cultivares, de modo que produzissem mais em menor tempo e fossem menos infensos a pragas e doenças.

            Sabiamente, o IPA aplica a si o princípio de que só tem futuro quem tem passado. A julgar pelo passado, podemos assegurar que o seu futuro será altamente promissor. Se mais não foi feito foi porque as condições não o permitiram, pois boa vontade e dedicação não faltaram aos seus servidores.

            Ao tempo em que torno pública minha satisfação pela existência e atuação dessa empresa pernambucana de pesquisa e com os inúmeros resultados positivos que já alcançou para a agropecuária, principalmente de Pernambuco e do Nordeste, faço um alerta às nossas autoridades para que lhe emprestem todo o apoio financeiro para que possa ainda atender outras áreas do Estado que precisam contar com suas pesquisas e o conhecimento de seus técnicos. Nesse rol, incluo a agricultura irrigada do São Francisco, que necessita de tecnologia pós-colheita, principalmente para frutas destinadas à exportação; os brejos de altitude, totalmente inexplorados e que têm condições de se transformarem em nova fronteira agrícola do Estado; a Zona da Mata, que espera mais do IPA para explorar os cerca de oitocentos mil hectares não ocupados com a cana-de açúcar.

            Por tudo isso é que posso concluir: o futuro do IPA é ainda muito vasto, mais vasto do que as fronteiras de Pernambuco, tão vasto quanto é vasto o Brasil.

            Muito obrigado! (Muito bem!)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/10/1995 - Página 1505