Discurso no Senado Federal

OBSERVAÇÕES A COLOCAÇÕES DO SR. ROMERO JUCA A RESPEITO DO EMPENHO DO PRESIDENTE DA REPUBLICA NA ALOCAÇÃO DE RECURSOS EXTERNOS PARA A CONCRETIZAÇÃO DE IMPORTANTES PROJETOS SOCIAIS NO PAIS.

Autor
Lauro Campos (PT - Partido dos Trabalhadores/DF)
Nome completo: Lauro Álvares da Silva Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA EXTERNA. :
  • OBSERVAÇÕES A COLOCAÇÕES DO SR. ROMERO JUCA A RESPEITO DO EMPENHO DO PRESIDENTE DA REPUBLICA NA ALOCAÇÃO DE RECURSOS EXTERNOS PARA A CONCRETIZAÇÃO DE IMPORTANTES PROJETOS SOCIAIS NO PAIS.
Publicação
Publicação no DSF de 04/11/1995 - Página 2367
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • RESPOSTA, DISCURSO, ROMERO JUCA, SENADOR, DEFESA, POLITICA EXTERNA, GOVERNO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EMPENHO, OBTENÇÃO, CAPITAL ESTRANGEIRO, DESENVOLVIMENTO, BRASIL, INEFICACIA, SOLUÇÃO, PROBLEMAS BRASILEIROS.

            O SR. LAURO CAMPOS (PT-DF. Para uma explicação pessoal. Sem revisão do orador.) - Nobre Senador Romero Jucá, deve ter havido um rumor na minha comunicação, talvez tenha me expressado mal, mas não quero aprisionar nenhum Presidente da República no Brasil, apenas considero que 15 viagens ao exterior, em um período tão curto, talvez seja realmente uma demasia. Gostaria de dizer o seguinte: não acredito que viagem de presidente da República algum possa resolver os problemas nacionais.

            O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Valadares) - Solicito ao nobre Orador que, cumprindo o Regimento, S. Exª fale de pé.

            O SR. LAURO CAMPOS - Estou dando um aparte.

            O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Valadares) - V. Exª está dando uma explicação pessoal.

            O SR. LAURO CAMPOS - Desculpe-me, Sr. Presidente.

            O que me parece é que estamos há muitos anos, no Brasil, com um problema inverso daquele que o diagnóstico governamental, e paulista, nos traz.

            A crise brasileira, iniciada nos anos 70 e "empurrada com a barriga" através de subsídios, incentivos, doações, uma vez que os investimentos produtivos não podiam mais ser feitos devido ao excesso de capital investido nessa acumulação selvagem brasileira, esse capital se desvia para a especulação e cria a ciranda financeira que divide os lucros com comerciantes, industriais e banqueiros, e ao Governo, que obviamente tem que entrar em crise de exaustão diante dessa crise de sobreacumulação de capital.

            A mesma crise, de acordo com uma corrente de autores japoneses, paira sobre o Japão, por exemplo, e de acordo com Keynes foi a causadora da crise de 1929 nos Estados Unidos.

            O impulso criador de investimento e de acumulação que o capitalismo necessariamente tem, leva-o à crise de sobreacumulação. Como é que se pode esperar que venham capitais significativos desses países cêntricos para a periferia, se todos sabem que no setor automobilístico, no setor de eletrodomésticos, nos principais setores dinamizadores de nossa economia, desde os anos 50, temos um mercado totalmente saturado?

            Os consórcios tentam resolver o problema, passando para os seus grupos para até 50 meses. Certa vez, entrei num consórcio de 50 para adquirir um carro tipo Gol. Paguei 50 meses no banco; passaram para 79 meses. Paguei as 29 prestações e até hoje não recebi o carro. Fui cinco vezes ao Banco Central, a fim de alertar o serviço de fiscalização dos consórcios sobre o que havia acontecido e que eu já havia feito a quitação há 20 meses e ainda não havia recebido o carro. Disseram-me: "Não, o senhor pode se acalmar, professor, pois o seu consórcio está muito bem, vai muito bem das pernas, está muito sólido. A qualquer hora o senhor receberá seu carro."

            Nós sabemos as mágicas que o Governo faz para ampliar o mercado brasileiro, que está angusto, estreito, acanhado para a produção transplantada e acumulada no Brasil. Então, para cá só virão algumas indústrias, para disputar faixas estreitas do nosso mercado e, portanto, não haverá um processo de redinamização através de investimentos externos.

            Assim, parece-me, data venia, que esses esforços feitos pelo Governo brasileiro no sentido de trazer para um país sem mercado, depauperado, arrasado, indústrias de ponta, indústrias competitivas como outras que aqui se instalaram nos anos 50, nesses setores de produção de luxo, de duráveis e de carros, serão, realmente, uma tentativa infeliz a longo prazo.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/11/1995 - Página 2367