Discurso durante a 176ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

COMEMORAÇÃO, NA DATA DE HOJE, DOS 326 ANOS DA CIDADE DE MANAUS.

Autor
Bernardo Cabral (PP - Partido Progressista/AM)
Nome completo: José Bernardo Cabral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • COMEMORAÇÃO, NA DATA DE HOJE, DOS 326 ANOS DA CIDADE DE MANAUS.
Aparteantes
Jefferson Peres.
Publicação
Publicação no DSF de 25/10/1995 - Página 1538
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, MUNICIPIO, MANAUS (AM), ESTADO DO AMAZONAS (AM).
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, AMAZONAS EM TEMPO, ESTADO DO AMAZONAS (AM), AUTORIA, MARIO ADOLFO, JORNALISTA, HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, CAPITAL DE ESTADO.

            O SR. BERNARDO CABRAL ( -AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a minha terra está em festa. Hoje, Manaus, Capital do Estado do Amazonas, para uns, completa 326 anos, se for considerada a época da criação do Forte São José da Barra e não apenas a elevação da Vila da Barra à categoria de cidade; para outras correntes, a cidade não tem ainda essa idade toda. O que é menos importante aqui é saber o seu tempo de duração, sua existência, mas sim o que vem fazendo ao longo do tempo.

            Na época áurea da borracha e do extrativismo, Manaus era uma espécie de cidade que porejava a educação advinda da Europa. Naquela altura, quando o Amazonas contribuía com 51% do Orçamento da Nação, e um quilo de borracha custava 15 libras esterlinas de ouro, foi possível erigir o suntuoso Teatro Amazonas, que, no ano vindouro, completará 100 anos de existência. Quem conhece o que foi a saga para a construção do Teatro Amazonas e também do Palácio da Justiça há de entender que apenas em uma época áurea, em que corresse muito dinheiro, seria possível fazer, em plena selva, um templo de arte daquela categoria. À época, rodeada praticamente por uma plantação, foi preciso construir um platô, e, enquanto não havia os arranha-céus - e considero-os espigões de mau gosto -, era possível avistar-se, de toda a parte da Capital, a cúpula do Teatro Amazonas, feita com uma louça importada da Holanda.

            Anos depois, o Governo irresponsável da União desprezou aquele sentido extrativista. Enquanto, no começo do século, um quilo de borracha custava 15 libras esterlinas de ouro, depois, com a débâcle, se comprava, como cidadão, com apenas uma libra esterlina, 15 quilos de borracha. Daí à falência de muitas empresas foi um salto. Havia famílias que mandavam os seus filhos se educarem, sobretudo, em Paris. Lembro-me que a minha professora de francês, Magnólia Nery, filha de governador, esposa de governador, educada na França, era um retrato vivo do fastígio que existia na cidade de Manaus. Existia, então, uma certa cultura e isso qualquer um dos jovens da nossa geração testemunham comigo, como o meu companheiro, Senador Jefferson Péres; todos tínhamos conhecimento razoável da língua francesa, que até hoje nos acompanha em função daquelas famílias que se educavam no exterior.

            Mais tarde, com a denominada queda do extrativismo, enveredamos pela chamada Zona Franca de Manaus, que hoje, sem dúvida nenhuma, é indispensável, mas que não atendeu aos reclamos do que queríamos. Houve uma desfiguração da Cidade de Manaus.

            Há um jovem que publicou um livro, onde ele me honra com citações, inclusive com fotografias, sobre o que era a juventude daquela época, inclusive a juventude idealina. Este, então jovem, é hoje o nosso Senador Jefferson Péres, que na opinião do Senador Francelino Pereira continua jovem. Faço questão de fazer esse registro.

            O Sr. Jefferson Péres - Permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. BERNARDO CABRAL - Com muita honra.

            O Sr. Jefferson Péres - Senador Bernardo Cabral, infelizmente não pude me inscrever para falar hoje sobre o aniversário da nossa Manaus, Cidade pela qual somos tão apegados, porque antes de amazonenses somos mesmo é manauaras. Vejo que V. Exª relembra a Manaus da nossa infância e juventude com um toque nostálgico, que não pode deixar de haver, porque Manaus foi, em grande parte, desfigurada, descaracterizada com o crescimento. Aliás, como dizem os sociólogos, houve um inchaço, que, em parte, hoje, está sendo recuperado - faça-se justiça à administração atual, e o faço com muita isenção porque não pertenço ao grupo político do atual Prefeito, que está realizando um trabalho de reurbanização muito importante. Senador Bernardo Cabral, solicitei o aparte para pedir que V. Exª fale - ficarei muito honrado com o registro - também em meu nome ao exaltar a nossa cidade natal.

            O SR. BERNARDO CABRAL - Agradeço a V. Exª, nobre Senador Jefferson Péres, a honrosa delegação e aproveito para registrar que os políticos que exercem o seu mandato com seriedade estão acima de questiúnculas político-partidárias. Acabo de ouvir o Senador Jefferson Péres declarar que, embora não pertencendo ao grupo político do atual Prefeito, reconhece que a Cidade está melhorando.

            A propósito, Sr. Presidente, trago uma reportagem intitulada "Manaus Resgata o Sorriso", a qual solicito que determine a sua inscrição nos Anais da Casa, produzida pelo Jornalista Mário Adolfo, que é editor do Jornal Amazonas em Tempo e um dos cultores da inteligência amazonense. Nessa manifestação S. Sª começa por uma frase do atual Prefeito Eduardo Braga, que registra o seguinte:

            "Acabou aquela história de dizer que Manaus era a capital do cólera, do lixo e dos buracos. Hoje a cidade entrou na mídia e já faz parte do contexto nacional.

            Hoje acabou aquela história de dizer que Manaus era a cidade da doença e dos índios. Tudo bem. Nós todos somos descendentes de índios. Mas não é porque somos descendentes de índios que vamos ser relegados ao segundo plano.

            Temos mais é que mostrar que somos competentes, que podemos construir uma cidade moderna, preservando a nossa cultura", diz Braga.

            Sr. Presidente, este Prefeito acaba de receber, da Pesquisa RCT Telemarketing, de São Paulo, um laurel, apontando-o como o segundo melhor prefeito do Brasil. Ora, aqui cabe menos o elogio do que o registro sincero, pois sincera é aquela mesma pergunta que faz Mário Adolfo:

            "Qual é a cara de Manaus? De uma cidade com características européias, até pouco tempo, encravada no meio da floresta? De uma cidade descaracterizada onde antigos casarões resistem ao avanço de meia dúzia de espigões ou de uma cidade que se moderniza, se enche de cores, sem, contudo, esquecer o seu passado histórico?

            Manaus é uma cidade de muitas caras. Tem cara de índio, de português, de negro e até de japonês."

            Sr. Presidente, embora os tutores da Capital tenham resolvido adotar duas cidades, uma de 326 e outra de 147 anos, quero me apegar exatamente a isto. Tem cara de negro porque naquela terra não existe, em nenhum segmento, a chamada discriminação racial. Vou até mais longe: não existe sequer o preconceito social, tampouco o preconceito para com o índio, o português, o italiano, o judeu, o turco, o libanês, o sírio. Houve como que uma integração tão grande na Cidade de Manaus que quando o conflito do Oriente Médio, entre Israel e Palestina, se fazia mais acentuado, os palestinos e os judeus conviviam como irmãos, fruto de quem soube vencer a inclemência do tempo. O amazonense é, sobretudo, um vitorioso não porque a vitória é conquistada na batalha através das armas, mas porque ela é conquistada através das enchentes, é conquistada através do índice pluviométrico, conquistada através do calor, e, sobretudo, pela dignidade que cada um desenvolve em favor da sua terra.

            Portanto, Sr. Presidente, no momento em que a minha cidade natal completa mais um ano, não poderia deixar de registrar mais do que a alegria, a honra de ali ter nascido. E ao mesmo tempo que faço este registro, agradeço aos eminentes Senadores pela atenção dispensada.

            Era o que tinha a dizer. (Muito bem!)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/10/1995 - Página 1538