Discurso no Senado Federal

CRISE DA SAUDE PUBLICA NO PAIS. LAMENTANDO PELO CANCELAMENTO DE EMPRESTIMOS AO SETOR, EM VIRTUDE DA FALTA DE OPERACIONALIDADE DOS ORGÃOS RESPONSAVEIS.

Autor
Valmir Campelo (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/DF)
Nome completo: Antônio Valmir Campelo Bezerra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE.:
  • CRISE DA SAUDE PUBLICA NO PAIS. LAMENTANDO PELO CANCELAMENTO DE EMPRESTIMOS AO SETOR, EM VIRTUDE DA FALTA DE OPERACIONALIDADE DOS ORGÃOS RESPONSAVEIS.
Aparteantes
Sebastião Bala Rocha.
Publicação
Publicação no DSF de 01/11/1995 - Página 2218
Assunto
Outros > SAUDE.
Indexação
  • SITUAÇÃO, PRECARIEDADE, SAUDE, BRASIL.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, ADIB JATENE, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA SAUDE (MS), OBJETIVO, APROVAÇÃO, TRIBUTOS, CONTRIBUIÇÃO, ATENDIMENTO, SAUDE.
  • CRITICA, BUROCRACIA, GOVERNO FEDERAL, PERDA, FINANCIAMENTO, EMPRESTIMO EXTERNO, MOTIVO, ATRASO, EXECUÇÃO, PROJETO, SAUDE.
  • DEFESA, CRIAÇÃO, COMISSÃO, CONGRESSO NACIONAL, FISCALIZAÇÃO, EXECUÇÃO, FINANCIAMENTO, PROJETO, SAUDE.
  • REGISTRO, PROTESTO, SITUAÇÃO, SAUDE, BRASIL.

            O SR. VALMIR CAMPELO (PTB-DF. Pronuncia o seguinte discurso) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, acredito que, nos dias de hoje, todos os brasileiros, de uma forma ou de outra, têm conhecimento da monumental crise por que passa o setor de Saúde em nosso País.

            Mesmo que fosse possível ignorar as denúncias freqüentes dos meios de comunicação, que nos bombardeiam com imagens e notícias de hospitais inoperantes e caindo aos pedaços, com a crônica falta de remédio e com a corrupção que corre solta em todo sistema, bastaria a qualquer um de nós demandar um simples exame ou um mero curativo num desses centros da rede pública, para concluirmos que, desgraçadamente, a Saúde está falida no País.

            Tenho acompanhado, com enorme interesse, os esforços do Ministro da Saúde, nessa cruzada quase santa, em busca de meios e soluções para salvar e restaurar o sistema de Saúde brasileiro.

            Sua luta para conseguir a aprovação da Contribuição sobre Movimentação Financeira, o CMF, visando obter recursos para tirar o sistema de Saúde do abismo, não deixa dúvida quanto às dificuldades financeiras do seu Ministério.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, diante desse quadro, causou-me indignação a notícia de que o Brasil perdeu US$103 milhões do BIRD, destinados a financiamentos na área da Saúde, porque houve atraso na execução dos projetos e incompetência da burocracia estatal.

            Segundo notícia veiculada pelo jornal Correio Braziliense, em sua edição de ontem, 30.10.95, o Banco Mundial teve que cancelar três contratos de empréstimos de baixo custo para as áreas carentes, porque não foram cumpridas etapas indispensáveis a cargo do Governo brasileiro.

            Além do mais, o País terá que desembolsar milhões de dólares para saldar a comissão de compromissos, prevista nas cláusulas dos contratos.

            Toda essa sinistra trapalhada veio à tona a partir de auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União), destinada a apurar os custos financeiros de atrasos na execução de projetos financiados com créditos externos.

            Segundo o Ministro Iram Saraiva, do Tribunal de Contas da União, "é estarrecedor saber que empréstimos de baixo custo estão sendo cancelados porque o Brasil não reuniu condições para cumprir sua parte nos acordos".

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, segundo dados do TCU, os contratos cancelados tinham por objetivo financiar os seguintes programas de saúde pública:

            1 - Controle de endemias no Nordeste, onde o Brasil deixou de receber US$27 milhões;

            2 - Controle da malária, cujas perdas foram calculadas em US$26 milhões;

            3 - Programa de Saúde Básica no Nordeste, que perdeu a inacreditável soma de US$50 milhões.

            Sinceramente, Sr. Presidente, sinto-me extremamente constrangido com essa situação. Não é possível que irresponsabilidades como essas venham a agravar, ainda mais, o estado de desespero em que se encontra o nosso sistema de Saúde. Não posso admitir que recursos destinados a salvar vidas sejam perdidos por falta de operacionalidade dos órgãos responsáveis.

            Razão tem o nobre Senador Coutinho Jorge ao defender a criação de uma Comissão de Fiscalização do Congresso, destinada a fiscalizar casos como esse. Aprovo, inteiramente, a idéia do digno representante do Pará, Coutinho Jorge, e, inclusive, já determinei a minha assessoria um amplo estudo com vistas a uma proposta nesse sentido.

            No meu modo de ver, precisamos ter uma Comissão Mista Permanente de Fiscalização para que o Congresso Nacional possa apurar, coibir e evitar situações como essa que, além de prejudicar a população, compromete e imagem do País perante a comunidade internacional.

            Fica aqui, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o meu mais veemente protesto contra essa irresponsabilidade. Tenho o compromisso intransigente de ajudar e procurar soluções para a gravíssima crise que enfrentamos no setor da Saúde. Não posso, entretanto, tolerar abusos como esse.

            Peço providências urgentes ao Sr. Ministro da Saúde, no sentido de apurar responsabilidades e equacionar, sem demora, essas insustentáveis falhas, esse odioso desinteresse, que vem custando preciosas vidas à Nação brasileira.

            O SR. Sebastião Rocha - Permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. VALMIR CAMPELO - Pois não, nobre Senador.

            O SR. Sebastião Rocha - Senador Valmir Campelo, associo-me as suas colocações, ao discurso proferido por V. Exª na tarde de hoje. Também convivo intimamente com o caos por que hoje passa a Saúde no nosso País. Os membros desta Casa sabem que sou médico e servidor público. Trabalhei 10 anos de minha vida em hospitais públicos e conheço muito bem a precária realidade por que passa a Saúde no nosso País e a pouca atenção dispensada aos nossos doentes. Não só na área da Saúde, mas praticamente em todas as áreas de atendimento social, quanto mais humilde o cidadão, mais sofrimento, mais desamparo. Fico entristecido ao tomar conhecimento, através do discurso de V. Exª, de que o Brasil não terá essa contribuição, essa parceria do BIRD com relação ao financiamento do nosso tão precário setor Saúde, embora o Ministro da Saúde venha lutando com muita garra, determinação e entusiasmo para conquistar recursos tanto a nível nacional, quanto externo. Recentemente, em uma palestra, o próprio Ministro nos disse que aguardava a assinatura desse convênio, a viabilização desse convênio, mas agora V. Exª nos informa que o Brasil, talvez por irresponsabilidade do nosso sistema burocrático, não atendeu aos requisitos e orientações, deixando, portanto, de trazer para o nosso setor de Saúde essa soma significativa de recursos que muito iria contribuir para amenizar o sofrimento daqueles que necessitam de atendimento público nessa área. Quero, portanto, congratular-me com V. Exª e entendo que nós, no Senado, temos que olhar com muita atenção realmente para essas questões. Espero que o Ministro, da mesma forma que pede V. Exª, tome as providências necessárias para - se realmente houve falhas na burocracia ou em algum outro setor do Ministério - punir os infratores. Se a falha é em outro órgão que não o Ministério da Saúde, que o Presidente da República venha a tomar as devidas providências, porque estamos votando a favor do CMF, mas de certa forma contrariados; estamos votando a favor em razão do apelo veemente do Ministro e em razão da necessidade por que passa o setor, que realmente necessita de um socorro nessa área de financiamento público. Aqui fica o nosso sincero apoio a V. Exª e conte conosco nas ações que demandarem desse seu discurso. Muito obrigado.

            O SR. VALMIR CAMPELO - Obrigado, nobre Senador Sebastião Rocha. Fico muito feliz com a intervenção de V. Exª, pois, como disse, além de servidor público, é médico atuante, é político e compreende perfeitamente o problema da Saúde em nosso País. É realmente lamentável assistirmos a uma devolução de recursos de mais de US$100 milhões, porque a burocracia do Governo impediu que o mesmo cumprisse a sua parte. É lamentável esse fato, pois o Nordeste muito necessita de assistência na área da Saúde - e uma das partes do convênio se referia ao controle de endemias e a outra parte se referia ao combate da malária -, o nosso povo, a classe sofrida da nossa população tanto precisa desses recursos e dos hospitais públicos do Governo.

            Então, fica aqui, mais uma vez, a minha revolta, o meu veemente protesto pelo fato de no momento em que o Ministro da Saúde vem a esta Casa nos convencer da necessidade de aprovarmos a Contribuição de Movimentação Financeira a ser empregada na área da Saúde do nosso País, dizendo que não há recursos, assistimos a uma denúncia como esta, em que o Brasil perde milhões de dólares porque a parte burocrática do Estado não funciona, fazendo com que esses recursos sejam perdidos.

            Agradeço a interferência e o apoio que V. Exª está nos dando. E lamento profundamente o ocorrido.

            Muito obrigado, Sr. Presidente. (Muito bem!)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/11/1995 - Página 2218