Pronunciamento de Humberto Lucena em 20/11/1995
Discurso no Senado Federal
HOMENAGENS POSTUMAS AO DIRETOR-PRESIDENTE E PROPRIETARIO DO GRUPO MANCHETE, SR. ADOLPHO BLOCH.
- Autor
- Humberto Lucena (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
- Nome completo: Humberto Coutinho de Lucena
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM.:
- HOMENAGENS POSTUMAS AO DIRETOR-PRESIDENTE E PROPRIETARIO DO GRUPO MANCHETE, SR. ADOLPHO BLOCH.
- Aparteantes
- Edison Lobão, Eduardo Suplicy, Elcio Alvares, Esperidião Amin, Josaphat Marinho.
- Publicação
- Publicação no DSF de 21/11/1995 - Página 3298
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM POSTUMA, ADOLPHO BLOCH, EMPRESARIO, PROPRIETARIO, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
O SR. HUMBERTO LUCENA (PMDB-PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não pode passar sem o devido registro nos Anais do Senado o falecimento, ocorrido em São Paulo, no Hospital da Beneficência Portuguesa, do diretor-presidente e proprietário do Grupo Manchete, Adolpho Bloch que, sem dúvida, se tornou uma das personalidades mais atuantes do nosso sistema de comunicação social.
Chegando ao Brasil nos anos 20, desde cedo, dedicou-se à imprensa, e, posteriormente, continuando nesse setor, lançou a revista Manchete, que passou a ter um mercado de leitura altamente significativo em todos os quadrantes do território nacional, seja pela sua apresentação gráfica, seja pela sua orientação editorial.
A revista Manchete conquistou, logo, a simpatia dos brasileiros, concorrendo durante um certo tempo, com a revista O Cruzeiro dos Diários Associados, a qual não resistiu e encerrou as suas atividades, por força da crise que se abateu sobre o conglomerado de Assis Chateaubriand.
Posso dar um testemunho, porque, nos anos 70, após ser vítima de um acidente eleitoral na Paraíba, quando o voto em branco impediu que eu e Argemiro de Figueiredo, ao lado de outros tantos candidatos, em vários Estados, chegássemos ao Senado pela legenda do MDB, diante do protesto de estudantes e de trabalhadores contra o autoritarismo então reinante, trabalhei durante quatro anos nos Diários Associados, ao lado de João Calmon, na sede da revista O Cruzeiro, no Rio de Janeiro. Pude aprofundar-me na crise que se instalou não só naquele veículo dos Diários Associados, mas em outros que precisaram, a tempo e a hora, requerer o parcelamento de seus débitos com a Previdência Social e com a Receita Federal, na tentativa de sobreviverem.
Mas a Manchete continuou, com aquele seu colorido forte, a impressionar bem o nosso público leitor. E todos nós sabíamos que, por trás dela, estavam grandes profissionais, como ainda ocorre hoje. Sobretudo, até bem pouco tempo, a figura extraordinária de Adolpho Bloch, que se tornou um brasileiro dos mais brasileiros, pelo amor que tinha à nossa Pátria, é que a impulsionava.
O Sr. Edison Lobão - Permite-me V. Exª um aparte?
O SR. HUMBERTO LUCENA - Ouço V. Exª.
O Sr. Edison Lobão - Todos nós, brasileiros, sentiremos a ausência de um grande capitão de empresa, o homem que dedicou a sua vida à imprensa de boa qualidade. A revista Manchete é um símbolo disso, e a televisão que ele montou procura ser também. Adolpho Bloch deixa-nos saudade e um vácuo neste setor fundamental da vida nacional.
O SR. HUMBERTO LUCENA - Muito obrigado a V. Exª. E eu diria, nobre Senador Edison Lobão, que, justamente após o êxito da revista Manchete, que ainda hoje é inconteste no País, o que talvez tenha levado Adolpho Bloch, como empresário, a uma situação de dificuldades foi justamente o desafio da televisão.
Homem de comunicação, ele não quis ficar atrás dos que se dedicaram à televisão e resolveu investir na Rede Manchete. E talvez, justamente por ser um investimento muito caro e de retorno muito demorado, o Grupo Bloch tenha enfrentado maiores problemas.
O fato é que ninguém pode negar a abnegação que ele teve não só para com a revista Manchete, mas também para com a televisão, procurando salvá-la a cada instante, fazendo novas negociações, tentando levar a TV Manchete a estar sempre presente no vídeo brasileiro e, sobretudo, de uns tempos para cá, produzindo, no campo das telenovelas, grandes obras, de alto sentido histórico para o Brasil.
No instante em que falo sobre Adolpho Bloch, quero fazer uma menção ao extraordinário apoio que ele deu, através da Manchete, ao Governo Juscelino Kubitschek de Oliveira. A sua afeição pelo ex-Presidente é muito conhecida. Ele se deu de corpo e alma à sustentação do Governo Juscelino Kubitschek, do seu Plano de Metas e, sobretudo, da sua meta-síntese, que foi Brasília.
Ainda hoje sabem V. Exªs como a imprensa relembra, sobretudo no seu elogio fúnebre, aquele abraço fraterno em que ele sempre aparece na Manchete e nos jornais do País com Juscelino Kubitschek, numa demonstração de carinho e de afeto pelo construtor de Brasília e por aquele que foi um dos maiores estadistas do País, que fez o Brasil crescer cinqüenta anos em cinco.
O Sr. Josaphat Marinho - Permite-me V. Exª um aparte?
O Sr. Esperidião Amin - Permite-me V. Exª um aparte?
O SR. HUMBERTO LUCENA - Pois não, Senador Josaphat Marinho.
Em seguida, ouvirei V. Exª, nobre Senador Esperidião Amin.
O Sr. Josaphat Marinho - Nobre Senador, não conheci pessoalmente Adolpho Bloch, mas quero confirmar toda a apreciação que V. Exª faz a respeito de sua presença nos meios de comunicação no País. Quero assinalar um fato - porque também não fui correligionário do Sr. Juscelino Kubitschek -, o que quero assinalar é a dignidade de procedimento de Adolpho Bloch. Depois que Juscelino entrou em desgraça política, quando tantos de seus amigos e correligionários dele se afastaram - mais do que se afastaram, dele corriam -, Adolpho Bloch dele mais se aproximou, revelando-se o amigo sem perguntar se os seus interesses próprios de homem de televisão poderiam ser prejudicados por esse gesto de grandeza. Nesta hora, assinalo sobretudo essa particularidade da personalidade de Adolpho Bloch.
O SR. HUMBERTO LUCENA - V. Exª tem toda razão. Essa solidariedade a Juscelino agigantou-se justamente depois da sua cassação. Inclusive quando os jornais, de modo geral, estavam proibidos de mencionar o nome dos cassados e dos que tiveram os seus direitos políticos suspensos, Adolpho Bloch fazia questão de colocar as homenagens a Juscelino nas páginas da Manchete, e não só isso, concedeu-lhe uma sala na sede da revista Manchete do Rio de Janeiro, no momento em que ele não tinha onde despachar na cidade maravilhosa.
Ouço o nobre Senador Esperidião Amin.
O Sr. Esperidião Amin - Nobre Senador Humberto Lucena, desejo, associando-me ao sentido das palavras que V. Exª está a proferir, aduzir, especialmente em função do aparte do Senador Josaphat Marinho, a minha própria manifestação e a do Partido que tenho a honra de presidir a sincera solidariedade aos companheiros de trabalho de Adolpho Bloch e, acima de tudo, de respeito à obra empresarial e humana, tão bem ressaltada pelo Senador Josaphat Marinho, edificada ao longo dos oitenta e sete anos de sua vida. Empreendedor, homem com traços de lealdade e coerência muito nítidos, sem dúvida nenhuma, fica como um exemplo sob os dois aspectos, além da própria utilidade e relevância dos serviços prestados pela organização que construiu em nosso País na área das comunicações. Solidarizo-me, por isso, com o sentido do pronunciamento de V. Exª e associo-me aos pêsames e também ao reconhecimento do exemplo de Adolpho Bloch.
O SR. HUMBERTO LUCENA - Muito obrigado a V. Exª.
Ao encerrar as minhas palavras, desejo transmitir a manifestação do nosso pesar aos que fazem a Manchete não só no Rio de Janeiro, como em todos os recantos do território nacional, aos seus diretores e funcionários, inclusive à sua ilustríssima família.
Subscrevi há pouco o requerimento que o Senado votará dentro de poucos instantes, de autoria do Senador José Sarney, Presidente da Casa, e outros Srs. Senadores. Esse requerimento certamente contará também com o apoio do nobre Senador Ronaldo Cunha Lima, que, neste instante, responde pela Liderança do PMDB.
O Sr. Elcio Alvares - Permite-me V. Exª um aparte?
O SR. HUMBERTO LUCENA - Pois não, Senador Elcio Alvares.
O Sr. Elcio Alvares - Interpreta V. Exª o pensamento do Senado Federal. Adolpho Bloch foi uma figura estimada em todo o Brasil. Há um componente de avaliação, nesse instante em que tomamos conhecimento do seu falecimento, que merece ser ressalvado. Tive a oportunidade de acompanhar, não só por intermédio da Rede Manchete mas também por outros órgãos da mídia brasileira, todos os depoimentos, nos quais se fez questão de ressaltar um aspecto fundamental da personalidade de Adolpho Bloch: a sua humanização dos fatos. E foram contados vários episódios, gestos de Adolpho Bloch que, acima de tudo, demonstravam um entusiasmo às vezes até juvenil pela Rede Manchete de televisão, sua grande paixão. Foi vitorioso nas artes gráficas. Quando lançou a revista Manchete, recordo-me muito bem, o primeiro número foi tido como modelo de revista no Brasil. Mas, com o passar do tempo, Adolpho Bloch apaixonou-se pela televisão. E foi exatamente nos setor de televisão que a Rede Manchete viveu alguns episódios memoráveis, principalmente ao lançar uma nova linguagem de novela em "Pantanal", que representou, talvez, a grande vitória de Adolpho Bloch no campo da teledramaturgia. Há uma referência na revista Manchete também muito sintomática da personalidade de Adolpho Bloch: aquela foto dele envolvendo Juscelino Kubitschek. Ele fez daquele grande homem público um mito e um exemplo. Guardou lealdade gratidão a Juscelino Kubitschek, o que certamente engrandece a sua personalidade. Adolpho Bloch narrou a história do pai, da família; contou da recusa de um convite para ir aos Estados Unidos. Em nosso País, em todos os momentos, sempre demonstrou um apego a sua terra natal, uma preocupação imensa com sua terra de origem, e uma dedicação inusitada aos seus amigos, sobreelevo aí Juscelino Kubitschek, que recebeu, morto, todas as homenagens que Adolpho Bloch poderia prestar, e depois, nos gestos com seus funcionários. Quero narrar um fato para exemplificar esse lado de sua personalidade. Salvo engano, quem depõe é a atriz Maitê Proença. Ela estava participando da gravação de uma novela e, depois de sete ou oito horas de trabalho, não havia uma gota de água sequer. No dia seguinte, a atriz esteve com Adolpho Bloch e disse-lhe que não era possível aquele pessoal ficar sem água. Então, Adolpho Bloch mandou as bebidas mais raras, inclusive leite, para demonstrar o apego dele a seus funcionários. Falo em meu nome pessoal e como Líder do Governo, rendendo homenagem a esse que foi, inquestionavelmente, uma das grandes figuras da comunicação brasileira. Realizou uma obra que perdurará ao longo dos tempos, porque a Manchete hoje já é um patrimônio nacional, seja na área da televisão, seja na área da imprensa. Portanto, solidarizo-me com V. Exª, estendendo à família de Adolpho Bloch as nossas condolências e externando também, como representante do Espírito Santo e Líder do Governo, a minha mais profunda admiração a este homem, Adolpho Bloch, que sempre enobreceu o trabalho e que, acima de tudo, será lembrado como modelo de amizade e gratidão àqueles a quem dedicou seu afeto e seu ideal.
O SR. HUMBERTO LUCENA - Muito obrigado a V. Exª pelo aparte.
O Sr. Eduardo Suplicy - Permite-me V. Exª um aparte?
O SR. HUMBERTO LUCENA - Ouço o nobre Senador Eduardo Suplicy.
O Sr. Eduardo Suplicy - Senador Humberto Lucena, quero manifestar, em nome da Liderança do Partido dos Trabalhadores, nosso pesar pelo falecimento do Presidente da Manchete, Adolpho Bloch, que, conforme registro de V. Exª e de outros Senadores, deu contribuição inestimável para o desenvolvimento das comunicações e da imprensa no Brasil. A revista Manchete representou inovação na história gráfica da imprensa brasileira e a Rede Manchete de Televisão alcançou altos níveis de qualidade seja no campo do jornalismo, no da qualidade de programação, no das novelas, como também na parte artística em geral, o que se constitui num marco. Gostaria, também, de registrar a importância do esforço de Adolpho Bloch para mostrar algo muito significativo relativamente ao processo que ocorre no Oriente Médio. Nesses últimos dois anos, registra-se ali um grande esforço de pacificação entre árabes, judeus e palestinos. Como membro da comunidade judaica, nascido em Kiev, Adolpho Bloch - que se tornou um brasileiro, abraçando inteiramente essa nacionalidade -sempre fez questão de mostrar que árabes, judeus, palestinos, libaneses, pessoas oriundas do Oriente Médio aqui sabiam conviver em paz, como que mostrando que era possível lá também se construir um mundo de harmonia, de convivência pacífica em benefício de todos. Acho importante relembrar essa sua qualidade.
O SR. HUMBERTO LUCENA - As palavras de V. Exª completam o meu pronunciamento nesta homenagem que o Senado presta à memória de Adolpho Bloch.
Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.