Discurso no Senado Federal

TRANSCURSO DO 170 ANOS DO JORNAL DIARIO DE PERNAMBUCO.

Autor
Joel de Hollanda (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: Joel de Hollanda Cordeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • TRANSCURSO DO 170 ANOS DO JORNAL DIARIO DE PERNAMBUCO.
Publicação
Publicação no DSF de 29/11/1995 - Página 3917
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, JORNAL, DIARIO DE PERNAMBUCO, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE).

O SR. JOEL DE HOLLANDA (PFL-PE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero registrar aqui, da tribuna do Senado Federal, a comemoração dos 170 anos de fundação do Diário de Pernambuco, o mais antigo periódico em circulação na América Latina e também o mais antigo do mundo editado em língua portuguesa, dupla primazia que muito orgulha os pernambucanos e os brasileiros.

Em 1825, quando o tipógrafo e publicista Antônio José Miranda Falcão criou o Diário de Pernambuco, o Brasil recém se havia libertado de Portugal. O criador do jornal, aliás, foi o mesmo que, no auge da Confederação do Equador, imprimiu o Typhis Pernambucano.

Surgido numa época em que ainda estavam vivas na memória de todos as lutas pela independência política, era natural que o jornal fizesse da liberdade o seu pressuposto básico.

Conforme se pode constatar na edição fac-similar do primeiro número - lançada agora por ocasião das comemorações do 170º aniversário - o objetivo do fundador era dotar o Estado, particularmente a cidade do Recife, de um veículo que fosse capaz de fazer circular as notícias de interesse geral, facilitar as transações comerciais e veicular anúncios.

Pouco depois, o DP, como o jornal passou a ser conhecido, abria espaço para temas mais candentes da política e da economia, transformando-se no impulsionador das mudanças, na medida em que influenciava fortemente a sociedade local. O seu exemplar de número 45 trouxe, por exemplo, a íntegra da Carta de Constituição do País.

Ao longo de sua história, o jornal esteve sempre sintonizado com o seu tempo, seja no que se refere à parte editorial ou à de recursos gráficos. Possuiu, nesse tempo todo, maquinário atualizado. Isso pode ser constatado hoje, tanto pela informatização da redação, quanto pela sua presença na rede mundial Internet, feito em que foi pioneiro no Brasil.

Paralelamente à essa preocupação com a atualização industrial, o jornal permaneceu ligado às suas raízes mais fundas, que são as relativas à luta pela independência, por liberdade de expressão. Por ter se mantido sempre independente, o Diário de Pernambuco, hoje, como no passado, pratica um jornalismo isento e corajoso, dinâmico e ético.

Apego aos ditames filosóficos mais antigos, às mais caras tradições pernambucanas, mas também atenção para com as mudanças tecnológicas mais inovadoras - assim pode ser sintetizado o binômio seguido pelo velho DP.

Em 1835, o controle acionário do jornal passa para as mãos do Comendador Manuel Figueiroa de Faria, que estabelece um novo estilo, com sensíveis melhorias editoriais e gráficas. Com isso, o jornal se consolida, ganha prestígio e sua influência se torna ainda mais forte. Com a inauguração do serviço telegráfico, o DP amplia seu noticiário nacional e internacional. Aos 10 anos de funcionamento, o jornal já se nivela aos melhores periódicos da Corte, uma vez que recebe telegramas de agência noticiosa Havas.

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, o Diário de Pernambuco é hoje, também, o símbolo da perseverança do homem nordestino. É prova viva de que é preciso lutar por idéias e ideais, com respaldo na busca incessante da verdade. O DP é o resultado da obstinação e do denodo de seus antigos e atuais dirigentes, jornalistas e funcionários.

Após a criação da Faculdade de Direito do Recife, o Estado de Pernambuco se transformou no principal centro cultural do Norte e do Nordeste do País, ponto de encontro de intelectuais de todos os Estados daquelas duas Regiões. Acompanhando essa reviravolta, o Diário de Pernambuco passou a representar o espaço em que a intelectualidade do Norte e do Nordeste podia debater filosofia, literatura, política, arte e cultura.

Nas páginas do Diário de Pernambuco, escreveram, entre outros destacados abolicionistas, intelectuais do porte de Castro Alves, José Mariano e Joaquim Nabuco, que se engajaram naquela que foi uma das maiores lutas em defesa da dignidade humana neste País. Emociona ler na edição de 13 de maio de 1888 do Diário de Pernambuco o decreto de Abolição do Trabalho Escravo e a sanção da Lei Áurea pela Princesa Isabel. Não é à toa que o DP é hoje uma importante fonte de pesquisas e consultas sobre os fatos políticos ocorridos há quase duzentos anos.

Em 1901, assumiu o comando do jornal o Conselheiro Rosa e Silva - Vice-Presidente da República e uma das maiores lideranças políticas de Pernambuco -, que empossou Artur Orlando, um dos mais brilhantes intelectuais do seu tempo, como chefe de redação do jornal.

O Comendador Rosa e Silva reformou o prédio do jornal na Pracinha, mas, eleito governador do Estado em 1911, o Diário foi apedrejado e teve sua edição do dia 07 de novembro rasgada na Praça da Independência, num ato de revolta das forças eleitorais derrotadas. O edifício do jornal é invadido e empastelado por grupos militares e ideológicos da corrente contrária, que, com o apoio dos deputados, conseguiram empossar o General Dantas Barreto, que fora derrotado no pleito.

Em 1913, verifica-se nova mudança no comando do jornal. Assume o industrial Carlos Lira, que, apartidário, conseguiu despolitizar ódios e paixões, de tal modo que o jornal pôde voltar aos seus melhores tempos - em que, acima de tudo, preponderava a isenção.

Pelo telégrafo sem fio, a redação do DP acompanha o desenrolar do terrível drama que foi a Primeira Guerra Mundial, cuja eclosão mereceu edição extra vespertina, feita sob o comando do acadêmico Aníbal Fernandes, então o editor.

Em 1931, o Diário foi incorporado à rede dos Diários Associados, a primeira grande cadeia de comunicação do País, surgida sob a inspiração do paraibano Assis Chateaubriand, um dos maiores jornalistas brasileiros de todos os tempos.

Respondendo a Carlos Lira Filho sobre a aquisição do jornal, assim se expressou Assis Chateaubriand:

      "Creio que você não acreditará que tenhamos a falta de gosto e espírito de pensar que tivéssemos comprado a velha Faculdade de Direito, o Convento de Santo Antônio, os Guararapes ou o Instituto Histórico. O Diário é uma grande província que entra para uma federação de Estados. Entra com a sua soberania intacta e sem restrições".

Hoje, do alto dos seus cento e setenta anos, o Diário de Pernambuco se mantém fiel aos princípios da mais ampla liberdade de pensamento e de expressão. Desde maio de 1994, vem sendo administrado por uma gestão compartilhada num acordo entre o Condomínio Acionário das Emissoras e Diários Associados, que tem à frente o Dr. Paulo Cabral de Araújo, como Presidente do Conselho Administrativo, e os empresários Dr. Armando Monteiro Filho, como Vice-Presidente do referido Conselho, Eduardo de Queiroz Monteiro, Superintendente, e Paulo Sérgio Macedo, integrante do mesmo colegiado, além dos outros integrantes da diretoria: Gladston Vieira Belo, Editorial, Joezil Barros, Diretor Comercial, e Paulo Pugliesi, Diretor Administrativo e Financeiro.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, agora que o Diário de Pernambuco se aproxima de seu segundo centenário, queremos deixar aqui consignado o nosso apreço aos seus diretores, jornalistas e funcionários pelos relevantes serviços que têm prestado ao nosso Estado e que certamente continuarão prestando pelo tempo vindouro.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/11/1995 - Página 3917