Discurso no Senado Federal

APELO AO MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES DO BRASIL PARA ENVIDAR ESFORÇOS, EM AMBITO INTERNACIONAL, PARA O FIM DO EMBARGO AO IRAQUE.

Autor
Esperidião Amin (PPB - Partido Progressista Brasileiro/SC)
Nome completo: Esperidião Amin Helou Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • APELO AO MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES DO BRASIL PARA ENVIDAR ESFORÇOS, EM AMBITO INTERNACIONAL, PARA O FIM DO EMBARGO AO IRAQUE.
Publicação
Publicação no DSF de 23/11/1995 - Página 3503
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • COMENTARIO, SITUAÇÃO POLITICA, VIOLENCIA, ORIENTE MEDIO.
  • SOLICITAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, ITAMARATI (MRE), EMPENHO, EXTINÇÃO, SANÇÃO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), PAIS ESTRANGEIRO, IRAQUE.

O SR. ESPERIDIÃO AMIN (PPB-SC. Pronuncia o seguinte discurso) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Oriente Médio voltou às manchetes da imprensa mundial. O brutal assassinato do primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, expôs com clareza a face violenta da intolerância. 

No caso, um obscuro judeu de 21 anos tirou a vida do mandatário do país. Disse ter agido por ordem de Deus. Era um fundamentalista judaico, tão cruel quanto qualquer extremista.

Já vimos o mesmo filme outras vezes. Catástrofes, genocídios, execuções em massa, fogueira de corpos, tortura. Tudo em nome de Deus ou de uma causa que pode ser batizada de paz, democracia, justiça.

Nesse processo, a mídia cria demônios. Hitler, Mussolini, Aiatolá Komeini, Muamar Kadafi, só para lembrar alguns. Sadam Hussein é a mais recente encarnação de Satanás.

O mundo inteiro se uniu contra ele. O resultado foi o bombardeio de Bagdá, visto por milhares de telespectadores como mais um jogo de efeitos especiais a disputar com Spilberg o Oscar da Academia de Hollywood.

A brincadeira, Sr. Presidente, deixou um saldo amargo. Destruiu lares, ceifou a vida de milhares de inocentes e mutilou outros tantos.

De joelhos, o Iraque assinou a rendição. A Organização das Nações Unidas, "em nome da justiça", impôs pesado embargo internacional ao país.

Há evidências favoráveis ao levantamento do embargo. Há três anos, Rolf Ekeus, chefe da Comissão da ONU que inspeciona o desarmamento do Iraque, visita regularmente a ex-Babilônia. Recolhe dados sobre o arsenal de destruição maciça e o potencial da indústria bélica iraquiana.

No último relatório, ele acolheu com expressões de admiração o que chamou de "virada de 180 graus" do regime de Bagdá, que estaria abrindo para a fiscalização todas as instalações bélicas, inclusive as de armas biológicas.

Também se deve registrar o esforço para a fiscalização de todas as instalações bélicas, inclusive as de armas biológicas.

Registram-se também as preocupações internacionais e o trabalho de repórteres e equipes de tevê.

Todos eles, Sr. Presidente, gozaram de ampla liberdade de ir e vir. Visitaram os centros de votação em várias províncias do país. Foram a Bagdá, Basra, Najaf, Kerbalá, Kirkuk, Mosul e tantas outras sem acompanhantes ou supervisores.

Puderam presenciar, nessas andanças, o entusiasmo e a liberdade dos cidadãos iraquianos, que acorriam maciçamente às urnas. Não registraram quaisquer incidentes que pudessem prejudicar o caráter legal do processo.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o relatório do imparcial Ekeus e a evolução política do país acenam com o fim do embargo internacional ao Iraque. Certo? A lógica diz que sim. Mas interesses maiores dizem que não.

A reação de Washington diante dos recentes fatos foi de reiterar a necessidade de continuação do embargo. A Inglaterra acompanhou os Estados Unidos.

As sanções -- todos sabemos -- escondem interesses outros, bem distantes dos humanitários, menos nobres do que desejaríamos. Sem falar nos objetivos estratégicos embutidos no Golfo Pérsico, cito um exemplo. A Arábia Saudita, principal aliada dos Estados Unidos na região, aufere benefícios do bloqueio. Aumentou as exportações de 5 milhões para 8 bilhões de barris de petróleo por dia.

O levantamento das sanções tem-se revelado tarefa hercúlea, quase impossível de se levar a cabo. Mas o Iraque revela empenho e determinação em cumprir a parte que lhe cabe.

É vez agora de a ONU fazer a sua parte. Há luz no fim do túnel. Estados Unidos e Inglaterra são contrários ao levantamento das sanções. Mas os outros membros do Conselho de Segurança não têm a mesma posição. Rússia, França e China têm pressa de reatar os vínculos comerciais com o Iraque.

A mesma pressa têm os países do mundo livre. E o Brasil, Senhor Presidente, Nação que se orgulha de defender a justiça onde ela se vê ameaçada, não pode fechar os olhos diante da brutal pena a que se condena um povo que já pagou a sua conta.

É em nome da Justiça que apelo para o Ministério das Relações Exteriores de nosso País envidar esforços capazes de despertar o mundo para a situação de desamparo em que se encontra o Iraque.

A morte de Yitzhak Rabin vem ao encontro desse meu apelo. Ela ensina duas lições. A primeira: a tolerância, a convivência dos contrários, é a única saída para aquela região conturbada. A segunda: não existe uma paz extensiva a uns e proibida a outros. A paz é singular e universal. Vale para todos. Ou não vale para ninguém.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente. Muito obrigado. 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/11/1995 - Página 3503