Pronunciamento de Guilherme Palmeira em 23/11/1995
Discurso no Senado Federal
CENTENARIO DE NASCIMENTO DA FUNDADORA DA ASSOCIAÇÃO TEATRAL DE ALAGOAS, SRA. LINDA MASCARENHAS.
- Autor
- Guilherme Palmeira (PFL - Partido da Frente Liberal/AL)
- Nome completo: Guilherme Gracindo Soares Palmeira
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM.:
- CENTENARIO DE NASCIMENTO DA FUNDADORA DA ASSOCIAÇÃO TEATRAL DE ALAGOAS, SRA. LINDA MASCARENHAS.
- Publicação
- Publicação no DSF de 24/11/1995 - Página 3699
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, LINDA MASCARENHAS, PROFESSOR, ESTADO DE ALAGOAS (AL).
O SR. GUILHERME PALMEIRA (PFL-AL. Pronuncia o seguinte discurso) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, transcorre neste ano o centenário de nascimento de Linda Mascarenhas, uma das figuras mais férteis, vibrantes e corajosas que o estado de Alagoas já legou ao ensino e à cultura de nossas gerações. Professora de português e francês e catedrática da Cadeira de Inglês da Escola Normal de Maceió, Linda sempre esteve ao lado dos jovens e com eles mantinha uma integração permanente e uma cumplicidade construtiva, bases essenciais da revolução que faria em Alagoas, a partir da metade deste século, no campo do Teatro.
Considerada a Dama do Teatro Alagoano, Linda Mascarenhas foi uma líder de transformações culturais, tendo a coragem de mudar costumes e colocar a juventude em caminhos desconhecidos, fora do convencional que a elite local edificara.
Ao fundar a Associação Teatral de Alagoas - ATA, em 12 de outubro de 1955, Linda realiza um percurso teatral que prontamente se insere no universo da história do teatro brasileiro, nivelando a "província" ao que se encenava à época nas grandes companhias do Rio de Janeiro, São Paulo e Recife. Seu trabalho é revestido das mesmas características sócio-políticas e culturais que determinavam o repertório teatral nesses grandes centros.
Encenando peças de grandes e consagrados autores brasileiros, levando a Maceió diretores experimentados do Rio de Janeiro, São Paulo e Recife, ou indo ela própria dirigir seus espetáculos, Linda Mascarenhas foi aos poucos criando uma geração local de atores talentosos como Tereza Cabral, Marilda Goulart, Carlos Augusto de Araújo Jorge, Eclivan Marcel e José Márcio Passos, seguidos de Homero Cavalcante, Dário Bernardes, Ronaldo de Andrade e José Correia Graça, nosso cotidiano, destacando-se entre estes o brilho de Luiz Sávio de Almeida.
Nascida em Maceió a 14 de maio de 1895, no bairro da Levada, filha de Manuel Cesário Mascarenhas e Lourença Vieira Mascarenhas, Linda Mascarenhas foi criança precoce e irrequieta, que sabia ler e escrever aos cinco anos de idade. Integrante de família pouco numerosa, teve como irmãos Noêmia, professora de Desenho da Escola de Aprendizes Artífices; Ajalmar, Marechal do Ar; Osman, General do Exército e Edgar, Médico. Estudou latim com o cônego Teófane de Barros, Grego com Dom Adelmo Machado e Alemão com o Sr. Ludwig Deichen.
Em 1932 colaborou com outra extraordinária alagoana - Dra. Lily Lages, na fundação da federação Alagoana pelo Progresso Feminino, da qual seria, mais tarde, sua presidente perpétua. Para arrecadar fundos para as ações sociais que a Federação desenvolvia, Linda Mascarenhas promoveu espetáculos teatrais, entre eles Miragem e Hotel Manguaba, de Aldemar Paiva e Nelson Porto e O mistério de Príncipe e O Herdeiro de Naban, operetas infantis de sua autoria, com música e regência do professor Luiz Lavenére.
Em outubro de 1944, ao lado de Aldemar Paiva, Nelson Porto e o apoio de suas companheiras da Federação, funda o Teatro de Amadores de Maceió, dedicando-se à sua presidência e à direção de cena, em substituição a Lima Filho.
Pelo papel que desempenhou na quebra de tabus e na abertura do teatro alagoano para sua inserção à realidade de sua época, Linda Mascarenhas enfrentou preconceitos morais e sociais, notadamente ao implantar a prática do teatro de "arena", com Eles Não Usam Black Tie, de Guarniere, em 1961.
Na visão do escritor e sociólogo Luiz Sávio de Almeida, Linda foi "um trânsito"; e explica: "com esta síntese, não estamos escamoteando o seu valor pessoal. Pelo contrário, estamos dizendo que se trata de uma pessoa tão rica que, por ela é possível, com facilidade, puxar o fio da história de uma sociedade como a nossa: chic/brega, brega/chic, sururuante, manguabante, mundaubante, camarônica, mas cheia de respeito por si mesma e que tem gente notável pela qual se mantém a esperança de um futuro em que a miséria não engula os nossos povos".
E arremata Luiz Sávio: "Na década de 30 apareceu um frevo no carnaval, dizendo que a lagoa havia pegado fogo. A imagem cantada aos pulos pela poeta era singular. Era preciso que a lagoa pegasse fogo. Linda Mascarenhas, querendo ou não, ajudou na feitura do incêndio. A ATA continua pegando fogo e recolhendo a Linda como símbolo da tenacidade".
Linda Mascarenhas faleceu em 9 de junho de 1991, deixando uma formidável herança para os sócios da Associação Teatral das Alagoas, fundada numa história de dedicação e sonhos e transmitindo à sociedade de meu Estado um exemplo de coragem e determinação, dignidade, força e honradez, crença desmedida na juventude e um amor incomensurável a Alagoas.
Era o que tinha a dizer. Muito Obrigado.