Discurso no Senado Federal

CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DO ASSASSINATO DO LIDER ISRAELENSE YITZHAK RABIN.

Autor
Coutinho Jorge (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Fernando Coutinho Jorge
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DO ASSASSINATO DO LIDER ISRAELENSE YITZHAK RABIN.
Publicação
Publicação no DSF de 10/11/1995 - Página 2654
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • COMENTARIO, MORTE, YITZHAK RABIN, PRIMEIRO-MINISTRO, PAIS ESTRANGEIRO, ISRAEL, LUTA, OBTENÇÃO, PAZ, ORIENTE MEDIO.

            O SR. COUTINHO JORGE (PMDB-PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não foi possível estarmos nesta Casa na segunda-feira, quando o mundo participava do enterro do grande líder Yitzhak Rabin, em Tel-Aviv. Vamos hoje tecer algumas considerações bastante breves a respeito desse assunto, que gerou grande surpresa em nível mundial.

            Acredito que os grupos radicais e fanáticos devem estar felizes com tal fato, com tal assassinato. Por certo, estão julgando que aqueles que defendem a guerra devem ter crescido em pontuação no conceito mundial, e aqueles que defendem a paz devem ter reduzido as suas possibilidades de luta em favor da paz.

            Acredito, no entanto, que há um engano muito grave em relação aos fanáticos e aos radicais nos vários campos da vida. No nosso entender, o assassinato de Yitzhak Rabin passou a ter um significado emblemático em favor da luta pela paz no Oriente Médio e no Mundo.

            Rabin, na verdade, foi o único dirigente, desde a criação do Estado de Israel, em 1948, que nasceu na Palestina. Foi um grande soldado, chegou a general, participou de guerras fundamentais para seu povo, particularmente a chamada Guerra dos Seis Dias, quando Israel anexou ao seu uma série de territórios daquela região.

            Progressivamente, Rabin transformou-se não em um soldado da guerra, mas em um soldado da paz. Por essa razão, tinha autoridade moral, tradição, junto ao povo de Israel. Na verdade, ele foi o grande artífice das últimas negociações entre judeus e palestinos, entre Israel e a OLP de Yasser Arafat. Ao lado de Shimon Peres, tentou resolver de forma progressiva e definitiva esse grande conflito; conflito que, na verdade, atinge irmãos, primos, que tiveram a mesma herança desde a época de Abraão. Infelizmente, bebendo - como se diz - a mesma água, pisando o mesmo solo, ampliaram as suas diferenças e os seus conflitos, sobretudo com a criação, em 1948, do Estado de Israel.

            Na verdade, as três personalidade às quais me referi receberam, pelo trabalho importante em favor da paz no Oriente Médio, o Prêmio Nobel da Paz recentemente.

            Essa região conflituosa, que tem ligação com três religiões importantes, erigidas por líderes religiosos excepcionais, como Moisés, Cristo e Maomé, que apregoaram em suas teses a justiça, a fraternidade e o amor, ironicamente é um cenário permanente de conflito.

            Não podemos esquecer a História mais recente, mesmo a História passada, em que líderes do nível de Yitzhak Rabin, lutando em favor da paz, em favor da libertação de suas nações e de suas regiões, foram também assassinados por fanáticos, por radicais.

            Lembremos somente dois: o primeiro, o grande Mahatma Ghandi, o grande libertador da Índia contra o Império Britânico, que, defendendo a sua tese da não-violência, conseguiu seu intento. Mas também foi assassinado por um fanático. E, a partir da sua morte, o processo de libertação, de independência da Índia se ampliou, se solidificou.

            Recentemente, na década de 80, no Egito, o grande Líder Anuar Sadat, que defendia a paz entre árabes e judeus, também foi assassinado por um guarda pessoal, justamente por aquele que deveria zelar e velar pelo dirigente máximo.

            Não temos dúvida de que, mais uma vez, esse fato serviu para consolidar, para fortalecer o conceito de paz naquela região, particularmente entre o Egito e Israel. Na verdade, o assassinato de Rabin - um judeu mata outro judeu - gerou realmente celeuma.

            o povo judeu está atônito. Isso vai de encontro aos seus conceitos básicos religiosos, mostrando, mais uma vez, que fanatismo e radicalismo, no campo político e religioso, não levam a nada; são duas pragas que, infelizmente, vicejam na sociedade, no mundo, em vários países, nos vários segmentos políticos e religiosos, trazendo conseqüências e seqüelas altamente negativas e desagradáveis.

            Judeus e árabes, por certo, vão refletir em relação a esse assassinato e vão lutar, cada vez mais, em favor da paz, enfrentando, internamente, os seus fanáticos e os seus radicais, chegando-se à ironia de que o autor do assassinato de Rabin acha que cometeu um ato importante em favor da salvação do mundo, em favor da guerra, segundo ele.

            Não podemos nos esquecer de um fato: em qualquer circunstância de conflito entre os homens e entre nações, é melhor uma paz mesmo que não seja a ideal do que a melhor guerra que possamos ter. Nesse sentido, a luta contra o radicalismo e o fanatismo deve ser implementada e ampliada em relação ao campo político, religioso e ao das relações entre as nações, não temos dúvida.

            O exemplo de Yitzhak Rabin, no nosso entender, é emblemático, sobretudo porque ele participava, no sábado passado, em Tel Aviv, de um grande encontro, que reunia 100 mil judeus, que discutiam, que levantavam hosanas à paz. E, ao descer desse grande encontro, ele foi assassinado por um fanático, que julgava que, ao defender a guerra, resolvia os problemas do seu país, e quiçá do mundo, esquecido, mais uma vez, de que, em todo o conflito, em toda a discordância, o entendimento e o diálogo são fundamentais, únicos caminhos que levarão à paz e ao desenvolvimento de qualquer nação e da própria Terra.

            Ao concluir o meu breve e objetivo pronunciamento, quero ler aqui a "Canção da Paz", publicada em todos os jornais, cuja cópia foi encontrada, ensangüentada, no bolso de Rabin, que a cantou juntamente com 100 mil judeus, de forma emocionante.

            Solicito à Mesa do Senado que faça um pleito à Embaixada de Israel, para que encaminhe os principais discursos feitos pelos vários chefes de Estado durante o enterro de Rabin, em Tel Aviv - se possível, traduzidos para o Português -, para que possam ser anexados às reflexões deste Senador.

            Neste instante, passo a ler a "Canção da Paz":

            "Deixem que o sol nasça

            Que desperte a manhã

            A pureza das orações

            Não nos trará de volta

            Aquele cuja vela se apagou

            em cinzas se enterrou

            O choro amargo não despertará

            Não trará de volta

            De uma cova escura

            Para ele já não adiantará

            Nem a alegria da vitória

            Nem as louvações

            Por isso cantem a canção da paz

            Não sussurrem orações

            Melhor que cantem a canção da paz

            Num enorme brado

            Deixem que o sol penetre

            Por entre as flores

            Não olhem para trás

            Deixem os que se foram

            E olhem com esperança

            Mas não através das miras das armas

            Cantem uma canção ao amor

            E não à guerra

            Não digam que o dia chegará

            Tragam-nos o dia

            E em todas as praças

            Cantemos a paz."

            Nossa solidariedade ao povo de Israel e ao povo árabe que também, por via indireta, foi ferido. E a nossa certeza de que judeus e árabes, após esse evento tão negativo, lutarão, como nunca, contra o fanatismo, contra o radicalismo, em favor da paz no Oriente, que será, inequivocamente, o prelibar da paz do mundo.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/11/1995 - Página 2654