Discurso no Senado Federal

REALIZAÇÃO EM BRASILIA, DE TELECONFERENCIA NACIONAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL-OAB, RESULTANDO NO LANÇAMENTO DA CAMPANHA 'CIDADANIA E JUSTIÇA'.

Autor
Valmir Campelo (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/DF)
Nome completo: Antônio Valmir Campelo Bezerra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DEMOCRATICO.:
  • REALIZAÇÃO EM BRASILIA, DE TELECONFERENCIA NACIONAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL-OAB, RESULTANDO NO LANÇAMENTO DA CAMPANHA 'CIDADANIA E JUSTIÇA'.
Publicação
Publicação no DSF de 12/12/1995 - Página 5425
Assunto
Outros > ESTADO DEMOCRATICO.
Indexação
  • CONGRATULAÇÕES, ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL (OAB), LANÇAMENTO, CAMPANHA, CIDADANIA, JUSTIÇA, LUTA, REDUÇÃO, VIOLENCIA, INICIO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), REALIZAÇÃO, DISTRITO FEDERAL (DF), CONFERENCIA NACIONAL, TELEVISÃO, DEBATE, REFORMA ADMINISTRATIVA, MODERNIZAÇÃO, JUDICIARIO.
  • PROPOSTA, EXERCICIO, CIDADANIA, APERFEIÇOAMENTO, ESTADO DE DIREITO, MOBILIZAÇÃO, ABRANGENCIA, PROBLEMAS BRASILEIROS.

O SR. VALMIR CAMPELO (PTB-DF. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero me congratular com a Ordem dos Advogados do Brasil pela recente campanha que lançou, em nível nacional, intitulada "Cidadania e Justiça".

A iniciativa insere-se na luta nacional contra a violência, que teve, dia 28 passado, no Rio de Janeiro, a manifestação apoteótica da "Marcha da Cidadania pela Paz", em que cerca de 500 mil cariocas desfilaram em protesto contra o quadro de criminalidade e impunidade que há anos infelicita a cidade.

No mesmo dia, a OAB promoveu, em Brasília, teleconferência nacional em que discutiu com juristas, políticos, jornalistas e lideranças da sociedade civil o tema de sua campanha. A OAB, dentro de sua tradição de defesa dos interesses do povo brasileiro, considera esse movimento por cidadania e justiça um dos mais importantes da história contemporânea do País, desdobramento natural do processo de redemocratização, iniciado em 1985.

A campanha coloca em debate a reforma do Poder Judiciário, a necessidade de torná-lo mais eficaz e acessível ao cidadão comum. Mas adverte que não basta estabelecer esse controle para resolver os problemas da justiça no Brasil.

O controle externo - e esse controle, frise-se, é apenas financeiro e administrativo - é uma providência importante que merece e precisa ser discutida, mas deve ser precedida de algo mais substantivo: a reestruturação e revitalização da Justiça. Um país em que o povo não tem acesso à justiça é um país que não exercita a mais elementar das manifestações de cidadania.

Essa disfunção decorre de múltiplos fatores, entre os quais se destaca o anacronismo da estrutura do Poder Judiciário. Sua modernização abrange desde a expansão física das varas de justiça, seu reequipamento e mão-de-obra, até a reforma do sistema penitenciário e a revisão da legislação penal.

A questão central da Justiça no Brasil, hoje, não é apenas a da impunidade. É também a da má distribuição das penas. Nada menos do que 70% - mais de dois terços - da população penitenciária está detida por pequenos delitos contra o patrimônio. Poderiam pagar seus débitos em liberdade, o que, além de menos oneroso, evitaria que se transformassem em feras, que é no que as penitenciárias brasileiras transformam seus detentos.

Após a vitoriosa campanha pela redemocratização, em que a Ordem dos Advogados do Brasil alinhou-se com a vanguarda da sociedade civil pela restauração do Estado de Direito, o País mergulhou num paradoxo: reconquistou o que pretendia - isto é, suas liberdades fundamentais -, mas não encontrou a felicidade sonhada.

A palavra-chave continua sendo Cidadania. Só que, resolvidas suas premissas básicas, resta equacionar o seu dia a dia, o seu varejo.

Já não mais está em pauta a democracia como conceito. Ela aí está: eleições diretas em todos os níveis, liberdade de organização partidária, liberdade de imprensa, Estado de Direito, etc. O que falta é a garantia de efetivo exercício desses direitos, ameaçados (em alguns casos, simplesmente suprimidos) pela má qualidade dos serviços públicos e pela condição indefesa do cidadão.

Vivemos o Estado de Direito, mas a Justiça não funciona - ou funciona muito mal. Há liberdade de imprensa, mas o cidadão se sente impotente quando se vê atingido pelos excessos da mídia. Há liberdade de ir e vir, mas o número anual de mortos no trânsito brasileiro supera o saldo de mortos dos dez anos da Guerra do Vietnã. Há democracia no Brasil, mas o modelo econômico concentrador de renda exclui do mercado de consumo e dos direitos básicos de cidadania a maior parte da população.

A proposta é: lutar pelo exercício efetivo da cidadania, auxiliando o cidadão a identificar o seu direito, esclarecendo-o a respeito de seus deveres - inclusive, lembrando que é o cumprimento do dever que gera o direito - e induzindo elite econômica e Estado a serem mais zelosos de suas obrigações.

Não basta eleger bodes expiatórios - o Governo, os militares, os políticos, os empresários ou as multinacionais. É preciso estabelecer os problemas, suas causas e suas soluções. Se o nível de serviços públicos está ruim, até que ponto o cidadão comum tem também algo a ver com isso? O que é economia informal, como incorporá-la ao processo formal? O que é reforma tributária, qual sua urgência e extensão? O temário, como se vê, é vasto e abrangente. E exige mobilização geral.

Nosso objetivo, Sr. Presidente, nesta primeira abordagem do tema, é o de nos associarmos à iniciativa da OAB e conclamarmos esta Casa e apoiá-la em mais essa luta por ampliação de direitos sociais e pelo bem-estar do povo brasileiro.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/12/1995 - Página 5425