Discurso no Senado Federal

ASSOCIANDO-SE AS SAUDAÇÕES A MESA E AOS PARLAMENTARES. PROTESTOS CONTRA A IMPUNIDADE DE DARLY E DARCI, ASSASSINOS DE CHICO MENDES, FORAGIDOS HA 3 ANOS E AINDA NÃO RECAPTURADOS. PREMENCIA DA VIABILIZAÇÃO ECONOMICA, POLITICA E SOCIAL DA REGIÃO AMAZONICA.

Autor
Marina Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • ASSOCIANDO-SE AS SAUDAÇÕES A MESA E AOS PARLAMENTARES. PROTESTOS CONTRA A IMPUNIDADE DE DARLY E DARCI, ASSASSINOS DE CHICO MENDES, FORAGIDOS HA 3 ANOS E AINDA NÃO RECAPTURADOS. PREMENCIA DA VIABILIZAÇÃO ECONOMICA, POLITICA E SOCIAL DA REGIÃO AMAZONICA.
Publicação
Publicação no DSF de 16/12/1995 - Página 6159
Assunto
Outros > HOMENAGEM. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • CONGRATULAÇÕES, MESA DIRETORA, PRESIDENTE, SENADOR, OPORTUNIDADE, CONCLUSÃO, SESSÃO LEGISLATIVA.
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, CHICO MENDES, LIDER, SERINGUEIRO, OPORTUNIDADE, PROTESTO, IMPUNIDADE, AUSENCIA, PRISÃO, CRIMINOSO, RESPONSAVEL, HOMICIDIO, DEFESA, PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO, REGIÃO AMAZONICA.

A SRª MARINA SILVA (PT-AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Obrigada, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vou estender o que disse a Senadora Benedita da Silva, o Senador Elcio Alvares e os demais Senadores no que se refere a votos de congratulação aos Senadores, à Mesa e ao Presidente, para não ser repetitiva e porque V. Exª exige que sejamos sintéticos em nossas avaliações.

Mas desejo fazer aqui, ainda que às vésperas do Natal, próximo ao final do ano, um registro triste. Hoje, 15 de dezembro, coincidentemente, o dia em que encerramos nossos trabalhos, seria o dia do aniversário do meu amigo e companheiro Chico Mendes, que, se fosse vivo, estaria fazendo hoje 51 anos. Na última vez em que pôde comemorar o seu aniversário, não sabia que sete dias depois seria assassinado. Aliás, até sabia, pois anunciava isso o tempo todo. Mas, com certeza, esperava que, talvez, por algum motivo, esse terrível acontecimento não viesse a se consumar. Infelizmente, isso ocorreu no dia 22 de dezembro.

Hoje também se contam 1.130 dias que os assassinos de Chico Mendes fugiram da cadeia. A mesma justiça brasileira que conseguiu prender PC Farias não é capaz de recapturar Darly e Darci, que assassinaram Chico Mendes, mesmo com todas as informações que são dadas pelos seringueiros, pelos trabalhadores da Bolívia, pela própria TV Globo, de que eles estão no eixo Bolívia-Peru e de que é fácil localizar o esconderijo dessas pessoas.

Espero que 1996 seja o ano em que se faça justiça e que os ideais de Chico Mendes possam continuar presentes na defesa do meio ambiente, da floresta Amazônica, da viabilização econômica, política e social de um projeto para aquela região; V. Exª, que lá vive e pela qual é Senador, sabe, tão bem quanto eu, que o mesmo é fundamental para o desenvolvimento do nosso País e daquelas populações tão sofridas.

Sempre fico pensando quando o Governo brasileiro transformará em políticas de desenvolvimento as idéias que gestamos na Amazônia e fará com que elas possam viabilizar a região, sem que se precise aplicar a política do pires na mão, mendigando de ministério em ministério recursos para viabilizarmos os nossos Estados, como faz a maioria dos Estados da Amazônia, que dependem, em mais de 80%, de repasses da União.

Gostaria muito de que neste aniversário de Chico Mendes, se fosse vivo, pudéssemos acenar com uma preocupação com a Amazônia, não como um problema, mas como uma solução; acenar com uma preocupação com o meio ambiente não como algo em separado dos projetos de desenvolvimento, mas como algo que está entranhado na nossa concepção de ver, perceber e trabalhar a natureza com um profundo respeito.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, aqui nesta Casa, tentei fazer com que os problemas da Amazônia passassem a ser pensados e discutidos pelo Brasil.

Inúmeras vezes dirigi-me até os ministérios para levar sugestões daquilo que considero ser mais importante para a nossa região, o que fiz sem nenhum medo de estar colaborando com este ou aquele governo, pois fazendo isso estava, acima de tudo, tentando colaborar com os povos da floresta, com índios, com seringueiros, com homens e mulheres de bem, que sonham em ver aquela região desenvolvida corretamente, a fim de ser uma referência para o Brasil e para o mundo, rompendo a barreira do desafio entre desenvolvimento econômico, sustentabilidade, melhoria da qualidade de vida e justiça social.

Desejo aqui repetir o que disse na missa de sétimo dia do meu amigo Chico, que já não está mais presente em corpo, mas continua presente em idéias e, com certeza, em espírito.

Ele tinha um grande amor pelas pessoas. Amou como ninguém sua esposa e seus filhos. Tinha um grande amor por si mesmo, tanto que lutou por sua vida. Mas também tinha um grande amor pela natureza. Todo amor por uma pessoa que não é acompanhado de amor pela humanidade não é amor; e todo amor pela humanidade que não é acompanhado de um profundo respeito pela natureza pode ser tudo, menos amor.

Quero que neste Natal e em 1996 vivamos o amor pelas pessoas, pela natureza, enfim, por todas as coisas.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/12/1995 - Página 6159