Discurso no Senado Federal

EXONERAÇÃO DO SR. FRANCISCO GRAZIANO DA PRESIDENCIA DO INCRA.

Autor
Marina Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • EXONERAÇÃO DO SR. FRANCISCO GRAZIANO DA PRESIDENCIA DO INCRA.
Publicação
Publicação no DSF de 30/11/1995 - Página 4209
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • DEFESA, ATUAÇÃO, FRANCISCO GRAZIANO, EX PRESIDENTE, INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRARIA (INCRA), COMPETENCIA, DIREÇÃO, PROCESSO, REFORMA AGRARIA, RELAÇÃO, EXONERAÇÃO, CARGO PUBLICO, MOTIVO, PARTICIPAÇÃO, INTERCEPTAÇÃO, TELEFONE, JULIO CESAR DOS SANTOS, EMBAIXADOR, ASSUNTO, SISTEMA DE VIGILANCIA DA AMAZONIA (SIVAM).

A SRª MARINA SILVA (PT-AC. Para uma comunicação. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu estava inscrita como oradora e há mais de uma semana vinha tentando falar, mas não foi possível. Isso até me faz pensar que no Senado Federal há alguns Senadores, como é o meu caso, - e já ouvi outros reclamando - que sofrem de um problema grave, que é a síndrome do jabuti. Nós sempre falamos atrasados sobre assuntos que o Líder ou o Vice-Líder já discutiram há muito tempo. Mas como também queremos discutir, recorremos a esse expediente, que eu não poderia deixar de registrar, que é a síndrome do jabuti.

Nessa condição, por uma questão de justiça e de coerência, vou falar sobre a saída do Presidente do INCRA, Dr. Francisco Graziano. Como que eu já havia dito anteriormente, o Dr. Graziano é uma pessoa que entende da matéria que estava dirigindo, a reforma agrária, e que, num episódio desagradável dessa história do grampo, caiu. Penso até que não ficou provado que ele estaria envolvido nessa escuta telefônica. A versão que ele deu, até prova em contrário, é de que ele apenas entregou os documentos ao Presidente da República, uma vez que era seu Assessor de confiança.

O próprio Dr. Graziano diz o seguinte, na matéria de hoje do Jornal Folha de S. Paulo, sob o título "Graziano vê "drama pessoal" seu e de FHC":

      "Deixo essa missão com muita tristeza. Envolveram-me num episódio cuja única culpa, se tive, foi não me preocupar com a origem de um relatório que fiz chegar às mãos do Presidente", afirmou.

      Segundo ele, "forças contrárias à reforma agrária aproveitaram-se da lacuna provocada pelas intrigas e interesses políticos menores e se mobilizaram para enfraquecer minha posição". O diretor de Recursos Fundiários, Odônio dos Anjos Filhos, se demitiu em solidariedade ao seu ex-chefe.

O Movimento dos Sem-Terra também tem um matéria, na qual avaliam que a saída do Dr. Graziano enfraquece a reforma agrária.

Se o Presidente da República quer realmente fazer a reforma agrária e se existem outros interesses por trás do episódio do enfraquecimento e da saída do Dr. Graziano, que, até provem contrário, passou a idéia de uma pessoa competente, responsável e comprometida com o problema social gravíssimo, que é questão da terra no Brasil, Sua Excelência tem que colocar alguém à altura, que entenda da matéria e que tenha sensibilidade social para o assunto. Considero, pois, esse episódio muito desagradável para o País.

Ontem, tivemos a oportunidade de ouvir a fita do grampo, que inclusive estava editada, ou seja, havia um corte nela. Pensei até que o Governo procedeu a esses cortes porque eram 17 horas. Como era uma sessão matinê, não poderiam abordar determinadas questões, por isso censurou parte da fita. Talvez, se fosse em outro horário, pudéssemos tê-la ouvido inteiramente.

Sendo assim, quero dizer, com tristeza, que esse episódio tirou uma pessoa que tinha autoridade e que estava construindo uma relação com o Movimento dos Sem-Terra.

Na sexta-feira passada, quando tive oportunidade de falar sobre a reforma agrária, o Senador José Fogaça - como ele não está presente, não vou entrar no mérito que assinalou - disse que, anteriormente, quando presidentes tiveram à frente da questão da reforma agrária pessoas bastante comprometidas com a causa, como é o caso do atual Governador Dante de Oliveira, foram os setores radicais de esquerda, os partidos de esquerda que fizeram com que essas pessoas caíssem. Muitas vezes, o movimento inflaciona tantas reivindicações que mesmo uma pessoa comprometida acaba caindo.

No caso do Dr. Graziano, estava havendo um processo de entendimento com o Movimento dos Sem-Terra. Boa parte dos parlamentares de oposição, inclusive eu, já tinha feito referência ao seu trabalho, com muito respeito e expectativa. O que derrubou o Dr. Graziano não foram os partidos de esquerda. Pelo contrário, foi o próprio Governo que o fez, dadas, pelo que se ouve por aí, as intrigas palacianas.

Aliás, quando criança, por ter os cabelos rebeldes, ouvia minha mãe sempre dizer que grampo era para segurar. Nesse caso, grampo é para derrubar. Pois já derrubou um ministro, um Presidente do INCRA, um chefe de cerimonial e tantos outros pequenos que ainda vão cair e, quem sabe, até outros peixes maiores.

Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/11/1995 - Página 4209