Discurso no Senado Federal

CONSIDERAÇÕES ACERCA DO TEMA IMAGEM DO PARLAMENTO.

Autor
Carlos Patrocínio (PFL - Partido da Frente Liberal/TO)
Nome completo: Carlos do Patrocinio Silveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
LEGISLATIVO.:
  • CONSIDERAÇÕES ACERCA DO TEMA IMAGEM DO PARLAMENTO.
Publicação
Publicação no DSF de 07/12/1995 - Página 4983
Assunto
Outros > LEGISLATIVO.
Indexação
  • COMENTARIO, PESQUISA, OPINIÃO PUBLICA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DESNECESSIDADE, LEGISLATIVO, MOTIVO, AUSENCIA, CONGRESSISTA, PLENARIO, DESVALORIZAÇÃO, ATUAÇÃO, COMISSÃO, FUNÇÃO FISCALIZADORA, EXECUTIVO, INEFICACIA, RESULTADO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), CRITICA, TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO (TCU), ATENDIMENTO, RECOMENDAÇÃO, RELATORIO.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA, PROPOSTA, APERFEIÇOAMENTO, EXERCICIO, PRERROGATIVA, SENADO, CONTROLE EXTERNO, EFEITO, MELHORIA, CONCEITO, SOCIEDADE, CONGRESSO NACIONAL.

O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PFL-TO. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao retornar da viagem à Romênia, onde estive na qualidade de integrante da Comitiva de Senadores que representaram o Brasil e o Congresso Nacional na 95ª CONFERÊNCIA INTERPARLAMENTAR, busquei inteirar-me das atividades desenvolvidas nesta Casa, durante período em que estive ausente. Na oportunidade, a excelente publicação Jornal do Senado apresentou-me uma resenha dos pronunciamentos e proposições, demonstrando sobejamente, que o coração do Senado pulsa em inteira consonância com a vida brasileira.

Dos problemas tratados, um, ao meu ver, se destaca, por estar inteiramente ao nosso alcance a sua solução. Bem o resumiu a Senadora Marina Silva, o permitam-me aqui transcrever as palavras da ilustre Colega:

      A nossa Casa, que é o Senado, precisa de reavaliar, se perguntar em que pode melhorar a imagem do Parlamento.

Mesmo do outro lado do Atlântico, chegaram-me os ecos da pesquisa publicada pela Folha de S. Paulo. E se 38% do nosso povo considera dispensável o Poder Legislativo, é porque estamos deixando de cumprir satisfatoriamente as nossas atribuições.

Não é de agora, no entanto, que reflito sobre o assunto e acredito conhecer a principal causa de estarmos incorrendo no descrédito popular. Desejo ressaltar, também, que o tema já foi inúmeras vezes informalmente discutido, razão pela qual quero trazê-lo a este colendo Colegiado.

É fato corriqueiro que, quase sempre, a ausência de deputados e senadores do plenário da respectiva Casa, corresponde à presença em uma comissão permanente ou temporária. Essa atuação, de extrema importância para a vida nacional, dificilmente é valorizada tanto pelos meios de comunicação, quanto pelo grande público.

E por que, Sr. Presidente? Porque a ação do Senado, como órgão controlador externo dos atos do Poder Executivo, somente desperta o interesse da população, quando da atuação das comissões de inquérito. Ao tratar de assuntos polêmicos, as CPIs e as CPMIs os transformam em temas de impacto popular e recebem espaço na grande imprensa.

O povo acompanhou passo a passo a Comissão Especial do Senado Federal, instalada em 1992, na qual esta Casa atuou como órgão judiciário no processo de Impeachment contra o Presidente da República, Fernando Collor. Da mesma forma, a CPMI destinada a apurar denúncias do ex-funcionário José Carlos Alves dos Santos - a chamada "CPI do Orçamento" -, apaixonou a opinião pública. Pode-se dizer, Senhores, terem sido estas as únicas comissões que realmente apresentaram resultados concretos, nos últimos anos.

Assim sendo, uma tarefa exaustiva e importante caiu aos poucos no descrédito do povo, em razão da falta de providências. Pode-se, então, afirmar, Sr.Presidente, que o tempo consumido, as despesas, o esforço dos membros da Mesa e todo o procedimento regimental foram inúteis, apesar do elenco de recomendações constantes do relatório de cada comissão.

Defrontei-me, nos últimos meses, com uma dessas situações desgastantes. Como sabem, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito destinada a investigar o Endividamento do Setor Agrícola aprovou seu relatório final em dezembro de 1993. Tal documento enviou sugestões e recomendações a vários órgãos, dentre os quais o Tribunal de Contas da União - TCU. Como integrante da Comissão de Fiscalização e Controle do Senado Federal, coube-me analisar e relatar os documentos encaminhados pelo TCU ao Congresso Nacional, em resposta à solicitação contida naquele relatório.

Para melhor avaliar tal documentação, debrucei-me sobre os volumes relativos aos trabalhos da CPMI do Endividamento Agrícola, detendo-me, com especial atenção no relatório final. Lamentei constatar que a grande maioria das recomendações foi ignorada, dentre elas a da criação de uma Comissão de Alto Nível, a quem caberia monitorar as providências a serem tomadas quanto à situação das dívidas rurais.

No acervo encaminhado pelo TCU, em atendimento à demanda da CPMI, constatamos algumas incoerências nas respostas, dissociação entre solicitação e retorno, equívocos, informações desatualizadas e/ou insuficientes. Tais deficiências não deveriam acontecer, uma vez que, conforme reza a Constituição vigente:

      Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União...

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, compulsei, recentemente, uma separata da REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA, de janeiro/março de 1995, intitulada "o Senado como controlador externo", de autoria das Consultoras Heloísa Tartarotti e Maria de Lourdes Kain. Essa publicação, extremamente objetiva, engloba aspectos diversos do controle externo a ser exercido por esta Casa Legislativa e apresenta, como primeira conclusão:

      ... a única atividade de controle externo que o Congresso nacional divulga para a sociedade é das Comissões de Inquérito, o que envolve o risco de se supervalorizar um instrumento, que deve ser utilizado de forma limitada, em ocasiões específicas.

Em seguida a várias considerações pertinentes, a separata relaciona as seguintes propostas:

      - verificar se as CPIs atingiram seus objetivos e quais as conseqüências de algumas das CPIs julgadas mais importantes;

      - identificar problemas na divulgação e utilização do trabalho do TCU pelos parlamentares;

      - procurar estabelecer canais de comunicação entre o Parlamento e o Tribunal de Contas da União, incluindo a comunicação com os órgãos de controle interno do Poder Executivo;

      - estabelecer e sistematizar o fluxo de informações oriundos tanto do Executivo quanto de outras áreas daquela sociedade;

      - (...) aperfeiçoar o instrumento "requerimento de informações";

      - redefinir o papel do Congresso Nacional na autorização para emissão de moeda (...);

      - selecionar algumas leis para efeito de avaliação quanto á sua eficiência e eficácia, considerando que existe necessidade de adequação dos instrumentos legais aos reclamos da sociedade. Esse processo, eminentemente seletivo e de médio prazo, a ser desenvolvido no âmbito das comissões Permanentes, acabaria por ajudar na reorganização da estrutura jurídica do País.

São estas, Srªs e Srs. Senadores, as medidas consideradas pelas especialistas como indispensáveis à efetiva atuação do Senado na função de controlador externo.

A esse rol de procedimentos, e fundamentado na experiência de quase sete anos de dedicação exclusiva a esta Casa, peço vênia para acrescentar outros dois:

1º - ao se evidenciar a necessidade de informações mais precisas e detalhadas a respeito de qualquer entidade da administração pública direta ou indireta, deve o Senado, sempre que possível, solicitar ao Tribunal de Contas da União a auditoria operacional;

2º - antes de ser instalada qualquer nova CPMI é preciso se verificar se as determinações das anteriores foram cumpridas. Caso não tenham sido, devem-se tomar as necessárias providências para tanto.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não basta que o coração do Senado pulse em consonância com a vida brasileira; não basta que os problemas nacionais sejam aqui debatidos. É preciso que as responsabilidades sejam apuradas, nos casos de erro ou omissão, e que se apliquem os procedimentos legais recomendados pelas comissões.

Creio que, exercendo adequadamente o seu papel de controlador externo, esta Casa Legislativa passará a contar com o respaldo da opinião pública.

Tem inteira razão a Senadora Marina Silva; "A nossa Casa precisa se reavaliar, se perguntar em que pode melhorar a imagem do Parlamento".

Nobres Colegas, se cumprirmos correta e integralmente as funções para as quais fomos investidos, estaremos contribuindo de forma indiscutível para o desenvolvimento do nosso País, a distribuição da justiça social e a melhoria da qualidade de vida do povo brasileiro. A imagem do Parlamento, então, corresponderá às expectativas da Nação quanto á importância do Poder Legislativo em um sistema democrático.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/12/1995 - Página 4983