Discurso no Senado Federal

ENCONTRO DA BANCADA DO RIO GRANDE DO SUL COM O PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO. PRIVATIZAÇÃO DO BANCO MERIDIONAL.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRIVATIZAÇÃO. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • ENCONTRO DA BANCADA DO RIO GRANDE DO SUL COM O PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO. PRIVATIZAÇÃO DO BANCO MERIDIONAL.
Publicação
Publicação no DSF de 02/02/1996 - Página 1185
Assunto
Outros > PRIVATIZAÇÃO. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • REGISTRO, ENCONTRO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, BANCADA, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS).
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ENCONTRO, BANCADA, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS).
  • COMENTARIO, PRIVATIZAÇÃO, BANCO OFICIAL, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS).
  • COMENTARIO, NOTICIARIO, IMPRENSA, RELAÇÃO, POSIÇÃO, ORADOR, PLANO, REAL.
  • DEFESA, IMPLANTAÇÃO, PLANO, REAL.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a Bancada do Rio Grande do Sul teve ontem um encontro realmente muito bonito com o Presidente da República na casa do coordenador da Bancada, que é o extraordinário e competente Deputado Adroaldo Streck.

Foi um debate onde inclusive eu, pessoalmente, disse que fiquei impressionado com a competência, com a análise, com a vivacidade que está tendo o nosso Presidente da República. Sua Excelência realmente - fazia tempo que eu não o via - passou quatro horas discutindo com toda Bancada, demonstrando que está profundamente conhecedor do debate, da análise das questões.

Estranho uma matéria que está nos jornais de hoje, Sr. Presidente. Diz a matéria um fato que é verdadeiro. Fiz um apelo a Sua Excelência pela não privatização do Banco Meridional do Rio Grande do Sul. Penso que o Banco Meridional está desempenhando um papel importante. É um banco que está dando um grande lucro, um banco que vai muito bem.

E eu disse que depois de o Governo ter auxiliado na questão do Banco Econômico, na questão do Banco do Estado de São Paulo, não via por que privatizar o Banco Meridional.

Sua Excelência foi contra e disse que vai privatizar o Meridional. É um direito de Sua Excelência.

Quanto a isso eu divergi e divirjo novamente, e Sua Excelência diz que é favorável. Lamento, mas digo que Sua Excelência disse que era favorável.

Mas o jornal está publicando hoje que, no meio desse debate que eu tive com o Presidente - a imprensa fala que foram palavras duras, e eu digo que não, que foram palavras amistosas, só que talvez, ali, em meio àqueles Deputados e Senadores que estavam na frente do Presidente da República e falavam com um tom um pouco entoado de respeito ao Presidente; eu, com o mesmo respeito, falava no tom da amizade que tenho com ele, tratando-o por Fernando e ele me tratando por Pedro -, Sua Excelência, o Senhor Presidente da República, tinha dito que eu estava errado, ou, aliás, que eu disse: - Olha, Fernando, tu vais te arrepender. Dar tanto dinheiro para o Banespa e privatizar o Meridional vai criar uma questão política. O Rio Grande do Sul vai ficar magoado. Tu vais te arrepender! - Isso eu disse.

E Sua Excelência respondeu: "Não vou me arrepender..." etc. e tal. Mas aí, diz o jornal de hoje: "- Aliás, tu já errastes (eu, Pedro Simon) quando do Plano Real, que tu eras contra. E eu era a favor, e agora está provado que o Plano Real deu certo e que tu estavas errado."

Não ouvi o Presidente dizer isso para mim. Mas está em vários jornais, inclusive entre aspas. Não ouvi o Presidente dizer isso. O que ouvi o Presidente dizer foi: "- Simon, tinha muita gente que estava contra o Plano Real - tu sabes que tinha - e o Plano Real deu certo."

Agora, quero dizer de público, porque acho isso importante: Eu, Líder do Governo, nunca fui contra o Plano Real. Pelo contrário. Sempre fui favorável. Os colegas da época lembram de que foi complicado, que foi difícil, projetos inclusive que votamos do Plano Real, com o Congresso superlotado de gente. A CUT e a FIESP de São Paulo juntos contra o Plano Real.

Eu, com muita modéstia, mas liderando o Governo, em todos os projetos, votei a favor do Plano Real. E lá no Governo, a portas fechadas, em todas as reuniões de que participamos - está hoje em Brasília o ex-Presidente Itamar Franco, para o qual pode-se perguntar, como aliás a todos os membros do ex-governo ou do Congresso Nacional -, eu, sem nenhum brilho, sem nenhuma competência, mas com sinceridade, sempre fui a favor do Plano Real. Talvez o Presidente Fernando Henrique tenha se equivocado porque eu, na verdade, era daqueles que tinham medo de que o Presidente Fernando Henrique Cardoso deixasse o Ministério da Fazenda para ser candidato, porque achava que a saída do Ministro da Fazenda, substituindo-se o mesmo em plena campanha, quando o Plano Real estava iniciando, poderia ser negativa e o Plano Real ir à bancarrota. E aí errei, é verdade, porque o Senhor Fernando Henrique saiu, foi candidato, entrou o Ministro Ricupero, saiu o Ricupero e entrou o Ministro Ciro Gomes, e o Plano Real deu certo. Nas reuniões com Fernando Henrique, Itamar Franco e Pedro Simon, no gabinete do Palácio, chamei a atenção: acho difícil, acho complicado o Fernando ser candidato a presidente por uma razão: o Plano Real está dando certo porque se baseia nele, ele é quem está liderando, comandando e, de repente, ele sai do Ministério da Fazenda para ser candidato. Tinha medo de duas coisas: primeiro, porque iam dizer que o Plano Real era eleitoreiro; segundo, porque não sabia se quem viria no lugar dele tinha a competência que ele estava tendo para conduzir. Isso era verdade. E Sua Excelência, a quem quero fazer justiça, sempre a fiz, pois ele nunca brigou para ser candidato, nas reuniões que se teve ele nunca insistiu em ser candidato; ele era apaixonado para que o Plano Real desse certo. Isso para ele era o mais importante, em todos os debates. Tanto que se o PMDB, nas reuniões que tivemos, tivesse convencido o Sr. Quércia de não ser o candidato, se tivéssemos sentado à Mesa para buscar uma candidatura de entendimento com o PSDB, numa reunião que tivemos na Casa do hoje Líder do PSDB - Fernando Henrique, Covas, Richa, etc. e tal, Brito e eu - ele seria o primeiro a concordar.

Então, sou testemunha de que o Sr. Fernando Henrique nunca brigou para ser candidato. Ele foi porque as circunstâncias o levaram a isto. Agora, eu tinha medo de que sendo ele candidato, o Plano Real pudesse implodir, porque era ele quem tinha credibilidade. Eu estava errado. É verdade. Deu certo. Olha que quase deu errado! Não o Ministro Ricupero. Acho que o Ministro Ricupero foi fantástico, sensacional. Mas aquela resvalada na televisão foi difícil contornar. Felizmente, tanto o Fernando Henrique quanto o Itamar Franco contornaram com competência.

O Sr. Ciro Gomes era uma figura controvertida e talvez não fosse o candidato preferido pelo Sr. Fernando Henrique para Ministro da Fazenda naquela oportunidade. O Sr. Itamar Franco escolheu o Sr. Ciro Gomes por decisão espontânea, mas deu certo. Então, se o Sr. Fernando Henrique quer dizer que quando falei que ele saindo podia dar errado, que pensei isso, é verdade. Agora, a imprensa publicou que eu era contra o Plano Real, que eu achava que o Plano Real ia dar errado, e que eu errei, e coloca isso entre aspas nas palavras do Presidente, que não ouvi isso - mas isso não é exato.

Peço ao ilustre Presidente da República que faça a gentileza, no meio de tanto trabalho, da luta e do esforço que Sua Excelência tem - Sua Excelência não tem tempo nem preocupação para esse tipo de matéria - farei chegar às mãos do Presidente da República esse meu pronunciamento - de nos dar uma resposta, ou confirmando que foi publicado uma verdade, ou seja, que eu era contra - se for adotado esse posicionamento, solicito uma explicação -, ou que o jornal não publique o que aconteceu. Eu não ouvi, mas vários jornais publicaram isso.

Repito: nunca fui contra o Plano Real. Dentro da Bancada do Governo, como Líder do Governo, como amigo íntimo e pessoal do Presidente Itamar Franco, fui dos que deram garantia, dos que deram força, pelo afeto, pela compenetração, dizendo: "Presidente, o Fernando está certo! É por aí, temos que implantar o Plano Real." Na intimidade e publicamente sempre defendi o Plano Real, porque achava que estava certo, como considero que agora o Presidente está conduzindo de maneira correta essa desvalorização.

Solicito, então, com todo apelo e na modéstia do que isso representa, que cópia desse meu pronunciamento seja levada pelo Líder Elcio Alvares, que é uma das testemunhas, porque na época era Ministro do Governo Itamar Franco e foi Vice-Líder comigo no Governo, ao Presidente da República e que Sua Excelência perdesse dois minutos do seu tempo apenas para responder, caso não seja um equívoco da imprensa, porque nesse caso terei que aqui voltar e responder de outra maneira.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/02/1996 - Página 1185