Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO EX-SENADOR NELSON CARNEIRO.

Autor
Júlio Campos (PFL - Partido da Frente Liberal/MT)
Nome completo: Júlio José de Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO EX-SENADOR NELSON CARNEIRO.
Publicação
Publicação no DSF de 08/02/1996 - Página 1413
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, NELSON CARNEIRO, EX SENADOR, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).

O SR. JÚLIO CAMPOS (PFL-MT. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, disse o grande brasileiro Guimarães Rosa que morremos para provar que vivemos.

Nelson Carneiro não precisava morrer para provar que viveu; basta contemplarmos seu trabalho pelo Brasil para verificarmos que durante sua vida ele prestou muito serviço ao nosso País.

Baiano, nascido em 08 de abril de 1910, em Salvador, iniciou a vida pública como Deputado Estadual pela Bahia, depois de se formar em Direito e militar na Justiça brasileira. Em seguida, quando houve a criação do então Estado da Guanabara, elegeu-se Deputado Estadual Constituinte; posteriormente, Deputado Federal, veio para Brasília. Aqui chegando, com sua cultura jurídica, seu conhecimento e habilidade política, logo em seguida a sua posse, foi guindado a Vice-Líder do então MDB. Como Vice-Líder do Partido demonstrou autenticidade e oposição ao regime militar.

Eleito Senador da República, em 1970, só deixou esta Casa no dia 31 de janeiro de 1995, ao concluir seu terceiro mandato senatorial. Por 24 anos ele se fez presente, permanentemente, neste Senado Federal, e, hoje, estamos aqui a lamentar sua morte, seu passamento.

Quero dizer que minha família e eu tivemos a oportunidade de conviver com a simpatia e o carinho do Dr. Nelson Carneiro. Ainda, há poucos dias, num jantar com sua filha, Deputada Maria Laura, fui colocado a par dos últimos momentos de dificuldades que vivia o Dr. Nelson Carneiro com relação a sua saúde. Profundamente ligado a ele por laços de amizade pessoal, tive ocasião de dizer a ela do sentimento de que estamos todos tomados pelo seu sofrimento nesse final de vida.

Homem de luta, liderou a Bancada da Oposição do MDB durante vários anos; quando ninguém queria ser MDB no Brasil, Nelson Carneiro foi um dos primeiros a assinar a criação do Partido. Homem de conhecimento jurídico dos mais elevados, brilhou apresentando projetos de lei, muitos deles já fixados na mudança da história política deste País. Entre as leis que Nelson Carneiro conseguiu aprovar está a Lei do Divórcio. Realmente, quando ninguém acreditava que uma lei como essa pudesse ser aprovada no Brasil, Nelson Carneiro lutava durante anos e anos, até conseguir esse benefício para o povo brasileiro.

Lendo sua biografia, podemos destacar sua inteligência não só como jornalista, como advogado brilhante que era e como Parlamentar, além de ser homem de prestígio internacional. Ocupou as mais relevantes funções nesta Casa do Congresso Nacional, entre elas a Presidência do Senado Federal e do Congresso Nacional. Foi também embaixador pleno e potenciário nas festas do Sesquicentenário do México, em 1960; foi observador parlamentar na ONU várias vezes e membro da Delegação Brasileira nas reuniões da União Interparlamentar, da Associação Parlamentar de Turismo e do Parlamento Latino-Americano, do qual foi presidente.

Nelson Carneiro, pelos seus méritos e pelo seu trabalho, durante mais de 50 anos da vida pública recebeu as mais altas comendas que um homem público brasileiro pode receber. Foi homenageado pelo Exército, pela Marinha e pela Aeronáutica de nosso País. Recebeu também a condecoração da Ordem do Sol do Peru, já que sempre cultivou bom relacionamento com aquele país amigo e com os países vizinhos da América do Sul, além de ser casado com a peruana Carmem Perim Casagrande de Souza Carneiro. Recebeu também a Comenda da Ordem do Congresso Nacional e a Comenda da Ordem José Bonifácio, que é privativa do Senado Federal; recebeu o Prêmio Nacional de Oratória da Academia Brasileira de Letras.

Homem de ímpar inteligência, culto, além de dedicado e amigo. Foi amigo especial também de Juscelino Kubitschek de Oliveira. Nos momentos mais difíceis da vida de JK, Nelson Carneiro esteve destemido a seu lado; mais do que nunca, também por isso tem que receber hoje nossas homenagens. Homenagens que, tenho certeza absoluta, transmito em nome de todos os servidores desta Casa.

Como 1º Secretário do Senado durante dois anos, tive muito diálogo com seus funcionários e senti a devoção, o carinho que tinham pela figura do Dr. Nelson Carneiro, principalmente pela maneira austera, digna, honesta, com que se comportou na Presidência desta Casa, no comando do Senado Federal.

A Bancada do Estado de Mato Grosso muito deve ao Senador Nelson Carneiro: Quando o então Presidente Ernesto Geisel preparava a Lei Complementar nº 31, de 1977, que previa a divisão territorial de Mato Grosso, com a criação do Estado de Mato Grosso do Sul, nós do norte, nós de Cuiabá, temerosos de que aquela lei pudesse vir a prejudicar aquela região, fomos para Brasília, numa comissão de políticos mato-grossenses - eu, ainda jovem, era prefeito da cidade de Várzea Grande -, para procurar os políticos de então para ver se essa lei que estava sendo discutida no Congresso Nacional não traria prejuízos ao velho Mato Grosso, que iria perder dois terços de seu território, dois terços de seus Municípios e dois terços de suas rendas. Entre as pessoas com quem conversamos naquela época e que aceitaram estudar minuciosamente a Lei Complementar nº 31, destacou-se o Senador Nelson Carneiro, que nos deu um parecer avalizando que a Lei Complementar nº 31, de 1977, não traria qualquer prejuízo ao Mato Grosso remanescente.

É por isso que, nesta oportunidade, neste instante em que todo o Senado e todo o Congresso Nacional prestam homenagem à figura desse grande homem público brasileiro, não poderíamos deixar de vir à tribuna para fazer justiça ao seu nome. Como disse o Senador Jader Barbalho, Líder do PMDB, hoje, a partida de Nelson Carneiro para a eternidade significa sua consagração, porque nenhum homem público merece ou mereceu tanta homenagem neste País como Nelson Carneiro.

Sinto pessoal e politicamente a falta desse grande brasileiro. A ele serão dedicadas outras homenagens, e tenho certeza que nós matogrossenses, que sabemos ser gratos àqueles que nos beneficiam e que sempre nos tratam com carinho, saberemos, juntamente com o Governo de Mato Grosso, em época oportuna, prestar-lhe homenagem especial denominando algum prédio público, rodovia, avenida, algum fórum do meu Estado com o nome de Nelson Carneiro, em virtude de sua presença tão carinhosa a nosso lado no instante em que o Estado de Mato Grosso estava sendo dividido.

S. Exª me dizia, naquela época, que, como Senador e jurista, jamais deixaria o Governo Federal cometer uma injustiça com a terra de Filinto Müller, que era um dos seus grandes amigos e companheiros.

Portanto, neste momento, ocupo a tribuna dizendo que todo o Mato Grosso chora com a Bahia, chora com o Rio de Janeiro e chora com o Brasil a morte de Nelson Carneiro.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/02/1996 - Página 1413