Discurso no Senado Federal

PARTICIPAÇÃO DE S.EXA. NO CAFE NACIONAL DE ORAÇÃO, EVENTO ANUAL PROMOVIDO PELA ATLANTA RESOURCE FOUNDATION, ENTIDADE EVANGELICA AMERICANA.

Autor
Benedita da Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Benedita Souza da Silva Sampaio
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • PARTICIPAÇÃO DE S.EXA. NO CAFE NACIONAL DE ORAÇÃO, EVENTO ANUAL PROMOVIDO PELA ATLANTA RESOURCE FOUNDATION, ENTIDADE EVANGELICA AMERICANA.
Publicação
Publicação no DSF de 09/02/1996 - Página 1532
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • PARTICIPAÇÃO, ORADOR, ENCONTRO, IGREJA EVANGELICA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).
  • IMPORTANCIA, VIAGEM, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), CONTINENTE, EUROPA, TRATAMENTO, POLITICA, AMBITO INTERNACIONAL, RELACIONAMENTO, COMERCIO EXTERIOR.
  • CRITICA, DECISÃO, JUDICIARIO, IMPEDIMENTO, REALIZAÇÃO, VIDEO, MICHAEL JACKSON, CANTOR, ESTRANGEIRO, BRASIL.
  • VISITA, ORADOR, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), ELOGIO, REALIZAÇÃO, PROGRAMA, INTEGRAÇÃO SOCIAL, NEGRO, SOCIEDADE, TRANSFORMAÇÃO, PRISÃO, DESTINAÇÃO, CONSTRUÇÃO, IMOVEL RESIDENCIAL, POPULAÇÃO CARENTE, ATUAÇÃO, COMUNIDADE, IGREJA EVANGELICA, FAVORECIMENTO, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, POPULAÇÃO.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, CONSULADO, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), INICIATIVA, CONTRATAÇÃO, SEGURO-DOENÇA, GRUPO, IMIGRANTE, BRASILEIRO NATO.

A SRª BENEDITA DA SILVA (PT-RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) -Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores. Senador Lúcio Alcântara, agradeço a V. Exª, porque permutou comigo. Estou desde ontem tentando passar este relatório ao Plenário e não havia conseguido. Eu o farei de forma sucinta porque, daqui a pouco, entraremos na Ordem do Dia.

Fui convidada pela Atlanta Resource Foundation, uma instituição evangélica, para participar de um Café Nacional de Oração, um evento nacional que acontece todos os anos em Washington, mas que se tornou um encontro internacional.

Gostaria de relatar que aconteceu naquele período uma situação embaraçosa que esclarecerei mais adiante. Foi, sem dúvida, uma agenda exaustiva, mas compensadora para quem busca, como tenho buscado, estar junto com a pregação do Evangelho renovador, transformador, mas também pelas responsabilidades políticas. Desse café, participaram, também, o Presidente e o Vice-Presidente da República e suas respectivas esposas.

Os Estados Unidos têm uma maioria considerável de evangélicos e se destacam por ter uma população cristã evangélica que tem projetos e atuação paralela às ações do governo, mas que não se conflitam, evidentemente, por ser autônoma e independente.

A agenda exaustiva que cumpri concedeu-me a oportunidade de ir a Atlanta e lá observar como aquela cidade está-se preparando para as Olimpíadas. E faço aqui uma observação: não estão apenas os governantes se preparando para essa questão, mas também as organizações não-governamentais.

Sr. Presidente, tive oportunidade de, em função da visita, conhecer alguns projetos para a época, um deles muito interessante. A comunidade negra possui quatro bancos e, embora os clientes daqueles bancos sejam brancos, negros ou qualquer outra etnia, eles têm por princípio ajudar a comunidade negra no seu crescimento intelectual, econômico e social, financiando projetos de habitação popular, abertura de empresas, estudos de primeiro grau até a universidade. Eles têm uma compreensão diferenciada do que significa, verdadeiramente, uma participação efetiva dentro de uma comunidade histórica. A comunidade negra não é majoritária nos Estados Unidos como somos hoje no Brasil, mas ela tem conquistado o seu espaço.

Um dos projetos comunitários que pude visitar me chamou a atenção. Uma velha prisão foi transformada em conjunto habitacional, alugado pelo período máximo de um ano para pessoas desempregadas, sem casa, para famílias de baixa renda ou para pessoas em reintegração social, ex- viciados, ex-drogados ou ex-presidiários. Trata-se de um trabalho excelente, cuja terapia ocupacional se faz através da recuperação de móveis que vão ser vendidos para comunidades carentes, com retorno financeiro para aquela instituição.

Há também uma outra atividade, que é a revitalização de áreas decadentes. Pode-se dizer que as nossas favelas são áreas decadentes, pois ali faltam recursos, tais como saneamento básico. Isso acontece nas favelas porque na medida em que aqueles espaços são invadidos pela marginalidade, as famílias se mudam, deixando aqueles locais inteiramente abandonados. Tais locais são assumidos pela população, pela iniciativa privada, que monta o seu sistema de segurança e de desenvolvimento comunitário. Não apenas os pobres reconstroem o bairro e a cidade, colocando ali toda a infra-estrutura necessária.

Durante esse café, tive o privilégio de estar junto às pessoas escolhidas para um breve diálogo com o Presidente da República e sua esposa. Nessa oportunidade, convidei o Presidente da República a vir ao Brasil; haveria assim uma reciprocidade, já que o nosso Presidente lá esteve. Tomei essa atitude, na função de Senadora, com a consciência de quem tem a tarefa, ainda que não designada pelo Parlamento, de fazer com que o nosso País seja cada vez mais reconhecido e respeitado.

Digo isso porque, na minha avaliação, nos Estados Unidos e na Europa o nosso País ainda é visto como uma ilha e o tratamento dado ao Brasil é como se fosse aquele dado a uma pequena ilha. Na América latina, outros países de menor tamanho têm tratamento em nível de sua potencialidade e o nosso País não. Por isso, apesar de discordar de algumas medidas e acordos que o nosso Presidente tem feito, como é o caso do Sivam e das patentes, louvo Sua Excelência por estar fazendo, nas suas viagens, o reconhecimento de que existe um país de 160 milhões de brasileiros que não podem ter o tratamento como até então dispensado dentro da América Latina.

Louvo o Presidente e não tenho medo de dizer isso. O Brasil nunca tratou bem a questão de política internacional. O Presidente da República está fazendo esse esforço para levar ao conhecimento do mundo que este País também tem a sua política. Temos os nossos conflitos, vivenciamos as mais diversas situações, mas sabemos sobretudo que este é um dos grandes países, dentro da América Latina e do mundo, que não pode ser ignorado do ponto de vista político, social, econômico e cultural.

Visitei a Embaixada do Brasil e o nosso embaixador, Paulo de Tarso Flexa de Lima, que está muito bem, obrigado. E para aqueles que estavam pensando que ele poderia ser substituído, ele nos recebeu com todo o vigor de sua saúde e responsabilidade no cargo. Ali conversamos muito. E ele mostrou toda a sua habilidade para enfocar os temas considerados quentes das relações comerciais do Brasil com os Estados Unidos. Falamos de vários assuntos. A nossa delegação foi ali também orar, agradecer a Deus por Ele ter feito aquela obra maravilhosa na vida dele, independente de qualquer divergência de cunho ideológico.

Sr. Presidente, gostaria de falar mais, mas sei que o tempo não permite. Portanto, quero apenas registrar o meu desconforto quando recebi a notícia de que Michael Jackson estava sendo impedido de fazer o clip dirigido por Spike Lee na favela de Santa Marta.

Já disse isso aqui, mas volto a fazê-lo, porque não foi apenas a mim que isso incomodou - nos Estados Unidos também houve uma repercussão negativa.

Por iniciativa do ator e vereador Antônio Pitanga, por intermédio de uma liminar, conseguiu-se garantir a realização do clip. O diretor Spike Lee ligou agradecendo, mas dizendo que estava enfrentando outra dificuldade: o visto para o cantor Michael Jackson havia sido negado. Imediatamente telefonei para o embaixador Paulo Tarso, que me disse que as providências já estavam sendo tomadas e que lamentava profundamente o ocorrido. Disse-me também que havia sido procurado pela Casa Branca para resolver o problema. Quer dizer, a atitude do Consulado brasileiro em Los Angeles deixou o nosso embaixador numa situação extremamente difícil, pois ele não concordava absolutamente com as iniciativas que estavam sendo tomadas.

Não podemos, de forma alguma, concordar com o procedimento adotado pelo Consulado. Procedimentos como esses acabam envolvendo o País numa situação de injustiça, pois destoa da nossa tradicional postura de respeitar não só a cultura brasileira, mas também a de outros países.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/02/1996 - Página 1532