O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS. Para uma comunicação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, semana passada, enderecei desta tribuna um pronunciamento a Sua Excelência o Senhor Presidente da República. É que, sobre uma reunião entre a Bancada do Rio Grande do Sul e Sua Excelência, a imprensa publicou que o Senhor Presidente teria dito que eu, quando Líder do Governo, teria sido contra a implantação do Plano Real.

Afirmei desta tribuna que não acreditava que o Presidente tivesse dito isso; mas, se tivesse dito, era um equívoco.

Eu, como Líder do Governo do Presidente Itamar Franco, fiz um esforço muito grande em defesa do Plano Real e acho que nós - o Senado no seu conjunto, assim como o Congresso - fizemos um trabalho importante pela aprovação daquele Plano.

Pedi que o meu pronunciamento fosse entregue a Sua Excelência o Senhor Presidente e recebo dele a seguinte correspondência:

      "Meu caro Pedro,

      Obrigado duas vezes. Por ter me enviado seu discurso e pelo conteúdo dele, tão generoso para comigo.

      Eu também não me recordo, no entusiasmo de uma conversa tão franca e amistosa, as palavras que proferi. Tenho certeza, entretanto, que você, como líder do nosso Governo - teu, meu e, sobretudo, do Itamar - defendeu as medidas para a implantação do Real.

      Uma ou outra palavra crítica a seu respeito, sempre com amizade, sobre pontos nos quais divergimos, tem um único objetivo: convencê-lo do meu ponto de vista, para ter você a meu lado, pelo muito que o estimo.

      Forte abraço,

      Fernando Henrique Cardoso."

Acho que esse assunto fica esclarecido, Sr. Presidente. Eu, realmente, tenho divergido do Senhor Presidente da República. Divirjo sobre o Sivam, divirjo sobre a solução dada aos problemas dos bancos Econômico, do Estado de São Paulo e Meridional; mas reconheço, primeiro, no Presidente da República, um homem de bem, um homem digno e um homem correto. Em segundo lugar, reconheço o esforço extraordinário que Sua Excelência vem fazendo para acertar. Em terceiro lugar, que o Plano Real está dando certo. Em quarto lugar, que aqueles que achavam que a esta altura nós teríamos, ao lado do combate à inflação, uma situação praticamente de insolvência, se enganaram, pois isso não está acontecendo.

Acho que o Brasil vai bem. Não me identifico com todas as análises do Governo. Considero que ele tem uma base exageradamente ampla. Isso é bom? Pode ser que sim.

Estou vendo que quando o Dr. Fernando Henrique Cardoso dizia que tinha terminado a Era Getúlio Vargas, na verdade Sua Excelência achava que estava se iniciando a Era Fernando Henrique Cardoso. Dizia-se que o Dr. Getúlio Vargas era um gênio político, porque ele governava com dois Partidos, o PTB e o PSD. O Dr. Fernando Henrique Cardoso está governando com o PSDB, com o PFL, com o PMDB, com o PTB, com o PL, fora os partidos menores, com os quais, sem absolutamente nada, Sua Excelência também está governando. Isso complica a sua base de apoio, dificulta a sua base, que varia de caso para caso.

Eu voto contra o Sr. Fernando Henrique Cardoso na privatização da Companhia Vale do Rio Doce. Sou contra a privatização do Senhor Fernando Henrique Cardoso. Mas voto com ele na área social, voto com as preocupações que Sua Excelência tem com relação a este País.

Então, as bases do Presidente da República variam de votação para votação, porque os partidos variam. Por mais que se queira, o PFL não é o mesmo que o PSDB; o PSDB não é, por mais que queira, o mesmo que o PTB. Essas alterações fazem com que possamos estar, às vezes, em posições diferentes.

Mas eu, que votei no Senhor Fernando Henrique Cardoso para Presidente da República, até aqui, com as dificuldades que estamos enfrentando, com as mágoas que podemos estar sentindo, defendo que melhor é estar com Fernando Henrique Cardoso, positivo e concreto, do que querer imaginar colocar em sobressalto o Governo de Sua Excelência.

Agradeço a carta que recebi de Sua Excelência o Presidente da República e acho que ficou esclarecida uma dúvida que, para muitos, poderia ser insignificante, mas para mim era importante, pelo papel que, modestamente, representei naquele momento.

Muito obrigado, Sr. Presidente.