Discurso no Senado Federal

COMPARECIMENTO DE S.EXA. AO SEPULTAMENTO DO EX-SENADOR NELSON CARNEIRO, INTEGRANDO A COMISSÃO REPRESENTATIVA DO SENADO, DESIGNADA PELA MESA.

Autor
Josaphat Marinho (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: Josaphat Ramos Marinho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • COMPARECIMENTO DE S.EXA. AO SEPULTAMENTO DO EX-SENADOR NELSON CARNEIRO, INTEGRANDO A COMISSÃO REPRESENTATIVA DO SENADO, DESIGNADA PELA MESA.
Publicação
Publicação no DSF de 09/02/1996 - Página 1452
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • REGISTRO, COMPARECIMENTO, ORADOR, FUNERAL, NELSON CARNEIRO, EX SENADOR, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).
  • COMENTARIO, ATIVIDADE POLITICA, NELSON CARNEIRO, EX SENADOR, ESTADO DA BAHIA (BA), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).

O SR. JOSAPHAT MARINHO (PFL-BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srªs e Srs. Senadores, cumprindo a designação de V. Exª, Sr. Presidente, assisti, ontem, no Rio de Janeiro, ao sepultamento do ex-Senador Nelson Carneiro. Ali estaria de qualquer modo. Honrado com a designação, pude cumprir um duplo mandato: o desta Casa, juntamente com a Senadora Benedita da Silva, e o da estima pessoal. Sou, decerto, nesta Casa, quem mais cedo conheceu Nelson Carneiro. Eu era ainda ginasiano, e ele já perambulava pelas tribunas populares da Aliança Liberal. Depois, estudante de Direito, e ele já se erguendo para a condição de bacharel, estivemos juntos em um dos mais belos movimentos políticos da Bahia, o Movimento Autonomista, chefiado por Octávio Mangabeira.

No dia mesmo em que esse eminente brasileiro retornava do exílio, em 1934, presente estava Nelson Carneiro e presente esteve sempre, não obstante se haver transferido para o Rio de Janeiro, a todos os atos do interesse da Bahia, da evocação da Bahia, da recordação das tradições baianas.

Foi um lutador desde cedo. Os vagalhões da vida pública é que o fizeram deslocar-se da Bahia para o Rio de Janeiro. Ali se firmou como advogado, já que estavam fechadas as urnas democráticas até 1945. No retorno da legalidade, foi Deputado pela Bahia. Foi, depois, Deputado e Senador pelo Rio de Janeiro. Guardou uma posição de rigorosa correção. Nunca esqueceu a Bahia e jamais permitiu qualquer contraste na sua atuação como defensor do Rio de Janeiro em relação ao Estado de sua origem. Soube conciliar dignamente a diretriz de seu pensamento e de sua ação. Isto correspondia ao normal de seu temperamento.

Nelson Carneiro era humilde sem fraqueza; era firme sem vaidade; e era, invariavelmente, fiel ao seu pensamento e às causas a que se dedicou.

É de assinalar-se mesmo que, no curso de sua vida política, essencialmente parlamentar, Nelson Carneiro não se preocupou com pequeninas questões de lutas partidárias, não se perdeu no ódio. Dedicou grande parte de sua atividade parlamentar às causas sociais.

A sociedade brasileira lhe deve a instituição do divórcio. As mulheres companheiras e os filhos havidos fora da sociedade conjugal lhe devem as normas que os ampararam, e se saliente que a luta não foi curta. Por longos anos, Nelson Carneiro dedicou-se à conquista da Lei de Divórcio, como a essas outras leis de proteção social à família, constituída ou não à base do casamento. Era, assim, um homem preocupado com o destino da sociedade a que pertencia. As lutas partidárias não o empolgavam nunca a ponto de desviá-lo do ponto principal de suas atenções, que eram as questões sociais.

Podia variar de Partido - e variou de Partido -, mas não variou de pensamento, senão para aperfeiçoá-lo, para ampliar a sua preocupação na luta pela conquista de melhores condições de vida, sobretudo para os carentes ou para aqueles a quem o destino na sociedade não havia dado condições regulares para a defesa de seus direitos. Foi assim até o fim.

Sendo Deputado e Senador várias vezes, advogado no Rio de Janeiro, viveu e morreu pobre.

Vale lembrar, aqui, que, ainda no curso da última campanha, em meio a ela, ele foi reclamado por quem lhe havia emprestado US$ 20 mil, a fazer de imediato o pagamento. E não teve receio de dizer num artigo que não possuía os US$20 mil para atender ao seu rigoroso credor. Meses depois, muitos meses depois, encontramo-nos e ele me disse: "Consegui pagar os US$20 mil".

O grande bem que conquistou foi o respeito à sua atuação, à sua individualidade. Era o homem correto, vivo na defesa de suas idéias, mas não tinha paixões que o levassem a ofensas aos seus adversários.

Nós o vimos aqui, na última Legislatura, já um tanto alquebrado, mas a lutar pelas idéias e pelas sugestões que propunha. Era um hábil manejador do Regimento para a obtenção de soluções que conduzissem à aprovação de suas propostas.

Quando necessário, enfrentava os contraditores; fazia-o com energia, nunca com deseducação.

Presidiu esta Casa - pode dizer-se - com humildade; para ele não adveio nenhuma grandeza o exercício de Presidente do Senado e, conseqüentemente, do Congresso Nacional.

Ontem, desceu ao túmulo; na verdade, avultou na opinião pública, porque todos lhe reconhecem que, como político, foi um exato servidor do povo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/02/1996 - Página 1452