A SRª BENEDITA DA SILVA (PT-RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ontem, juntamente com o Sr. Senador Josaphat Marinho e o Sr. Deputado Paes de Andrade, estivemos representando o Congresso Nacional no sepultamento do Senador Nelson Carneiro.

Eu gostaria de fazer este registro em nome do Estado do Rio de Janeiro, porque considero que o mandato do Senador Nelson Carneiro marcou, consideravelmente, a história política brasileira. Um cidadão íntegro, que marcou, com sua atuação, cada um de nós nesta Casa, independentemente de nossa sigla partidária. Sabemos que S. Exª, sendo baiano, encontrou, sem dúvida nenhuma, abrigo no Estado do Rio de Janeiro.

Tenho certeza de que S. Exª deixa uma lacuna na parceria de sua trajetória política em defesa das mulheres. Lembro-me de que, ao defender alguns interesses dos direitos sociais na Assembléia Nacional Constituinte, S. Exª estava constantemente conosco.

Acredito que o Rio de Janeiro, quando acolheu Nelson Carneiro, o fez com muita sabedoria - na época, como Deputado; depois, como Senador da República.

A sua morte traz para nós, mulheres, uma grande perda, porque Nelson Carneiro foi obstinado defensor da nossa causa, da causa do direito da mulher.

S. Exª não se frustrou quando pôde apresentar vários projetos de interesses nessa área, pois muitos foram aprovados. Refiro-me, em particular, ao projeto que equiparava a mulher casada ao marido e assegurava pensão e montepio aos filhos de qualquer condição. Esse projeto foi extremamente importante porque entendíamos que a sociedade brasileira, com as suas dificuldade sociais, determinou, à luz do Direito, a união dos casais oficialmente. E aqueles que constituem a maioria dos casais deste País, bem como os seus filhos, ficaram excluídos daquele processo. Portanto, o debate desse tema não envolvia apenas o direito da mulher na chamada união estável, que a Constituição absorveu; esse projeto demonstrava a preocupação e o sentimento que o Senador Nelson Carneiro tinha com relação às mulheres no País.

Tive a oportunidade de conviver com ele, que era todo sensibilidade. O grande Senador Bernardo Cabral, que foi Relator da Assembléia Nacional Constituinte deve ter sentido, como eu, a importância de Nelson Carneiro nesse processo. S. Exª foi um hábil articulador político. Foi, sobretudo, conquistador de amizades, porque, independente de siglas partidárias, encontrávamos nele apoio. Mesmo quando S. Exª divergia, fazia-o com muita categoria.

Uma das suas particularidades era passar para nós, parceiros de oposição, sua experiência, através de um conselho: "Não é bom que se venha primeiro batendo de frente, mas que o diálogo, principalmente ao pé do ouvido, seja feito de forma a garantir que os objetivos sejam alcançados".

E era com essa serenidade que nós, mulheres, íamos a seu gabinete e apresentávamos as nossas sugestões e necessidades, que S. Exª captava como cidadão sensível a essas causas.

À sessão de homenagem, ocorrida ontem no plenário do Senado, não pude comparecer, pois estava fazendo parte da delegação indicada pelo Presidente José Sarney para representar o Senado nos funerais do Senador Nelson Carneiro. E o fiz com a certeza de que expressava, pela primeira vez, o sentimento total do Senado Brasileiro, em uma missão extremamente importante e sobretudo humanitária.

Gostaria que a atuação desse grande político, que deixa saudade nas mentes e nos corações dos brasileiros, pudesse ter continuidade nas nossas ações e, em particular, na herança que deixa à sua filha, que, inspirada nos ideais do pai, também trilha o caminho da política.

Quero deixar o meu abraço fraterno à família do Senador Nelson Carneiro, especialmente à sua filha Laura Carneiro, torcendo para que ela siga o caminho da política com o exemplo deixado por seu pai.

O Sr. Gerson Camata - Permite-me V. Exª um aparte?

A SRª BENEDITA DA SILVA - Concedo o aparte ao nobre Senador Gerson Camata, com muito prazer.

O Sr. Gerson Camata - Nobre Senadora Benedita da Silva, V. Exª, como carioca, registra a grande perda para o Estado do Rio de Janeiro que foi a morte de Nelson Carneiro, principalmente a perda humana que a classe política sentiu. Nós, que convivemos com Nelson Carneiro, como V. Exª, cada vez que pensamos na sua atuação aqui, mais aprofundamos o sentimento de perda dentro dos nossos corações e das nossas mentes. Observando a atuação de Nelson Carneiro, percebemos que seus projetos eram sempre dedicados ao povo brasileiro, à mulher, ao marido, à criança, ao operário, ao funcionário público. Nelson Carneiro foi um homem que não fazia grandes projetos na área econômica, buscando grande progresso econômico, mas sempre o desenvolvimento e o progresso humano. S. Exª era, acima de tudo, um político profissional - no bom sentido da palavra. Nelson Carneiro não tomava conta de fazenda, não tomava conta de empresa, não tinha negócios particulares, S. Exª se dedicava 24 horas por dia à atividade política, que exercia com uma vocação tão profunda e tão humana. Era dessa gente que vai fazer falta ao Brasil - aliás, já está fazendo -, dessa gente que se dedica ao grande patrimônio do Brasil, que é o povo brasileiro. Acho que V. Exª, Senadora Benedita da Silva, é um pouco herdeira desse sentimento que Nelson Carneiro deixa. Parabéns a V. Exª e meus cumprimentos pela maneira como aborda a figura desse homem público.

A SRª BENEDITA DA SILVA - Senador Gerson Camata, sabe V. Exª que disputei com o Senador Nelson Carneiro as últimas eleições no Estado do Rio de Janeiro, e uma das coisas que mais me emociona é o fato de, graças a Deus, não termos tido nenhum confronto, porque entendíamos que qualquer um de nós que fosse eleito seria sensível a essas causas há pouco colocadas por V. Exª.

Isso, de certa forma, confortou-me, porque, logo após as eleições, conversamos, como amigos, sobre a nossa responsabilidade em relação à população do Estado do Rio de Janeiro. Ouvi do Senador Nelson Carneiro - e faço questão de fazer este registro - que S. Exª não se sentia derrotado; S. Exª se sentia, naquele momento, apenas saindo de um mandato que já estava concluído, e tinha certeza de que o meu gabinete seria uma porta aberta aos seus eleitores e a todos aqueles que tivessem preocupações não apenas com os chamados grandes temas nacionais - que, de uma certa forma, dão IBOPE, porque são temas discutidos no cotidiano da vida pública.

S. Exª tinha a preocupação de que esses temas específicos, na verdade, se constituíam em temas maiores, porque não se pode discutir uma questão econômica numa relação de capital/trabalho, sem olhar, hoje, para a questão social do trabalho feminino e como ele se dá, já que representa uma população de 52%. Não podemos tratar do futuro do País se não olharmos para o futuro evidente e claro de mais de 36 milhões de brasileiros que constituem a população infanto-juvenil do País.

A sensibilidade a essas questões levou S. Exª a introduzir, nos chamados grandes temas, a responsabilidade social. E foi com muito orgulho que recebi essas palavras do Senador Nelson Carneiro, depois de uma disputa eleitoral no Estado do Rio de Janeiro. Foram sensíveis demais!

E mais ainda: pedi a S. Exª que estivesse comigo no segundo turno das eleições ao Governo do Estado do Rio, no apoio à candidatura do Garotinho. E ele fez a sua declaração, mostrando que estava consciente do papel que deveríamos exercer.

Lembro ainda mais, Senador Gerson Camata, que, ao fazer o seu último discurso nesta Casa, o Senador Nelson Carneiro disse novamente que eu, Benedita da Silva, estaria a serviço do povo do Estado do Rio de Janeiro e do seu eleitorado na defesa dessas causas. Que responsabilidade a minha! Depois, vieram me perguntar: "Mas como o eleitorado do Senador Nelson Carneiro, se V. Exª pertence a outro partido e cuida de outras coisas?" E eu respondi: "Não. Vocês não atentaram para o fato de que, em que pese o Senador Nelson Carneiro ter a função de representar o interesse nacional e do Estado, ele não deixou de lado as causas sociais, as mesmas que me sensibilizaram a trilhar o caminho da política. Por isso é que S. Exª faz essa recomendação ao seu eleitorado".

Um homem com essa capacidade merece de todos nós o carinho e o respeito e, de mim particularmente, uma grande responsabilidade.

Por isso, Senador Gerson Camata, eu disse aqui que, pela primeira vez, alguém pôde representar na totalidade o sentimento dos outros: foi ontem, quando, acompanhada do Senador Josaphat Marinho e do Deputado Paes de Andrade, eu pude representar o nosso sentimento, o sentimento do Senado, o sentimento do Congresso Nacional.

Era o que eu tinha a dizer.