Discurso no Senado Federal

FALECIMENTO DO PROFESSOR GUILHERME MAURICIO DE SOUZA DE LA PENHA.

Autor
Ademir Andrade (PSB - Partido Socialista Brasileiro/PA)
Nome completo: Ademir Galvão Andrade
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • FALECIMENTO DO PROFESSOR GUILHERME MAURICIO DE SOUZA DE LA PENHA.
Aparteantes
Jader Barbalho.
Publicação
Publicação no DSF de 09/02/1996 - Página 1583
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, GUILHERME MAURICIO DE SOUZA DE LA PENHA, PROFESSOR, ESTADO DO PARA (PA).

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB-PA. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu gostaria de fazer um registro lamentável para nós, mas é um dever fazê-lo.

A morte trágica do Professor Guilherme Maurício de Souza Marco de La Penha, ocorrida na última terça-feira, nesta Capital, priva o Pará e o Brasil de uma de suas maiores inteligências.

O desaparecimento do Professor Guilherme de La Penha, como era mais conhecido, consterna toda a comunidade científica e intelectual do País, encerrando uma das mais brilhantes contribuições já prestadas à ciência e à cultura brasileira.

Exercendo atualmente a direção de Programas Espaciais da Agência Espacial Brasileira, órgão da Secretaria de Assuntos Estratégicos, o Professor De La Penha, natural de Belém do Pará, era engenheiro mecânico, formado pela PUC do Rio de Janeiro. Tornou-se PhD em Matemática Aplicada e Física Teórica pela Universidade de Houston, nos Estados Unidos, obtendo ainda o título de pós-doutorado na Universidade de Carnegie, Mellon, também nos Estados Unidos.

Pesquisador titular do CNPq, La Penha publicou cerca de 75 trabalhos científicos e teve sete livros editados, dois deles no exterior. Foi também membro de várias sociedades científicas no Brasil, Estados Unidos e Inglaterra, tendo sido professor em universidades americanas e na Alemanha. Em sua trajetória docente foi agraciado com o título de doutor honoris causa pelas universidades do Pará, Maranhão, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba, tendo atuado como professor visitante em quase todas universidades brasileiras.

Dentre os vários cargos que ocupou, destacam-se o de diretor do Instituto de Matemática da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1969-1976); diretor de Desenvolvimento Científico do FINEP (1977-1978); Secretário de Educação Superior do Ministério da Educação e Cultura (1979-1980); vice-presidente do CNPq (1980-1982); assistente especial do Departamento de Ciência e Tecnologia da OEA, em Washington (1983-1984).

Também no Estado do Pará, o Professor Guilherme de La Penha deixou registrada sua contribuição. Foi diretor do Museu Emílio Goeldi/CNPq e secretário de Estado de Cultura, entre os anos de 1985 e 1991. Nomeado assessor especial do Governo do Estado, recebeu a missão de estruturar e implantar a Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia e Meio Ambiente. Ao final de 1991 volta a ocupar a Secretaria de Estado de Cultura, desenvolvendo relevantes serviços nessa área, com especial destaque para criação do Salão Paraense de Artes Plásticas e uma série de outros eventos artísticos que movimentaram a cultura do Pará.

Guilherme de La Penha, era reconhecido e respeitado internacionalmente, além da admiração que granjeava por sua vasta cultura. Poliglota, falava seis idiomas e foi um dos articuladores diplomáticos nas negociações para a realização da Assembléia Geral Ordinária da OEA, em Belém do Pará, no ano de 1994. Meu Partido, o Partido Socialista Brasileiro no Estado do Pará e, creio, as representações políticas e o povo em geral lamentam profundamente este fato.

O Sr. Jader Barbalho - Permite-me V. Exª um aparte, nobre Senador Ademir Andrade?

O SR. ADEMIR ANDRADE - Pois não, nobre Senador Jader Barbalho.

O Sr. Jader Barbalho - Senador Ademir Andrade, eu gostaria de me unir à manifestação de V. Exª em relação a essa figura inesquecível para o Pará, que é o Professor Guilherme de La Penha, precocemente desaparecido. Gostaria, também, de dar o meu testemunho e dizer até do privilégio que tive de poder contar com Guilherme de La Penha, como meu auxiliar, à frente da Secretaria de Cultura, durante a minha gestão, no último mandato que exerci como Governador do Pará. Com muita justiça V. Exª registra o fato do quanto a participação daquele emérito Professor contribuiu em favor da cultura de nosso Estado. Cito como exemplo o Salão de Arte Contemporânea. Gostaria, se me permite V. Exª, de acrescentar a sensibilidade popular do Professor Guilherme de La Penha. Apesar de ser um homem com um currículo - como há pouco V. Exª teve a oportunidade de informar ao Senado - que permitiria ao Dr. La Penha ocupar qualquer cargo da maior importância neste País e até a nível internacional, ele era um homem de profunda sensibilidade popular. Um dos seus grandes projetos na área cultural foi "O Povo Vai à Praça". Era sua preocupação não só o entretenimento da população mais pobre do nosso Estado, como também a oportunidade a ser dada a artistas que, sem chance de ter um espaço para exercer as suas atividades, poderiam utilizar a praça pública, além da valorização do artista local. Eu citaria, também, entre tantas obras realizadas somente no âmbito da Secretaria de Cultura, a transformação do Palácio Lauro Sodré - velho sonho de vários governos- no Museu do Estado. E foi graças ao empenho, ao trabalho pessoal do Professor Guilherme de La Penha que tornou isso possível, ganhando a sociedade paraense mais um espaço cultural no nosso Estado. Não pretendo alongar-me neste aparte além do que já fui. Poderia citar inúmeras iniciativas do Professor Guilherme de La Penha no setor cultural, como por exemplo, o Festival de Música Popular; iniciativas como Relendo o Pará, onde ele teve a oportunidade de dar chance às novas gerações de conhecer autores que só sabiam de suas existências por vaga referência ou por nome de rua e que ele, com sua sensibilidade, fez com que fosse possível reeditar esses autores, para recontar a História da Literatura do nosso Estado. Era um homem, portanto, de uma visão multiforme, que se espraiava daquilo que se pode chamar do setor mais requintado da área cultural aos segmentos de acesso mais popular. Por isso mesmo, quero, neste aparte, unindo-me à manifestação de V. Exª, expressar o meu profundo pesar e registrar o privilégio que tive de contar com Guilherme de La Penha como meu auxiliar e também de ter tido a chance de conviver com uma das figuras mais interessantes que tive a oportunidade de conhecer.

O SR. ADEMIR ANDRADE - Agradeço, Senador Jader Barbalho, o aparte de V. Exª. Creio que o pesar que manifestamos nesta Casa, neste momento, é o sentimento de todo o povo do Pará e, sem dúvida, de grande parte do povo do Brasil. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/02/1996 - Página 1583