Discurso no Senado Federal

VISITA DO PRESIDENTE DO PERU AO BRASIL, SR. ALBERTO FUJIMORI, COM VISTAS A ESTREITAR OS LAÇOS ENTRE OS DOIS PAISES.

Autor
Nabor Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Nabor Teles da Rocha Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • VISITA DO PRESIDENTE DO PERU AO BRASIL, SR. ALBERTO FUJIMORI, COM VISTAS A ESTREITAR OS LAÇOS ENTRE OS DOIS PAISES.
Publicação
Publicação no DSF de 23/02/1996 - Página 2121
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • COMENTARIO, VISITA OFICIAL, PAIS, ALBERTO FUJIMORI, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PAIS ESTRANGEIRO, PERU, MELHORIA, RELAÇÕES DIPLOMATICAS, LIGAÇÃO, TRAFEGO RODOVIARIO, ESCOAMENTO, PRODUTO IMPORTADO, PRODUTO EXPORTADO.

O SR. NABOR JÚNIOR (PMDB-AC. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Brasil vai receber, na próxima semana, a visita do Presidente do Peru, Dr. Alberto Fujimori, que terá diversas rodadas de negociações com empresários e autoridades do Poder Executivo, além de visitar o Congresso Nacional, para receber a protocolar homenagem, em sessão conjunta solene.

Não quero, hoje, ater-me aos lados polêmicos da política interna peruana, que, aliás, até parecem haver sido resolvidos pela própria sociedade local.

Na próxima visita do Presidente Fujimori, muitos importantes problemas bilaterais - até mesmo continentais e mundiais - deverão ser submetidos a discussão e encaminhamento, porque são dois dos mais importantes países da América Latina. Dentre os pontos listados, deve-se ressaltar a interligação das malhas rodoviárias, propiciando a reciprocidade oceânica para ambas as Nações, ou seja, abrindo o Atlântico aos peruanos e permitindo que os brasileiros tenham livre acesso às costas do Pacífico.

O Brasil só recentemente cristalizou a consciência da rota para o Pacífico, como uma das mais importantes metas do desenvolvimento econômico, dentro da abertura mercantil e fabril com a Ásia, cujos "tigres" representam a grande força motriz do progresso e das inovações tecnológicas na virada do século. Tivemos de superar, inicialmente, incompreensões e apreensões quanto a aspectos ecológicos e preservacionistas; o Senado e a Câmara têm acompanhado, nas últimas décadas, candentes discussões sobre o tema. Hoje, todavia, chegou-se à posição de equilíbrio e defesa dos superiores interesses de toda a nacionalidade: a utilização racional e sustentada dos recursos amazônicos, inclusive de seu solo, na ligação com áreas de grande potencial, em todos os pontos do Planeta.

Já existem, inclusive, tratados entre Brasil e Peru, determinando a interligação rodoviária de suas rotas permanentes. Os então Presidentes João Figueiredo e Belaunde Terry chegaram à conclusão, na década passada, de que o traçado ideal é o que combina as estradas BR-364 e BR-317 até a cidade de Assis Brasil, onde se fará a conexão com a rede viária peruana.

Importa frisar que toda a ligação rodoviária entre a costa do Atlântico e a do Pacífico já está aberta e, inclusive, tem sido percorrida por cidadãos dotados de veículos mais rústicos e habilitados ao tráfego precário - mas já existe a rota!

O trecho mais complexo, atravessando os Andes peruanos, não será problema para as autoridades daquele país e não representará gastos para o Brasil; nosso compromisso consiste em pavimentar e proteger os trechos domésticos, o que não representa maior problema para a avançada tecnologia de obras pesadas hoje em poder de nossas empresas de grande porte; e o impacto no meio ambiente tem sido analisado com responsabilidade e cautela, para evitar prejuízos e danos à natureza. Esses são os aspectos logísticos da questão.

No tocante à economia brasileira, temos de levantar, corajosa e francamente, o enfoque favorável à nossa sociedade: nada é mais importante, hoje em dia, do que partir as barreiras que impedem o acesso dos industriais e dos comerciantes nacionais aos países andinos e aos das outra costa do Oceano Pacífico, na Ásia. É uma perspectiva empolgante e promissora, em sua simplicidade: todos os povos sul-americanos enxergam no Brasil um essencial parque fornecedor de produtos e de serviços, além de um grande mercado consumidor. Chegando com facilidade ao Peru, Equador, Bolívia, Colômbia e Chile, por exemplo, teremos condições privilegiadas de competir com os exportadores da Europa e da costa leste dos Estados Unidos, bem como estaremos nos habilitando a adquirir os produtos locais em condições vantajosas para nós e para aqueles vizinhos.

Olhando mais longe, encontraremos, na outra margem do Oceano Pacífico, o Japão, Taiwan, Coréia e outros portentosos centros produtivos, dotados da mais moderna tecnologia industrial - mas que são, paralelamente, formidáveis consumidores de insumos e de alimentos produzidos no Brasil, países superpopulosos que têm problemas crônicos de aquisição de comida para sua gente. Isso seria chamado pela sabedoria popular de "juntar a fome com a vontade de comer"...

O terceiro aspecto é, talvez, o mais importante de todos: a criação imediata de riquezas internas, de empregos, de utilização racional do solo em regiões hoje relegadas a plano inferior. O Centro-Oeste está fadado a se tornar o maior produtor de cereais do mundo, enriquecendo com suas safras as reservas e os cofres nacionais; os grandes vazios demográficos, hoje expostos à cobiça das potências transbordantes de população, esses vazios demográficos receberiam contingentes de trabalhadores hoje confinados na miséria das periferias urbanas.

E, como conseqüência dessa presença econômica e social, o Brasil consolidaria, definitivamente, sua soberania sobre vastas porções de seu território, em regiões estratégicas, próximas às fronteiras com países vizinhos.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, coragem não se confunde com arrogância - é a atitude, serena e construtiva, de quem faz valer seus direitos e seus interesses; é a determinação de respeitar sem abrir mão do respeito a si próprio; é, acima de tudo, a força moral de quem se sabe ao lado da justiça e da paz social.

Essa coragem não pode faltar aos governantes brasileiros na hora de fazer valer aqueles direitos e interesses de que falei há pouco. Nela estão assentadas a confiança e as esperanças de todos os cidadãos, principalmente dos que têm a visão progressista e justiceira de promover o desenvolvimento social e econômico do País em clima de harmonia, firmeza e determinação.

Estou certo de que o Governo e os empresários do Brasil, nas conversações da próxima semana com o Presidente do Peru, saberão estabelecer proveitosos tratados para a ligação interoceânica, transformando nosso País, na prática, na grande potência do Hemisfério Sul, dotada de acesso aos dois maiores oceanos da Terra.

Não será sonho visionário - será a concretização imediata e eficaz de algo que pode ser feito, deve ser feito e será bem feito.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/02/1996 - Página 2121