Discurso no Senado Federal

HOMENAGENS POSTUMAS AOS INTEGRANTES DA BANDA MAMONAS ASSASSINAS.

Autor
Valmir Campelo (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/DF)
Nome completo: Antônio Valmir Campelo Bezerra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGENS POSTUMAS AOS INTEGRANTES DA BANDA MAMONAS ASSASSINAS.
Aparteantes
Casildo Maldaner, José Roberto Arruda.
Publicação
Publicação no DSF de 05/03/1996 - Página 3396
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, PARTICIPANTE, BANDA DE MUSICA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).

O SR. VALMIR CAMPELO (PTB-DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, incredulidade e tristeza foram os sentimentos que dominaram a Nação brasileira no dia de ontem.

A notícia chegou logo de manhãzinha pelo rádio, pela TV, pelo buchicho que tomou conta das ruas, das praças, de todos os locais públicos deste amado País continente: os geniais garotos do conjunto musical Mamonas Assassinas estavam mortos. O que restou dos corpos de Dinho, Samuel, Sérgio, Bento e Júlio estava sendo resgatado pelo Corpo de Bombeiros e pela Polícia Militar de São Paulo, na Serra da Cantareira. Juntos, morreram também outros quatro jovens: o piloto do Lear-jeat em que viajavam, Jorge Luiz; o co-piloto Alberto Takeda; o secretário da banda, Isaac Souto, e o segurança Sérgio Saturnino.

Aos poucos, ficou-se sabendo que o que causou a morte dos garotos do conjunto Mamonas Assassinas foi um acidente aéreo; que o grupo havia participado de um show em Brasília e, ao final, por volta das 21h30mim, embarcado com destino a São Paulo. Dali partiriam para Lisboa, onde tinham apresentações agendadas.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, uma grande comoção tomou conta do País. O Brasil de Tom Jobim, Elis Regina, Raul Seixas, Vinícius de Moraes, Luiz Gonzaga e tantas outras mega-estrelas já desaparecidas chora hoje o trágico fim do mais irreverente, alegre e talentoso conjunto musical dos últimos tempos.

O Correio Braziliense de hoje, em sua matéria de capa, faz uma consideração intrigante. Diz um pequeno trecho da notícia:

      Os maiores, os pais penam para explicar aos filhos como ídolos tão jovens desaparecem tão cedo.

Os Mamonas Assassinas, o fenômeno musical surgido há pouco mais de seis meses em Guarulhos, conquistaram principalmente os jovens e as crianças, com sua música despreocupada, satírica e totalmente descompromissada. Nesse curtíssimo período de vida, os Mamonas surpreenderam o mercado, com a incrível marca de quase três milhões de discos vendidos. Por onde passavam, arrastavam multidões.

Mas foram principalmente as crianças, Sr. Presidente, que mais se apegaram ao jeito brincalhão desses garotos espertos, sadios e alegres que em tão pouco tempo conquistaram o respeito e a admiração de todos nós.

Num País com tão pouco a comemorar, os Mamonas encarnaram a alegria, a exaltação das coisas simples, tocando essencialmente a alma do brasileiro sofrido, dos deserdados da Pátria amada. Os Mamonas, sem exagero, foram uma linda e alegre celebração. Dinho, Samuel, Sérgio, Bento e Júlio ficarão para sempre na memória do povo brasileiro. Não existe uma criança que não tenha se encantado com a irreverência dos versos cantados por Dinho. Essas crianças, Sr. Presidente, que não entendem e não podem entender o fenômeno da morte, estão perplexas com a gratuidade da passagem de seus ídolos. Elas não acreditam, não querem acreditar.

Os Mamonas passaram, meteoricamente, como cinco cometas de brilho intenso e fugaz. Para nós que ficamos, para as crianças que eles tanto amaram restaram sua obra, sua alegria, sua irreverência.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, são muitas as especulações em torno do acidente, e não cabe aqui, neste momento de dor, discutir responsabilidades. A Aeronáutica, após investigar o sinistro, com certeza, esclarecerá as causas dessa tragédia. Cabe, no entanto, solicitar ao DAC - Departamento de Aviação Civil, mais rigor na vistoria das aeronaves que voam no País. É preciso que as companhias de aviação sofram uma fiscalização mais rigorosa. Quem viaja de avião pelo Brasil se defronta com uma séria de problemas, a começar pelo preço das passagens, que são das mais caras do mundo. Os aviões são muito antigos e a manutenção é precária.

Finalizando, Sr. Presidente, como representante do Distrito Federal nesta Casa, quero prestar minha homenagem e a homenagem do povo de Brasília a esses cinco rapazes maravilhosos, transmitindo às famílias enlutadas o meu mais profundo pesar por essa tragédia inesperada.

O Brasil perdeu muito do seu talento e da sua alegria com o desaparecimento dos Mamonas Assassinas.

O Sr. José Roberto Arruda - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. VALMIR CAMPELO - Com prazer ouço V. Exª.

O Sr. José Roberto Arruda - Observo que V. Exª termina seu pronunciamento e não quero deixar de aliar-me à manifestação de pesar que, em nome do povo de Brasília, faz nesta Casa. Quero dizer também que com esse conjunto vai um pouco do nosso bom humor, da irreverência, da capacidade de sátira da sociedade brasileira. Meu filho, Fernando, que tem nove anos, foi ao último show dos Mamonas Assassinas e, como pai, fiquei sofrendo com ele, ontem pela manhã, pela sua dificuldade em entender o que havia acontecido com aqueles meninos alegres da noite anterior. Ele havia levado para casa um poster autografado pelo conjunto e não entendia como podia, rapidamente, ter acontecido algo tão desagradável para todos nós. Penso que Brasília, ao sediar o último show dos Mamonas Assassinas, como capital do País, prestou uma homenagem a toda esta geração que é irreverente, bem humorada, satírica e que faz, dessa maneira, críticas construtivas aos costumes da nossa sociedade. Junto-me, portanto, às palavras de V. Exª neste gesto de solidariedade e de pesar em nome de toda a população do Distrito Federal.

O SR. VALMIR CAMPELO - Muito obrigado, Senador José Roberto Arruda.

O Sr. Casildo Maldaner - Senador Valmir Campelo, V. Exª me concederia um aparte?

O SR. VALMIR CAMPELO - Ouço V. Exª, Senador Casildo Maldaner.

O Sr. Casildo Maldaner - Eu pessoalmente não saberia aquilatar a importância ou a irreverência dos moços. Como disse o Senador José Roberto Arruda, eu também, por intermédio de meus filhos, ontem em Santa Catarina, pude fazer uma avaliação do ingresso muito forte desse conjunto, especialmente junto ao setor jovem. Em Santa Catarina, o drama estava sendo aquilatado e analisado e ainda hoje pela manhã todos estavam acompanhando o noticiário; e agora o próprio enterro, na verdade, envolveu toda a sociedade com um todo, muito rapidamente, como disse V. Exª. Então, gostaria também de me associar.

O SR. VALMIR CAMPELO - Muito obrigado, Senador.

Dizia eu, Sr. Presidente, que o Brasil perdeu muito de seu talento e de sua alegria com o desaparecimento dos Mamonas Assassinas.

Que Deus os iluminem, onde quer que se encontrem neste momento. Muito, muito obrigado pela alegria que nos proporcionaram nessa sua existência tão agitada, tão rica, tão intensa e tão breve. Como diria o cineasta francês Alain Renais: "Adeus, meninos!"

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/03/1996 - Página 3396