Discurso no Senado Federal

CUMPRIMENTANDO O DR. REMO SUSANNA JUNIOR PELA CRIAÇÃO DO SETOR DE OFTALMOLOGIA DO HOSPITAL DAS CLINICAS, ESPECIALIZADO EM CIRURGIA DE CATARATA.

Autor
Romeu Tuma (PSL - Partido Social Liberal/SP)
Nome completo: Romeu Tuma
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE.:
  • CUMPRIMENTANDO O DR. REMO SUSANNA JUNIOR PELA CRIAÇÃO DO SETOR DE OFTALMOLOGIA DO HOSPITAL DAS CLINICAS, ESPECIALIZADO EM CIRURGIA DE CATARATA.
Publicação
Publicação no DSF de 07/03/1996 - Página 3651
Assunto
Outros > SAUDE.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, REMO SUSANNA JUNIOR, MEDICO, CRIAÇÃO, SETOR, OFTALMOLOGIA, HOSPITAL DAS CLINICAS, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ESPECIALIZAÇÃO, CIRURGIA, PRESERVAÇÃO, VISÃO.

O SR. ROMEU TUMA (PSL-SP. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não posso deixar de cumprimentar o Dr. Remo Susanna Jr. que criou o Projeto Visão.

Trata-se de uma cooperação entre os médicos do setor de Oftalmologia do Hospital das Clínicas e um grupo de empresários o que possibilitou a criação de um grupo de cirurgiões que trabalham somente aos sábados. Em um ano e meio, já operaram cerca de 2 mil portadores de catarata, devolvendo-lhes a visão. A catarata é internacionalmente a maior causa de cegueira.

Eles formaram esse grupo com residentes e médicos do setor e criaram esse projeto com auxílio da empresa privada, que está doando equipamentos e medicamentos. Assim, pessoas que aguardava atendimento, às vezes, por 4 anos agora já podem ser operadas em 30 dias.

           É sempre gratificante, em meio a tantas notícias tristes veiculadas pelos meios de comunicação de massa a respeito do verdadeiro caos institucional em que se encontra a Saúde Pública brasileira, poder subir a esta tribuna para dar conhecimento a meus nobres Pares de uma história de sucesso. O sentimento de otimismo e confiança na possibilidade de ver repetida, em outros setores da vida nacional, a história que lhes vou contar, Senhores Senadores, é ainda maior quando esse sucesso, de tão grande alcance social, resulta de uma ação concertada do Poder Público e da sociedade civil.

           A notícia que lhes trago é a da história do Projeto Visão, da Clínica de Oftalmologia do Hospital das Clínicas, vinculado à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo -- HC-FMUSP. Criado em agosto de 1993, por iniciativa do Doutor Remo Susanna Júnior, o Projeto objetivava dar uma solução para o problema de mil e duzentos pacientes cegos e mil e seiscentos deficientes visuais que aguardavam, em fila, sua vez de ter operada a catarata de seus olhos. Antes do Projeto Visão, essa gente -- em geral muito pobre -- precisava esperar, pacientemente, um tempo que variava de um a quatro anos para poder ser operada.

           O mais grave, Senhor Presidente, é que esse tempo não se devia a problemas de solução difícil, como o da falta de doadores, que causa o longo sacrifício de tantos pacientes de hemodiálise, por exemplo, ou, na área oftalmológica, dos pacientes que dependem de transplante de córnea. Longe disso, Senhores Senadores! A operação de catarata é uma microcirurgia relativamente simples, que consiste na retirada do cristalino opacificado e na sua substituição por uma lente intra-ocular artificial, dependendo somente da existência de salas de cirurgia devidamente equipadas. A limitação só pode se originar na falta, em número e qualidade, das instalações necessárias para executar a operação.

           Pois esse era exatamente o problema da Clínica de Oftalmologia do HC-FMUSP. Os médicos dispunham de apenas quatro mal equipadas salas de ambulatório; além disso, sofriam com a absoluta deficiência de material para a cirurgia e de pessoal paramédico disposto a trabalhar aos sábados, único dia disponível para o atendimento gratuito desses pacientes mais pobres. A partir da criação do Projeto, a Clínica conseguiu, com o apoio de empresários -- entre os quais se destaca o Doutor José Roberto Auriemo, da empresa J.H.S. Construção e Planejamento Ltda. --, reequipar esses quatro ambulatórios, criar outros cinco, elevando para nove o número de salas prontas para uso, e comprar um aparelho de criocirurgia, dez caixas cirúrgicas completas e dois microscópios cirúrgicos.

           Decorrido um período de pouco mais de dois anos e meio desde o início do Projeto Visão, o centro cirúrgico já operou mais de duas mil pessoas, numa média de vinte e duas a cada sábado. São duas mil pessoas de baixa renda que voltaram a enxergar, readquirindo a independência. Duas mil pessoas que puderam retornar ao trabalho, aumentando a renda de suas famílias -- fator de extrema importância nesses estratos sociais. Estima-se que, para cada paciente operado, há aproximadamente cinco pessoas beneficiadas pela transformação de um membro quase inválido da família -- porque, além de pouco ou nada produzir, precisa de ajuda até para se locomover -- em uma força adicional de trabalho e fonte de renda.

           Não bastassem esses efeitos sociais positivos, de tão grande importância nesses tempos em que o desemprego ronda o trabalhador, há ainda um outro resultado do Projeto Visão que não posso deixar de citar. Trata-se do oferecimento de maiores oportunidades de treinamento aos médicos em residência e aos estudantes de pós-graduação. O aumento do volume de cirurgias tem possibilitado um convívio mais estreito entre discentes e docentes, melhorando o nível do ensino médico e produzindo médicos mais capacitados, profissionais de que o Brasil tanto necessita para reduzir os índices de tantas moléstias de tratamento fácil que debilitam nossa gente e constituem uma das marcas de nossa sociedade injusta.

           Em agosto de 1994, ao se completar o primeiro aniversário do Projeto Visão, os empresários que contribuíram originalmente para sua implantação estavam tão satisfeitos com os resultados que resolveram estendê-lo também para pacientes com glaucoma. Ao combater essa que é a segunda causa de cegueira irreversível no mundo, a atuação da Clínica de Oftalmologia do HC-FMUSP passa a ter um sentido social ainda maior, evitando o aumento dos índices de cegueira em nosso País.

           Senhores Senadores, a visão é o sentido que responde por cerca de oitenta por cento das percepções que o homem tem do mundo. Hoje, com a cultura universal acentuadamente marcada pelo aspecto visual, a cegueira priva o indivíduo do acesso à informação, à cultura e à maior parte das formas de entretenimento. Não estou, com isso, dizendo que uma pessoa cega seja inválida. Pelo contrário: todos conhecemos um número considerável de pessoas deficientes visuais que deram contribuições decisivas à humanidade. O que é infelizmente verdade, porém, é que nem tudo o que uma pessoa poderia ler para desenvolver seus conhecimentos e habilidades se encontra disponível em braile, sobretudo em nosso País, onde há tanto para se fazer no campo do apoio aos portadores de deficiência.

           Meu propósito, isto sim, é o de destacar a importância do trabalho que se faz no HC-FMUSP a partir da iniciativa do Doutor Remo Susanna Júnior, destacando também a atuação de sua equipe, composta pelo Doutor Jorge Alberto Fonseca Caldeira, titular do Departamento de Oftalmologia da FM, pelo Doutor Antônio Carlos Violante, tesoureiro do Seminário Oftalmológico J. Britto -- sociedade civil sem fins lucrativos responsável pelo recebimento de donativos --, e pelo Doutor José Roberto Auriemo, representante dos empresários que contribuíram para a execução do Projeto Visão.

           Quero juntar aqui minhas palavras de saudação às de pessoas como o Ministro da Saúde, Doutor Adib Jatene, o Doutor Louis Pizzarello, Diretor Médico da Associação Internacional Helen Keller, e os Doutores Antônio Carlos Gomes da Silva e Álvaro Magalhães, respectivamente Superintendente e Presidente do Conselho Diretor do HC, que escreveram cartas entusiásticas ao Doutor Susanna Júnior. Considero ser esse meu dever de Senador pelo Estado de São Paulo, bem como meu dever de cidadão. Os nomes das primeiras mil e cinco pessoas atendidas pelo projeto, listados na pequena publicação que recebi, são a prova mais eloqüente do alcance social da obra que aquela equipe médica executa ali. Minha esperança, ao trazer essa história à tribuna desta Casa, é a de que ela sirva de exemplo para médicos, hospitais, universidades e empresários de todo o Brasil.

É esta a homenagem que presto.

           Muito obrigado, Senhor Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/03/1996 - Página 3651