Discurso no Senado Federal

AUDIENCIA, AMANHÃ, COM O PRESIDENTE DA REPUBLICA, SOBRE O PROGRAMA ESTRATEGICO PARA O DESENVOLVIMENTO DO CENTRO-OESTE-PRODECO.

Autor
Carlos Bezerra (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MT)
Nome completo: Carlos Gomes Bezerra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • AUDIENCIA, AMANHÃ, COM O PRESIDENTE DA REPUBLICA, SOBRE O PROGRAMA ESTRATEGICO PARA O DESENVOLVIMENTO DO CENTRO-OESTE-PRODECO.
Aparteantes
Iris Rezende, Levy Dias.
Publicação
Publicação no DSF de 29/02/1996 - Página 2601
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • INFORMAÇÃO, AUDIENCIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, BANCADA, SENADO, REGIÃO CENTRO OESTE, LANÇAMENTO, PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO, REGIÃO.
  • ELOGIO, ARTICULAÇÃO, CLASSE POLITICA, REGIÃO CENTRO OESTE, UNIÃO, ESTADO DO TOCANTINS (TO), ESTADO DE RONDONIA (RO), ESTADO DO ACRE (AC), DISCUSSÃO, PROGRAMA, AUMENTO, SAFRA, GRÃO, REDUÇÃO, CUSTO, TRANSPORTE INTERMODAL.
  • SOLICITAÇÃO, ANEXAÇÃO, DISCURSO, DOCUMENTO, PROGRAMA.
  • CRITICA, INEFICACIA, PLANEJAMENTO, MODERNIZAÇÃO, ECONOMIA, ESPECIFICAÇÃO, ATUAÇÃO, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES).

O SR. CARLOS BEZERRA (PMDB-MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, amanhã, às 17h, teremos uma audiência com o Excelentíssimo Senhor Presidente da República eu, o Senador Iris Rezende Machado, de Goiás, e o Senador José Roberto Arruda, do Distrito Federal. Vamos discutir com o Presidente o lançamento do PRODECO, que é um plano estratégico de desenvolvimento para a nossa Região Centro-Oeste.

Nosso País precisa de desenvolvimento, sendo necessária a geração de empregos. O Brasil não tolera de modo algum a recessão, precisando gerar um milhão e seiscentos mil empregos por ano para a juventude que vem para o mercado de trabalho. 

Trata-se, portanto, de um programa importantíssimo, pensado por Getúlio Vargas, na sua primeira fase, com a marcha para o oeste, com a Fundação Brasil Central, que criou algumas cidades nos estados de Goiás e do Mato Grosso. Este programa foi também tocado a todo vapor por Juscelino Kubitschek, um dos maiores estadistas do País neste século, que construiu Brasília pensando não apenas em mudar a Capital do Brasil, mas também em levar o desenvolvimento para o interior do Brasil.

O grande problema do Centro-Oeste é que as forças políticas nunca se uniram para trabalhar em conjunto. Do ano passado para cá começamos um trabalho articulado e somamos ao Centro-Oeste os estados de Tocantins, Rondônia e Acre, aumentando a área do nosso planejamento para o desenvolvimento. O Presidente da República aceitou esse programa, que está praticamente pronto.

Na sua primeira fase houve uma grande discussão dos governos estaduais, dos secretários de planejamento e das universidades federais da nossa região para compor esse programa.

De modo que, Srªs e Srs. Senadores, esse programa será a salvação deste País, que precisa urgentemente aumentar a sua produção de grãos pelo menos para 150 milhões de toneladas, que tem que diminuir o custo-Brasil, elevadíssimo, um dos maiores do mundo. Onde, no setor dos produtos primários ou agroindustriais, pode-se diminuir o custo-Brasil? Na Região Centro-Oeste, onde a produtividade é maior do que a do resto do País, pois a natureza nos ajudou. Basta viabilizarmos meios de transporte mais adequados e mais baratos, no caso, as hidrovias e as ferrovias.

Temos uma das melhores bacias hidrográficas do mundo, que não é utilizada. Para citar apenas uma, falo da que considero a mais importante, a Araguaia-Tocantins, que vai servir Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Pará, Maranhão, podendo ser utilizada por toda uma grande região produtora deste País que, com pouco investimento, será viabilizada, aliás, o que já vem sendo feito pelo Governo Federal.

Amanhã vamos conversar com o Presidente, já que o trabalho está pronto, sobre o lançamento do programa. Pretendemos que ele seja lançado em Cuiabá, onde haverá maior repercussão para o fato. Se ocorresse em Brasília, seria mais um ato comum que acontece diariamente no Palácio do Planalto. No Centro-Oeste o lançamento terá outro significado. E o Presidente da República concordou com a idéia.

Sr. Presidente, Srs. Senadores, era essa a comunicação que queria fazer a Casa. Gostaria ainda de solicitar à Mesa que considere incluído no meu discurso o trabalho que tenho aqui em minhas mãos sobre o histórico do Programa Estratégico de Desenvolvimento do Centro-Oeste - Prodeco -, ou seja, o que foi feito do ano passado para cá pelas Lideranças, pelos Governadores, pelas universidades e pelas Bancadas.

O Sr. Iris Rezende - V. Exª me permite um aparte?

O SR. CARLOS BEZERRA - Ouço V. Exª com prazer.

O Sr. Iris Rezende - Gostaria de aproveitar a presença de V. Exª na tribuna para, publicamente, dar o meu testemunho do seu esforço, desde o primeiro dia em que chegou a esta Casa, no sentido de aglutinar as forças políticas representativas do Centro-Oeste brasileiro para sensibilizar o Governo Federal para a importância dessa região para o futuro nacional. Todo movimento exige que alguém tome a iniciativa, que convoque, que chame, que determine, que reúna, e V.Exª tem desempenhado com muita competência esse papel. De forma que, publicamente, presto este testemunho e, ao mesmo tempo, manifesto meu reconhecimento pelo trabalho que V. Exª desenvolve, nesta Casa e junto ao Poder Executivo, a favor do Centro-Oeste brasileiro.

O SR. CARLOS BEZERRA - Muito obrigado. Quero também dizer, Senador Iris Rezende, que foi graças a lideranças como V. Exª, que tem visão estratégica, que este programa está sendo viabilizado. A representação do Centro-Oeste no Congresso Nacional enriqueceu-se muito com a presença de V.Exª e de muitas outras pessoas. Com isso, este programa está sendo viabilizado.

E por lutar pelo Centro-Oeste, na semana passada um jornal de repercussão nacional colocou-me como um lobista do Centro-Oeste, como se isso fosse uma coisa pejorativa. Tratando do lobismo, colocou a mim e ao Senador Lúdio Coelho, do Mato Grosso do Sul, como lobistas do Centro-Oeste.

Quero dizer que esta é uma posição que nos orgulha, que nos envaidece, porque fomos eleitos para isto, para lutar pela nossa Região, para lutar pelo nosso estado, para lutar pelo nosso País.

O Sr. Levy Dias - V. Exª me permite um aparte, nobre Senador Carlos Bezerra?

O SR. CARLOS BEZERRA - Pois não, nobre Senador Levy Dias.

O Sr. Levy Dias - Senador Carlos Bezerra, ao ouvir V. Exª mais uma vez falar sobre nossa região, bem como a palavra do ex-Ministro Iris Rezende, com a autoridade que tem nessa área como ex-Ministro da Agricultura, chego a pensar que estamos batendo permanentemente numa tecla que não alcança muito eco na mídia, visto que se trata simplesmente de um estado, de uma região que produz alimentos. Pode-se lançar o melhor programa contra a fome no mundo, mas se não houver alimento de nada adiantará. Ultimamente tenho acompanhado, como todos os Senadores, os pronunciamentos do Presidente do BNDES, através da imprensa. E creio que será necessário conversar com S. Sª para informá-lo de que existe a Região Centro-Oeste em nosso País. O novo Presidente do BNDES tem divulgado amplamente linhas de crédito do Banco para novas frentes de financiamento. Semana passada foi difundida a abertura de um financiamento para a indústria de autopeças, inclusive com atuação no exterior. Não há nada, entretanto, referente à irrigação. Por isso, gostaria de deixar registrado no pronunciamento de V. Exª um pedido ao Presidente do BNDES no sentido de que S. Sª insira esse item na política do Banco. Todos os países do mundo que tecnologicamente avançaram seu sistema produtivo rural utilizaram e utilizam-se da irrigação para poder usar a terra doze vezes no ano. Temos o privilégio no nosso País, principalmente na nossa região, de não termos geadas. Podemos produzir o ano todo. No entanto, concentramos nossa atividade na monocultura, produzindo quatro meses e deixando a terra ociosa por oito meses anualmente. Portanto, eu queria apenas trazer esta humilde contribuição ao pronunciamento de V. Exª, para que também o BNDES, com toda a sua força, pudesse seguir essa trilha do Centro-Oeste, no objetivo de produzir alimentos para nossa Nação. A mesma âncora verde que ancorou o Plano Real pode vir, amanhã ou depois, a ser o grande problema desse plano, o setor produtivo. Não queremos para a área agrícola, para a área da produção, essas coisas de lobista de agricultura ou lobista de Centro-Oeste. Creio que isso não afeta nenhum de nós, porque nosso objetivo é defender o País, o povo brasileiro. Se há uma região que pode produzir alimentos rapidamente, com um pouco de apoio do Governo Federal, é a nossa região. Não precisamos nem de um volume de dinheiro que signifique o rombo do Banco Nacional, não. Precisamos de menos. E para produzir alimentos! Para produzir grãos, carne abundante, carne barata para a Nação brasileira. Penso que somente o rombo do Nacional é maior do que todo o recurso destinado à agricultura nacional no ano passado. Cumprimento V. Exª pelo seu pronunciamento e solicito que V. Exª prossiga nesse caminho, o da defesa daqueles que trabalham, daqueles que produzem, em última análise, daqueles que empurram o Brasil para frente.

O SR. CARLOS BEZERRA - Agradeço o aparte de V. Exª.

O Brasil entrou agora nessa fase aloprada de modernização da economia. Isso tem desestruturado setores importantes. Essa nossa mania de copiar é antiga, é histórica. No século passado, copiávamos a Inglaterra: tudo que o inglês fazia lá para nós era uma maravilha. Neste século, copiamos os Estados Unidos. Saímos da Inglaterra para os Estados Unidos. A China, por exemplo, que está em processo de modernização, está projetando esse processo para muitas e muitas décadas, dando passos seguros para não desestruturar o país. Aqui, entretanto, queremos fazer isso de forma vertiginosa, usando até recursos preciosos que faltam dentro do País para gerar empregos lá fora. Isso para mim é um contra-senso. Hoje o desemprego é o problema mais grave do Brasil, e o BNDES financia a fabricação de desempregados, a geração de empregos no exterior.

A modernização industrial em alguns setores, necessária para competir, nem sempre é razoável no Brasil, dependendo do custo social, que é o desemprego que tem aumentado enormemente. Temos um índice de desemprego fictício, porque o índice real é muito maior do que o que se apresenta na imprensa.

Já ouvi os Senadores Humberto Lucena e Antonio Carlos Magalhães falarem sobre esse problema aqui. Sou um aliado dessa proposta, e penso que estamos falando e não estamos fazendo. Precisamos nos unir, unir os pobres, os enjeitados deste País. Temos uma força política muito grande, incomensurável, mas não estamos sendo competentes para nos unir e dar um "chute no balde", porque esse recurso todo, no final, fica no Sudeste para financiar a Região mais rica do País. A desigualdade regional não é vista como uma questão importante no País, quando a sua correção é fundamental.

Senador Levy Dias, não se consegue nada em política na base da conversa amena, é um jogo político, duro, de força. Nós temos força, mas precisamos saber usá-la para poder impor o que é necessário para a nossa Região e para que o Governo a atenda de modo suficiente.

Espero que amanhã, na reunião com o Presidente da República, possamos sair com um encaminhamento do Prodeco mais avançado e mais evoluído para o bem do nosso Centro-Oeste.

Muito obrigado. Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/02/1996 - Página 2601