Discurso no Senado Federal

COMEMORAÇÃO DO DIA INTERNACIONAL DA MULHER.

Autor
Teotonio Vilela Filho (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AL)
Nome completo: Teotonio Brandão Vilela Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • COMEMORAÇÃO DO DIA INTERNACIONAL DA MULHER.
Publicação
Publicação no DSF de 08/03/1996 - Página 3754
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA INTERNACIONAL, MULHER.

O SR. TEOTÔNIO VILELA FILHO (PSDB AL) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há 86 anos, a Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas instituía o Dia Internacional da Mulher, originalmente Dia Especial da Mulher, que comemoramos amanhã. Dois anos antes, nos Estados Unidos, já havia uma espécie de Woman's Day, que marcava o dia em que um grupo de mulheres foi queimado dentro de uma tecelagem durante reivindicação por melhores condições de trabalho.

O movimento feminino não era bem visto mesmo entre os socialistas, que acusavam as mulheres de estarem atropelando a luta de classes. O futuro, entendiam eles, prometia uma sociedade mais justa e, portanto, mais justiça para as mulheres. Mas, como diria Jonathan Swift, promessas e bolachas foram feitas para serem quebradas. O futuro não se mostrou tão promissor. E as mulheres foram a luta.

Passados todos estes anos, quando se quer arquivar utopias, como se as mutações tecnológicas pudessem resumir toda a capacidade de sonhar da Humanidade, a igualdade entre os sexos continua sendo um sonho. Mas já há como vislumbrá-lo. As mulheres avançaram bastante, principalmente acima da linha do Equador, principalmente nas classes mais favorecidas. Estancaram junto com filhos e maridos na miséria econômica, na falta de tomada de consciência dos Direitos Humanos. São as excluídas em meio aos excluídos do mundo em transformação.

Apesar de no Brasil já darmos os primeiros passos para uma sociedade com um mínimo de Justiça, fruto de uma ainda leve redistribuição de renda, resultado da quebra da espiral inflacionária, permanecem entre nós muitas formas de desigualdades. Entre elas as que dificultam o acesso da mulher ao mercado de trabalho, impedem sua permanência nele, ou aviltam as que conseguem se fixar. Calcula-se que nos grandes centros urbanos brasileiros as mulheres recebem 60 por cento do salário dos homens. A relação no campo é ainda mais deprimente.

A representação política da mulher não é melhor. Embora hoje elas representem mais de 52 por cento do eleitorado, a sua proporção representativa tanto no Senado como na Câmara é de pouco mais de 6 por cento.

No nosso mundo masculino, que vai perdendo força lentamente, costuma-se aconselhar as mulheres a nunca subestimarem a capacidade do homem de subestimar a capacidade da mulher. No chamado primeiro mundo hoje subestimam menos. Nos países ricos elas são 44 por cento da força de trabalho. Nos países pobres apenas 29 por cento. Na França, por exemplo, as famílias nas quais as mulheres não são apenas as "rainhas do lar" possuem uma renda 46 por cento superior comparadas as demais.

Como já disseram - e se não me engano foi John Kenneth Galbraith - as idéias em si mesmo são conservadoras. São derrotadas não apenas por outras idéias, mas pela destruição provocadas por situações às quais não conseguem adaptar-se. A idéia do mundo masculino não consegue mais adaptar-se à nova realidade. As mulheres ganham seus espaços de forma irreversível e numa velocidade geométrica. É só olhar esta casa, o nosso corpo de auxiliares, o grupo de colegas jornalistas e algumas áreas específicas. Na área de Saúde, por exemplo, elas já são a maioria. No ano passado ultrapassaram os 51 por cento até mesmo em setores antes claramente ocupados pelos homens, como o de ortopedia, ou neurocirurgia.

Apesar dos avanços, a situação da mulher frente ao homem numa escala global é de uma inferiorização assustadora. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD - revela cifras surpreendentes. Observa que, se as meninas recebessem desde o nascimento o mesmo tratamento sócio-econômico e humano dos meninos, haveria hoje no mundo 100 milhões a mais de mulheres. Só na China calcula-se que tenham desaparecido 44 milhões de mulheres em decorrência da campanha de controle de natalidade. Como os senhores sabem, naquele País o esforço é para que cada casal tenha apenas um filho. O raciocínio decorrente é macabro. A preferência pelo herdeiro homem que trabalhe na terra e sustente a família leva muitas vezes a morte da filha mulher. Calculam ainda que 100 milhões de mulheres sofreram algum tipo de mutilação genital, antiga tradição de alguns países africanos.

De qualquer maneira a barbárie masculina não impede que as mulheres constituam hoje 52 por cento dos habitantes do planeta. Mas persiste a punição econômica. Hoje elas representam 70 por cento dos pobres que a ONU calcula existirem no mundo. E constituem também, de acordo com a Unesco, dois terços dos 885 milhões de analfabetos. Portanto é fácil de se constatar que aqui no Brasil, ou no mundo como um todo, qualquer projeto ou programa que vise minorar as injustiças sociais, econômicas e políticas tem de passar preferencialmente pela mulher. E nós homens não precisamos nos assustar, como alguém que decifrou o sorriso da Mona Lisa - um dos símbolos do feminino - como o da mulher que acabou de jantar o marido. Afinal quem pintou aquele sorriso foi um homem.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/03/1996 - Página 3754