Discurso no Senado Federal

COMENTARIOS A NOTICIA DE POSSIVEL CONVITE DO SR. PRESIDENTE DA REPUBLICA PARA QUE S.EXA. SAIA DO PSDB. RESSALTANDO SUA POSTURA DE INDEPENDENCIA NA ANALISE DAS MAIS DIVERSAS QUESTÕES RELEVANTES PARA O PAIS.

Autor
Jefferson Peres (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BANCOS.:
  • COMENTARIOS A NOTICIA DE POSSIVEL CONVITE DO SR. PRESIDENTE DA REPUBLICA PARA QUE S.EXA. SAIA DO PSDB. RESSALTANDO SUA POSTURA DE INDEPENDENCIA NA ANALISE DAS MAIS DIVERSAS QUESTÕES RELEVANTES PARA O PAIS.
Publicação
Publicação no DSF de 12/03/1996 - Página 3895
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BANCOS.
Indexação
  • CRITICA, ARTIGO DE IMPRENSA, COMENTARIO, AUTORIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REFERENCIA, VOTO, ORADOR, CRIAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PSDB-AM. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Sr. Presidente.

O assunto que me traz a esta tribuna é o mesmo que motivou o Senador Osmar Dias.

Sr. Presidente, recuso-me a acreditar no noticiário dos jornais a respeito de suposta decisão do Presidente da República de pedir a Senadores do meu PSDB que convidem a mim e ao Senador Osmar Dias para deixarmos o Partido. Como a notícia não foi desmentida, continuo a duvidar que seja verdadeira. Vou especular um pouco sobre ela.

Em primeiro lugar, não é possível que o Presidente da República, o sociólogo, o socialdemocrata Fernando Henrique Cardoso, tenha sofrido uma metamorfose e, contaminado pelo vírus do autoritarismo, tenha encarnado a figura de um ditador sul-americano do passado, para tentar coagir seus correligionários ao regime do "crê ou morre". Não posso acreditar nisso.

Em segundo lugar, não acredito que algum Senador do PSDB tenha a falta de pudor de me convidar a deixar o Partido. Não é possível, não posso acreditar nisso.

Em terceiro lugar, recuso-me a dar explicações a respeito da CPI. Ninguém vai obrigar-me a sentar no banco dos réus, porque reverterei a situação e passarei a acusador. Se tiver de deixar o meu Partido por esse motivo, vou colar isso na minha vida pública como galardão, e ficará a face do Partido estigmatizada com este ferrete.

Se também forem verdadeiras as notícias a respeito de possíveis represálias contra mim e outros companheiros de Partido, elas não me atingirão, serão como tiros n'água, porque sou inatingível nesse particular.

Em primeiro lugar, não estou em palanque eleitoral. Nada do que faço aqui é para agradar possíveis eleitores no ano de eleição municipal. Há dias anunciei publicamente na imprensa de Manaus - está registrado no Senado, porque disse aqui também - que não seria candidato a prefeito de Manaus, embora tivesse todas as condições para ganhar a eleição.

Se fosse candidato, Sr. Presidente, não contaria com o apoio do Governo Federal. Toda minha carreira política no Amazonas foi feita sem apoio da máquina administrativa, não porque não tenha tido oportunidade de obter esse apoio, mas porque sempre o recusei. Não aceito uso de Governo em favor da candidatura de ninguém.

Isso é fato, Sr. Presidente: eu era Vereador em Manaus pelo PSDB do Amazonas, o Prefeito de Manaus, do mesmo Partido, meu correligionário, era o atual Deputado Arthur Virgílio, ligadíssimo ao Presidente da República. O então Prefeito de Manaus, na campanha de 1992, chamou-me ao seu gabinete e perguntou-me em que poderia ajudar-me na campanha. Eu lhe disse que absolutamente em nada. Ficava agradecido, mas não queria ajuda oficial para a minha candidatura e elegi-me como um dos mais votados em Manaus.

Se daqui a três anos, como se especula, eu for candidato ao Governo do Amazonas, não terei apoio nem das prefeituras - porque fui eleito Senador sem apoio de nenhuma das 61 prefeituras do Amazonas -, nem do Governo Estadual, nem do Governo Federal. Não quero. Se, daqui a três anos, eu for candidato e ainda estiver no PSDB, eu é que vou dizer ao Presidente Fernando Henrique Cardoso que não quero apoio da máquina federal para a minha candidatura. Ou me elejo com o meu prestígio pessoal, ou perco a eleição.

Quanto a represálias no tocante a cargo, eu sou mesmo invulnerável, Sr. Presidente. Prometi na campanha que não faria indicação para nenhum cargo federal no Amazonas e não fiz. A única vez que conversei com o Presidente da República, no Palácio do Planalto, a respeito de problemas do Amazonas, eu disse a Sua Excelência que não tinha indicação nenhuma a fazer para cargos federais no Amazonas. Disse-lhe que se Sua Excelência me perguntasse se tinha candidato, eu lhe diria que não tinha, mas lhe sugeriria que procurasse os melhores técnicos, os mais competentes, os mais capazes e preenchesse todos os cargos federais no Amazonas, porque eu, simplesmente, não queria indicar ninguém.

Sr. Presidente, se alguém imagina que eu assinei o requerimento para instalação daquela CPI por estar desgostoso com o Governo, está enganado. Não estou. Não tenho queixa de Ministro nenhum. Se algum Ministro não me receber um dia, não é por isso que vou votar contra o Governo. Voto a favor do Governo, se a proposta me parecer de interesse do País. Agora, se Ministros me afagarem, colocarem-me no colo ou me derem mamadeira, ainda assim votarei contra o Governo, se a proposta me parecer contrária ao interesse público. Só quem não me conhece pode imaginar o contrário.

De forma que prefiro - repito - acreditar que isso seja especulação. No entanto, se realmente for compelido a deixar o Partido, tranqüilamente o farei. Sofro de um mal congênito, Sr. Presidente: minha espinha sofre de rigidez; não há quem a faça curvar por pressão ou ameaça. É por isso que o povo do Amazonas me conduziu a este Senado Federal.

Eram essas as explicações que tinha a prestar ao Senado e à Nação brasileira.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/03/1996 - Página 3895