Discurso no Senado Federal

CONSIDERAÇÕES SOBRE O ARTIGO DAS JORNALISTAS CRISTINA ALVES E LEA CRISTINA, PUBLICADO NO JORNAL O GLOBO DE HOJE, SOBRE A CPI DO SISTEMA FINANCEIRO.

Autor
Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BANCOS.:
  • CONSIDERAÇÕES SOBRE O ARTIGO DAS JORNALISTAS CRISTINA ALVES E LEA CRISTINA, PUBLICADO NO JORNAL O GLOBO DE HOJE, SOBRE A CPI DO SISTEMA FINANCEIRO.
Publicação
Publicação no DSF de 09/03/1996 - Página 3820
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BANCOS.
Indexação
  • CONTESTAÇÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, ANALISE, EFEITO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BANCOS, MERCADO FINANCEIRO, DIMENSÃO, RESULTADO.
  • OPOSIÇÃO, INFORMAÇÃO, ORIGEM, RECURSOS, REESTRUTURAÇÃO, BANCOS, CRITICA, UTILIZAÇÃO, DINHEIRO, CORRENTISTA, PREJUIZO, TESOURO NACIONAL.
  • NECESSIDADE, APOIO, GOVERNO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BANCOS, MANUTENÇÃO, CONFIANÇA, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB-PR. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, inicio esta minha breve comunicação citando o Senador Lúcio Alcântara, que, há instantes, complementava o pronunciamento do nosso Líder do PFL, dizendo que alguns têm mais outros têm menos, mas todos têm compromisso com o País.

Sr. Presidente, O Globo desta sexta-feira, num artigo de Cristina Alves e Léa Cristina, tem esta preciosidade analítica:

      "Até agora, os analistas de mercado estão trabalhando principalmente com três cenários. O primeiro, mais pessimista..." Percebam bem, mais pessimista. "...- e considerado também o mais remoto, por enquanto - é de uma CPI ampla, que tome todo o Congresso e investigue os escândalos financeiros dos últimos anos. Suas conseqüências são imprevisíveis e poderiam levar a uma fuga em massa de investimentos estrangeiros e corrida bancária. A segunda hipótese é de que a CPI não seja aprovada e uma terceira, considerada a mais viável, é de que os Parlamentares aprovem uma CPI apenas no Senado e restrita ao episódio do Banco Nacional. Sem maiores danos à economia e ao mercado."

Continua, no mesmo artigo, essa dupla de jornalistas de O Globo:

      "Uma CPI ampla teria efeitos impensáveis. O País poderia perder U$40 bilhões ou U$50 bilhões. Não dá para saber."

É um raciocínio interessantíssimo!

Levando essa lógica a um aprofundamento mais radical, poderíamos sugerir que se sustasse, de uma vez por todas, o combate ao narcotráfico no Brasil, em função do seu impacto no mercado financeiro. Muito dinheiro deveria deixar de ser arrecadado e não seria carreado para os bancos oficiais.

É preciso que se entenda, Sr. Presidente, que essa CPI, que contou com a minha assinatura logo após a assinatura do Senador Valadares, não é contra o Presidente da República. Ela é a favor do Brasil.

É absolutamente incompreensível essa histeria "collorida" que toma conta do Governo!

O Governo Federal tem medo do quê?

Pessoalmente, comungo com a posição do Senador Pedro Simon. Acredito que o Presidente da República é um homem sério, mas o seu entorno "collorido" tem um medo pânico da investigação sobre o sistema bancário.

O Presidente da República deveria, com coragem e seriedade, assumir essa CPI, porque sem ela jamais faremos uma reforma profunda no Sistema Financeiro Nacional. O Presidente depende do Congresso Nacional, do Senado da República e da CPI do Senador Valadares para modificar o Sistema Financeiro Nacional, e deveria entender essa proposta desta maneira.

Quanto à ridícula acusação de que essa CPI se restringe às intervenções de 1995, eu teria a responder que, de resto, a CPI é um instrumento de investigação das minorias, porque para trás pode investigar o Presidente Fernando Henrique Cardoso, que é Presidente da República, num regime presidencialista, tem amplos poderes, tem a Polícia Federal, a Procuradoria da República e o Banco Central nas mãos. O aprofundamento das investigações, por parte do Governo Federal, enriqueceria as possibilidades da CPI do Senado Federal.

Continuando esta breve intervenção, vejo reiteradas afirmações aqui no plenário, por parte do Governo, de que não se está cobrindo furos de corrupção e incompetência dos bancos com dinheiro público, mas com dinheiro dos próprios bancos do Proer.

Deslavada mentira! Falácia ridícula! O dinheiro do Proer é dinheiro dos depositantes, dos correntistas, é dinheiro meu e de V. Exª, Sr. Presidente, e de todos os correntistas de bancos brasileiros. Cobrindo com o compulsório os furos dos bancos falidos, é evidente que o Tesouro é o avalista desse processo. Mais evidente ainda é que, no momento em que se coloca no mercado o dinheiro do Proer, o Governo Federal teve que emitir títulos para enxugar o exagero de moeda colocada, de forma inopinada, no mercado financeiro.

Vai ter, sim, o Tesouro da União que honrar com os prejuízos da quebradeira e da falência de bancos privados, cobertos com o dinheiro dos correntistas. Enfim, esta questão tem que ser colocada desta maneira. Esses bancos que tinham dinheiro suficiente para comprar empresas públicas, que entravam nos leilões, que adquiriram títulos da dívida agrária, que compraram recursos brasileiros da dívida externa para investir nas privatizações, esses bancos, que ontem tinham tanto dinheiro, têm que explicar hoje por que estão quebrando. E o Presidente da República tem - necessariamente tem, é um imperativo de moralidade - de apoiar a CPI do Senado Federal, sob pena de eu, pessoalmente, inverter o raciocínio que faço dele e do seu Governo até hoje.

Eu acho que o Governo está absolutamente anárquico. Eu acho que não existe Governo. Existe apenas o desejo desesperado de impor essas reformas constitucionais concessivas ao Congresso Nacional, mas não ponho em dúvida a honorabilidade pessoal do Presidente da República. Não ponho em dúvida até agora, porque se as retaliações começarem, as demissões de políticos vinculados aos signatários da CPI se efetivarem, eu não terei mais dúvidas, mas terei a certeza que a exemplo do Fernando Collor, o Fernando Henrique tem comprometimentos da mesma natureza e da mesma gravidade.

Só uma atitude firme do Presidente da República, determinando a sua base de apoio, a indicação dos representantes e a consolidação desta CPI, que definitivamente não é contra ele, mas a favor do Brasil, restabelece a confiança que o País deve ter no Presidente da República.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/03/1996 - Página 3820