Pronunciamento de Valmir Campelo em 20/03/1996
Discurso no Senado Federal
TRAFICO INTERNACIONAL DE CRIANÇAS.
- Autor
- Valmir Campelo (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/DF)
- Nome completo: Antônio Valmir Campelo Bezerra
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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SEGURANÇA PUBLICA.:
- TRAFICO INTERNACIONAL DE CRIANÇAS.
- Publicação
- Publicação no DSF de 21/03/1996 - Página 4527
- Assunto
- Outros > SEGURANÇA PUBLICA.
- Indexação
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- COMENTARIO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, VIOLENCIA, MUNDO, ESPECIFICAÇÃO, BRASIL, DESAPARECIMENTO, CRIANÇA, TRAFICO, ORGÃOS, AMBITO INTERNACIONAL.
- CONCLAMAÇÃO, SOCIEDADE, LUTA, EXTINÇÃO, CRIME, DESAPARECIMENTO, CRIANÇA, PAIS.
- ELOGIO, ATUAÇÃO, JORNAL, CORREIO BRAZILIENSE, DISTRITO FEDERAL (DF), EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), DENUNCIA, DESAPARECIMENTO, CRIANÇA.
O SR. VALMIR CAMPELO (PTB-DF. Como Líder. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a humanidade chega ao alvorecer do Terceiro Milênio sem conseguir controlar a mais terrível e degradante das suas tragédias: a violência. Nunca, em momento algum da longa e tumultuada caminhada do homem sobre este fantástico planeta azul, a violência atingiu níveis tão críticos e ameaçadores.
E já faz tempo, muito tempo, Sr. Presidente, que o Brasil perdeu aquela aura de inocência que muitas vezes nos fez passar por saudável simploriedade perante as nações ditas desenvolvidas.
O "holocausto" do Carandiru, o massacre da Candelária, o extermínio mal disfarçado das nações indígenas são nódoas que mancharão para sempre as páginas da nossa história ainda em formação.
Em meio às grandes questões políticas e econômicas do Brasil de fim de século, chama a atenção o sistemático desaparecimento de crianças nos mais variados pontos do nosso País.
Esses desaparecimentos tornaram-se um drama nacional, que atinge principalmente as famílias de baixa renda, oriundas das periferias das grandes cidades ou das pequenas localidades perdidas nesse nosso imenso território.
A maioria dessas crianças, Srªs e Srs. Senadores, jamais são encontradas. Simplesmente desaparecem, como se fossem tragadas por uma fenda do tempo ou passassem para uma das dimensões desconhecidas da natureza.
Muitas são as hipóteses quanto ao destino desta legião de inocentes, quase todas tenebrosas. O jornal norte-americano The New York Times, um dos mais respeitados do planeta, relaciona os desaparecimentos de menores no Brasil e em outras partes do mundo ao "tráfico internacional de crianças."
Tráfico Internacional de Crianças, Sr. Presidente! Tão odioso, tão desumano, tão inaceitável quanto o tráfico de escravos nos séculos XVII e XVIII.
A tragédia, no entanto, tem contornos mais revoltantes. Se já se comprovou que muitas dessas crianças são negociadas num mercado monstruoso e levadas para adoção na Europa, também é verdade que muitas são utilizadas como cobaias de doação de órgãos, numa prática que tornam infantis as experiências médicas levadas a efeitos nos campos de concentração da Alemanha nazista.
Há casos ainda, em que essas crianças são sacrificadas em rituais luciferinos de magia negra, revivendo o clima de ignorância e escuridão que imperou nos longínquos porões dos castelos medievais. Outras são lançadas à prostituição, como produtos colocados num mercado ávido por novidades. E existem aquelas que, submetidas a necessidades extremas, são compulsoriamente alistadas no já numeroso exército do não menos odioso tráfico de drogas.
São muitas, enfim, as direções e os caminhos obscuros que tomam essas pobres crianças arrancadas dos seios de seus pais nos subúrbios do Terceiro Mundo.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, acontecimentos como esse, de desaparecimento sistemático de crianças em grande número, cujo destino coloca em xeque o próprio sentido e o próprio conceito de humanidade e civilização, evidentemente não é um caso que diga respeito unicamente ao Brasil.
Esse crime, que pode ser classificado como "o crime do século", coloca em dúvida a dignidade do próprio homem enquanto espécie. Remete a raça humana ao mais rasteiro patamar da evolução planetária.
Acredito que, com a dimensão que o caso vem ganhando na imprensa internacional, logo teremos alguma "cruzada internacional contra o tráfico de crianças" ou coisa do gênero. Os homens bons, do mundo todo, com certeza vão reagir.
No âmbito estritamente brasileiro, Sr. Presidente, é preciso que gritemos aos quatro cantos do País contra essa maldade sem limites. É preciso unir toda a nossa sociedade numa cruzada contra esse crime hediondo.
Todas as forças vivas da sociedade brasileira: as lojas maçônicas; os clubes de serviços; as associações de classe; os grêmios esportivos e estudantis; as associações de moradores; as cooperativas, as congregações religiosas de todos os cultos, o Governo em todas as suas esferas; enfim, tudo o que congrega homens e mulheres nessa terra de Tiradentes precisa dar-se as mãos para extirpar esse cancro do nosso meio, para combater esse "crime do século".
Nesse sentido, não posso deixar de reconhecer e destacar o magnífico trabalho que vem desenvolvendo a imprensa brasileira.
A série de reportagens publicadas pelo Jornal Correio Braziliense, relativas ao desaparecimento de crianças em Brasília, no Entorno e adjacências, valeu à jornalista Ana Beatriz Magno da Silva o prêmio Rei da Espanha de Jornalismo Ibero-Americano, entregue em Madrid, esta semana.
De grande alcance e inegável utilidade pública tem sido igualmente a ação da Rede Globo em relação ao caso. A importância que a emissora vem dando ao tema tem sido exemplar. A tragédia das crianças desaparecidas passou sutilmente a integrar o roteiro da novela "Explode Coração", que, além de mostrar o drama de uma mãe que tem o filho raptado, presta um serviço extraordinário à comunidade, exibindo, ao final do programa, as fotografias com nomes de um sem número de crianças desaparecidas.
É uma maneira criativa, inteligente e eficaz de tratar a questão. Graças a essa idéia genial dos produtores e diretores da Rede Globo, duas crianças já foram localizadas por suas mães. São atitudes como esta da Rede Globo que nos deixam esperançosos. O exemplo de emissora de televisão do Dr. Roberto Marinho deveria ser seguido pelas demais televisões do País.
Para finalizar, Sr. Presidente, só tenho uma conclamação a fazer: união. União de todos os homens e mulheres de bom coração deste País contra esse crime que envergonha, deprime e entristece toda a humanidade.
Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.